Por que poucas mulheres se interessam pelo Objetivismo?

Foi me feito o desafio de responder à seguinte pergunta: por que poucas mulheres se interessam pelo Objetivismo? A origem do questionamento está no fato de que a interação do público feminino em páginas objetivistas nas redes sociais brasileiras é muito baixa, oscilando entre 5% e 10%. Não pretendo aqui chegar a conclusões definitivas, mas apenas levantar algumas hipóteses para esse fenômeno, até porque sempre estive no grupo contrário, das que se interessam.

A primeira hipótese que levantei é a do puro desconhecimento. Apesar de ter se popularizado nos Estados Unidos, o Objetivismo não se espalhou na mesma proporção para o resto do mundo. Enquanto a página do Ayn Rand Institute dos Estados Unidos chega a 80 mil curtidas, a do europeu não passa de 4 mil e a página objetivista com mais curtidas no Brasil não chega a 20 mil. Além disso, um dos principais meios de propagação do Objetivismo são os romances de Ayn Rand, vendidos com o apelo de que “todo grande empresário deveria ler”. Se considerarmos que as mulheres ocupam apenas cerca de 10% dos cargos de CEO no Brasil e 37% dos cargos de direção e gerência, constataremos que elas não se enquadram no público-alvo de vendas dos livros.[1]

Passando para próxima etapa e assumindo que as mulheres tiveram acesso e conheceram o Objetivismo, por que elas não gostaram ou não se interessaram? A Revolta de Atlas foi considerado o livro mais influente nos Estados Unidos depois da Bíblia, segundo a biblioteca do Congresso americano. Isso é curioso, pois a moral cristã é basicamente oposta à moral objetivista. No Brasil, mais de 64% da população é católica enquanto apenas 8% se considera sem religião. Assim, por uma questão cultural, é difícil que um brasileiro médio se interesse por uma filosofia e uma filósofa que afirmam que Deus não existe e que cada individuo é responsável pela sua própria felicidade.[2]

Minha terceira hipótese é mesma utilizada por muitos socialistas para defender Marx: Ayn Rand foi mal-interpretada. Apesar da clareza e da lógica presentes em todos os seus escritos e entrevistas, suas escolhas semânticas soam “politicamente incorretas” demais para a maioria das pessoas, que acabam rechaçando-a de cara, não tentando entender a sua filosofia. A palavra egoísmo, muito utilizada pela autora, é um ótimo exemplo disto. Experimente dizer para uma mãe, que o amor que ela sente pelo filho é egoísta.  Além disso, como a maioria das pessoas acaba conhecendo o objetivismo através das histórias de ficção, e não de livros técnicos, a interpretação acaba dependendo muito dos valores de quem lê.

A quarta hipótese que gostaria de levantar tem a ver com a construção de líderes e heróis que despertam o interesse e a simpatia das pessoas. Apesar de Dagny ter um papel central em A Revolta de Atlas o herói principal é John Galt. Em A Nascente, é Howard Roark. A própria Ayn Rand poderia preencher esse espaço, visto que ídolos reais surtem ainda mais efeito. No entanto, apesar de sua história de vida interessantíssima, a verdade é que a autora nunca fez questão de promover sua imagem, dando prioridade sempre para sua filosofia. Assim, existe um certo gap de heroínas no Objetivismo que se preenchido talvez chamasse mais a atenção das mulheres. Ressalto que, para mim, O fato de os heróis serem homens ou mulheres não faz diferença alguma: o que faz a diferença são os seus valores. Para o público feminino em geral talvez esse seja um ponto relevante.

Outra hipótese relevante é a de que o Objetivismo vai totalmente de encontro ao feminismo praticado nos dias de hoje. Enquanto a filosofia de Ayn Rand defende que cada indivíduo, independentemente do sexo, deve utilizar sua razão para atingir seus objetivos por seus próprios méritos, as feministas pedem a intervenção governamental para garantir “direitos” compensatórios pelo tempo que supostamente as mulheres foram “vítimas de uma sociedade machista patriarcal”. Ora, o que é mais fácil, lutar pelo seu próprio sucesso ou colocar a culpa nos outros e pedir ajuda do governo?

Por fim, uma última hipótese que me ocorreu é que talvez o desinteresse feminino não seja pelo Objetivismo em si, mas pela filosofia de uma maneira geral. Um dado que achei a respeito é que de todos os cursos de ciências humanas da Inglaterra, o de filosofia é o único que não possui mais de 25% do seu público compostos por mulheres.[3] Mas mesmo que tivéssemos um número relevante de mulheres cursando filosofia no Brasil, correríamos o mesmo risco do curso de economia em que existem diversas cadeiras para se falar de socialismo e intervencionismo enquanto a Escola Austríaca não é nem citada.

Como disse anteriormente, meu objetivo neste artigo era apenas levantar algumas suposições. Independentemente do interesse feminino pelo objetivismo o foco de quem acredita nesta filosofia deve ser espalhá-la cada vez mais, para que possamos viver em um mundo mais egoísta, individualista, meritocrático e racional, sem sermos mal interpretados.

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Revisão de Matheus Pacini

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[1]Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/mulheres-estao-em-apenas-37-dos-cargos-de-chefia-nas-empresas-21013908

[2]CENSO DEMOGRÁFICO 2010. p.92. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/94/cd_2010_religiao_deficiencia.pdf

[3]Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/08/1662349-a-filosofia-tem-algum-problema-com-as-mulheres.shtml

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