Quando eu digo “sucesso na Terra”, refiro-me à uma vida de realização, e não às “conquistas” eventuais que comprometem a sua vida no longo prazo. Apenas as conquistas que promovem a vida são objetivamente valiosas.
Por quê?
Precisamos parar e responder à questão: o que é “valioso” (ou, o que é “valor”)?
Valioso é o que me ajuda a alcançar/realizar algo. Meu carro é valioso por me levar à cafeteria; para tal, o meu computador não é. Valioso pressupõe ação para realização de um objetivo. Mas quais metas objetivas posso ter? Um carro é objetivamente valioso para ir até a cafeteria, mas isso não é uma meta subjetiva? Precisamos de uma meta objetiva: determinada pela realidade, e não por capricho arbitrário.
Fiquem tranquilos, temos uma meta objetiva. Encontramo-la ao perguntar: por que precisamos de valores?
O que são valores? Por que necessitamos deles?
Valores são coisas que me esforço para obter e manter. Comida, moradia, carreira, relacionamentos, CDs – coisas essas que busco e mantenho, da mesma forma que as virtudes que permitem meu sucesso. O campo da ética trata exatamente disso: que coisas (materiais ou imateriais) devo buscar? Quais traços e ações me permitem obtê-las?
Por que necessitamos de valores? Afinal, para que servem valores e virtudes?
Preciso deles para viver, e nada mais. É só porque estou vivo e necessito de certas coisas para sobreviver que eles importam. Eles são bons na medida em que me ajudam a viver.
Eu não preciso de valores para morrer: tudo que preciso fazer é parar, ou seja, nenhum tipo de orientação é necessária.
Mas só preciso de valores se eu for mortal. Se eu fosse imortal, não precisaria de valores. Por que importa se como ou passo fome, sinto dor ou prazer? Qualquer alternativa é aceitável. Não há nenhuma razão para preferir uma a outra, tampouco necessidade de orientação.
É só porque estou vivo, e sobreviver requer um curso de ação específico, que posso afirmar que X é mais ou menos valioso. O alimento é valioso porque o necessito para sobreviver. Da mesma forma, a moradia.
E não menos importante, a verdade.
A necessidade de sustentar a vida dá origem aos valores: esse é o seu propósito, o padrão último pelo qual julgamos algo valioso ou não. A pergunta “a verdade é objetivamente valiosa?” tem significado similar à pergunta “a verdade me ajudará a alcançar a vida?” A pergunta “o sucesso na Terra é objetivamente valioso?” tem significado similar à pergunta “o sucesso na Terra me ajuda a alcançar a vida?”
Ao escolher a vida [e não a morte], as coisas que consideramos valiosas não podem ser decididas por capricho, mas sim à luz da realidade e da natureza do homem. Elas têm de julgadas contextualmente, pois as coisas não são intrinsicamente valiosas, desprovidas de qualquer relação com o ser consciente que as necessita – mas isso não significa que qualquer coisa que escolho é, de fato, valiosa. Tenho o direito de ingerir veneno, porém o fato de que ele não me ajudará a alcançar a vida não muda – a realidade é – não importa a minha opinião.
A escolha de viver
Mas a escolha de viver não é arbitrária? Que razão temos para escolher viver?
Essa pergunta não tem lógica.
A lógica existe em um domínio: a existência. Sua função é entender a realidade [o que é], e seu propósito é nos ajudar a lidar com a realidade. (Como a Ética, não é necessária para morrer). É dentro desse contexto – realidade e a busca por entendê-la – que a lógica existe e é usada; o uso da lógica pressupõe a realidade. Conceitos como “objetivo”, “subjetivo” e “arbitrário” pressupõem a lógica, que pressupõe a realidade.
Você não pode logicamente escolher um domínio que nega a própria fundação da lógica, ou usar os produtos da lógica para descrever tal escolha. Eu não posso subjetivamente escolher a não-existência: estou escolhendo o domínio no qual termos como “objetividade” e “subjetividade” nem mesmo existem.
Escolho a realidade – escolho a lógica – e, portanto, estou no domínio no qual termos como “objetivo” e “arbitrário” existem e podem ser aplicados.
A realidade é, como o é a escolha de aceitá-la.
Resumindo, o sucesso na Terra é objetivamente valioso porque a vida na Terra é objetivamente valiosa. Tão logo escolhemos a realidade, voltamos à necessidade de cumprir certas metas e agir para sobreviver, necessidades que não podemos desconsiderar ou satisfazer por qualquer meio arbitrário. O conceito de “valor” só existe dentro do contexto dessas necessidades, as quais estabelecem o padrão do que é valioso ou não. A vida é objetivamente valiosa porque dá origem à necessidade de valores.
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Revisado por Matheus Pacini
Publicado originalmente no blog do autor.
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