A laicidade do Estado é quebrada quando o próprio governo nos pede para ter fé nas urnas eletrônicas.
Ele nos obriga a confiar no voto platônico, essa projeção da realidade na qual querem que acreditemos, mas que não podemos confirmar com nossos próprios olhos, como se estivéssemos acorrentados na Caverna de Platão: é a quintessência do apriorismo dogmático racionalista, uma nova religião.
Darem ar de axioma a algo que não é autoevidente, indivisível ou verificável é um atentado contra a própria razão, logo, contra o próprio objeto da existência do Estado.
O eleitor comum não quer auditar sistemas informatizados, nem sabe o que isso significa.
O eleitor comum não quer depender dos partidos políticos para saber em quem ele acabou de votar.
O eleitor comum quer apenas ver, ali na sua frente, no momento da votação, seu voto impresso materializado num papel, que será colocado numa urna coletora, e ficará à disposição de quem quiser auditá-la, sob a custódia da justiça eleitoral.
O voto, como manifestação de vontade numa eleição, não pode ser confundido com um ato de fé, uma singularidade transcendental.
O voto é apenas uma manifestação cívica, e não religiosa, mesmo que, muitas vezes, pareça conter elementos irracionais.
Urnas eletrônicas são necessárias para se agilizar a contagem dos votos, mas velocidade, nesse caso, não é a única virtude demandada do processo eleitoral: diria, até, que ela nem mesmo é essencial.
Urnas eletrônicas com voto impresso unem a velocidade do método digital com a possibilidade da auditagem e averiguação a partir de uma base palpável.
Quando somos obrigados a votar, o mínimo que se pode querer é que garantam o nosso direito de exercermos a liberdade de nos expressarmos para escolher se queremos ser governados por bandidos, tiranos ou libertadores.
Quando há tantos interesses em jogo, e o resultado pode nos transformar em vítimas, acreditar religiosamente em que nos dizem deveria estar fora de cogitação.
Nossa vida não é uma alegoria.
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Revisão de Matheus Pacini.
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