A interdependência é o estado de um grupo no qual a remoção ou destruição de uma parte (subconjunto) do grupo resulta necessariamente na destruição de todos os membros restantes.[1]
Um exemplo de interdependência é o conjunto dos principais órgãos do corpo humano. Tomados como unidades, cérebro, coração e pulmões são interdependentes: remover ou destruir um deles implica destruir os outros. Outro exemplo de interdependência é o sistema de castas entre insetos eussociais como abelhas, formigas e cupins. A casta reprodutiva e a casta operária são necessárias para manter a colmeia produtiva e viva.
Sob a divisão do trabalho, uma sociedade de seres humanos assume uma aparência superficial de interdependência. Em geral, pessoas diferentes desempenham trabalhos diferentes e dependem de outras para adquirir matérias-primas e comercializar. Mas, ao contrário de sistemas verdadeiramente interdependentes, os indivíduos de uma sociedade podem fazer um julgamento independente e trocar de emprego. O emprego de um indivíduo não é registrado em seus genes, mas escolhido livremente por ele. As pessoas podem e são promovidas, mudam de emprego, mudam de carreira, etc. Em um livre mercado, as empresas podem e devem se expandir para novos campos de negócios.
Suponhamos que, em uma sociedade capitalista laissez-faire, todos que realizassem algum trabalho produtivo fossem repentinamente demitidos, ainda assim seria possível, para outros profissionais, assumirem o cargo e manter uma divisão de trabalho similar. Por certo tempo, esse fato repentino geraria grandes dificuldades, mas o mito da interdependência cairia por terra quando a maioria dos indivíduos se descobrisse capaz de se adaptar e sobreviver (para não falar que, de fato, em uma sociedade capitalista, algumas ocupações se tornam obsoletas sem ninguém perceber. Em contraste, se o tecido pulmonar fosse gradualmente removido de seu corpo, ficaria cada vez mais difícil para que seus outros órgãos funcionassem, e seu coração não se transformaria em tecido pulmonar).
Além disso, nem todas as atividades que os outros indivíduos fazem em uma sociedade tem valor para um determinado indivíduo. Na verdade, certas práticas são até mesmo prejudiciais, como esquemas desonestos, pirâmides financeiras e roubo. Uma vez que cada indivíduo tem livre-arbítrio – isto é, a escolha de pensar ou não, de julgar ou não, e a capacidade de destruir a si e aos outros – cabe ao indivíduo, por si só, separar o joio do trigo. Outras pessoas não podem ser mescladas em uma massa disforme, muito menos serem consideradas críticas para a sobrevivência umas das outras. (Fatos observáveis refutam essa noção coletivista.)
Se um indivíduo é fisicamente ferido a ponto de dano mental ou demência, então, ele pode se tornar genuinamente dependente de outros indivíduos que cuidam dele. Mas essa dependência metafísica tem apenas um sentido: o ferido é dependente do ileso, e não vice-versa. Não há “interdependência” aqui.
Seres humanos normais, saudáveis e adultos são criaturas fundamentalmente independentes, e afirmações em contrário são espúrias. Só ouvi vagas afirmações de “interdependência” vindas das pessoas. Nunca ouvi uma definição precisa de “interdependência”, embora isso seja um pré-requisito para qualquer argumento racional sobre se uma sociedade de seres humanos é ou não “interdependente”.[2]
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Publicado originalmente em Objectivism in Depth.
Tradução de Hellen Rose.
Revisado por Matheus Pacini.
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[1] Esta é a interdependência existencial – ou seja, interdependência para existência continuada como entidades de uma determinada classe. As definições comuns de “interdependência” e “dependência” são filosoficamente vazias
[2] As definições do dicionário não ajudam: “interdependente – mutuamente dependente; dependendo um do outro”. “Dependente – confiar em alguém ou algo para obter ajuda, suporte, etc.” [Dicionário Webster’s College, 1996]. Confiar, de que forma? Ajuda de quem? O que acontece se o apoio não vier? Essa definição é filosoficamente inútil, uma vez que pode abranger tudo, desde uma consulta média para remover uma verruga, até ser alimentado por um tubo porque está paralisado para o resto da vida. A definição necessária é de (inter-) dependência metafísica, que é filosoficamente significativa, e é a definição que dei no início deste artigo.