Ayn Rand dedicou sua vida à criação de uma filosofia que enfatiza a moralidade da produção. Não obstante, Conor Lynch do Salon escreveu um artigo no semestre passado acusando-a de considerar a classe trabalhadora como “parasitária”. Qualquer leitor honesto de sua obra saberia que ela pensava justamente o contrário.
Isso porque Rand considerava o trabalho em si como um esforço produtivo e moral. Em sua visão, quem usa sua mente para criar valor é um produtor – um “trabalhador”, em termos fundamentais. Como evidência, considere sua descrição de trabalho como uma atividade virtuosa:
“Produtividade é a aceitação da moralidade, o reconhecimento do fato de que vocês optam por viver; de que o trabalho produtivo é o processo por meio do qual a consciência do homem controla sua existência, um processo constante de aquisição de conhecimento, um dar forma à matéria para adequá-la aos objetivos que se tem, um processo de traduzir uma ideia em forma concreta, um refazer da Terra à imagem dos valores que se tem.”
Seu ponto aqui é que quem produz reconhece que não conseguirá nada de bandeja (nem da natureza, nem de ninguém); que sua vida e felicidade requerem uma seleção cuidadosa de objetivos (incluindo a escolha de uma carreira) e a persecução desses com muita dedicação. Para Rand, o verdadeiro trabalhador encara a vida dessa forma louvável.
Por exemplo, considere os trabalhadores envolvidos na construção de um arranha-céu. Todo mundo – desde o arquiteto e o engenheiro até o servente – tem uma vida própria para viver – e abraça o projeto de construção com vistas à busca daquela vida. O arquiteto, por sua vez, sempre sonhou em construir arranha-céus. Mas, talvez, a situação do engenheiro seja diferente – talvez, sua verdadeira paixão seja a música, e ele usa seu talento em engenharia para financiar seu curso de canto. E, talvez, o servente só viva de salário a salário, e só queira trabalhar para sobreviver. Independentemente das circunstâncias, cada trabalhador envolvido no projeto reconhece sua necessidade básica de alguma forma de trabalho produtivo, e define fazer algo de sua vida. Os três tipos de trabalhadores se encaixam na definição de Rand.
É claro, todos temos diferenças pessoais e circunstanciais que impactam o que, quanto, como e quando podemos produzir. Nosso arquiteto pode ter nascido em berço de ouro, estudado nas melhores escolas e, hoje, fazer parte da empresa de arquitetura do pai. Nosso engenheiro pode ter desenvolvido o tipo de inteligência matemática que facilitou o seu sucesso na carreira. Ou, talvez, nosso servente, embora de origem humilde e, em primeiro momento, incapaz de frequentar a faculdade ou se especializar além do trabalho manual, trabalhou incessantemente para superar a pobreza de sua família. Apesar dessas diferenças, são da mesma espécie. Ayn Rand completa: “Seja uma sinfonia ou uma mina de carvão, todo trabalho é um ato de criação que vem da mesma fonte: a capacidade íntegra de ver com os próprios olhos, ou seja, a capacidade de realizar uma identificação racional, isto é, a capacidade de ver, relacionar e fazer o que antes não era visto, relacionado nem feito.” Para Rand, o nível da habilidade ou riqueza de uma pessoa não tem influência em sua classificação como “produtor” – o que importa é que ele pensa e faz algo com sua vida.
Como capitalista radical, Rand reconheceu e celebrou o fato de que quase todo trabalho hoje se dá em um contexto social. Para ela, trabalhadores não eram só pensadores – mas também comerciantes, defendendo expressamente o livre comércio (em oposição à força/coerção) como o meio básico e apropriado para aumentar seu padrão de vida. O servente, por exemplo, troca seu tempo, força e esforço mental pela compensação monetária de seu empregador, sabendo que um trabalho de boa qualidade levará a aumentos salariais e, possivelmente, promoções. Esse é o tipo de relação ganha-ganha que permite a prosperidade dos trabalhadores – troca é o oposto de exploração.
Está claro que, ao contrário da deturpação de Lynch, Rand tem uma visão positiva dos trabalhadores: comerciantes produtivos. Mas nem todos os trabalhadores estão à altura desse padrão. Com efeito, algumas pessoas até mesmo rejeitam essa abordagem ao trabalho.
Pense no funcionário que não leva a sério o seu trabalho, ou que tenta enganar o seu chefe fazendo o mínimo para não ser demitido, ou que busca lucrar do que não produziu. Ao contrário de nosso servente, que se esforça para ter sucesso por meios honestos, esses tipos de funcionários fazem o que podem para se eximirem da responsabilidade de produzir. Para Rand, na medida em que esses fogem do trabalho e vivem dos esforços produtivos dos outros, não podemos considera-los trabalhadores – mas, sim, parasitas.
Apesar dos ataques constantes da Salon, esse é o único tipo de “trabalhador” que Ayn Rand condenou, e já é hora de ela ser apreciada por sua verdadeira perspectiva: uma postura singular pró-trabalhador que celebra todos aqueles que escolhem pensar, produzir e tirar o máximo de suas vidas.
__________________________________________
Traduzido por Matheus Pacini
Publicado originalmente em The Undercurrent
Curta a nossa página no Facebook.
Inscreva-se em nosso canal no YouTube.
__________________________________________