Assim como os seres humanos, os governos também são compostos por corpo e mente, concreto e abstrato. O corpo de um governo são os indivíduos e seus bens materiais.
Sob a ótica da economia, em se tratando de governo, pessoas e bens materiais são considerados gastos: para cobri-los, o governo se vale de taxas e impostos. A única maneira de diminuir os gastos do governo é reduzindo pessoal e ativo imobilizado. Nesse caso, a redução que poderia ser obtida diz respeito aos valores absolutos despendidos.
Quando pensamos na redução relativa dos gastos governamentais, devemos pensar: relativo a quê? Obviamente, relativo ao que a sociedade produz. Afinal, é dessa produção que se originam os recursos para cobrir os gastos do governo. É nesse ponto que se torna importante o componente abstrato do governo. Qual seria esse componente? Nada mais que o uso da coerção que impede os indivíduos, isolada ou associadamente, de empreender, exercitando a livre iniciativa para criar, produzir e comerciar os valores que geram riqueza.
O efeito que o uso potencial da coerção contra indivíduos em uma sociedade, quando esses querem apenas criar e produzir valor, tem um poder deletério cujo resultado é exatamente o da não materialização daquilo que eles gostariam de criar e produzir para si e para os demais com vistas ao lucro. O poder coercitivo usado como força anticapitalista é um fantasma que assombra as sociedades submetidas a uma mentalidade coletivista-estatista que emplaca governos hipertrofiados que se tornam um peso para aqueles que são obrigados a carregá-los nas costas.
Infelizmente, há uma enorme miopia na compreensão do poder multiplicador de riqueza que a liberdade econômica pode proporcionar para uma sociedade, inclusive para o próprio governo. Se o governo, em vez de inibir o crescimento do setor produtivo com regulações e taxações que institui para controlar e parasitar quem produz, liberasse a força da livre iniciativa e protegesse a propriedade privada, receberia muito mais recursos em termos absolutos e tomaria muito menos em termos relativos do setor produtivo da sociedade.
A criação de riqueza se dá, de forma constante e crescente, nos ambientes onde é ampla a liberdade para inovar, investir, empreender, contratar, produzir, comerciar e consumir. A sociedade prospera onde o uso da coerção por parte do governo se destina exclusivamente a combater a violência, tendo o objetivo de permitir que os indivíduos criativos, inovadores e produtivos sejam capazes de agir de acordo com seus próprios julgamentos, realizar seus próprios propósitos (através do seu próprio esforço), oferecendo, assim, oportunidades e valor para os outros.
Um governo que usa a coerção para regular e taxar a livre iniciativa e a propriedade privada, penalizando a criação de riqueza e dificultando a geração de valor, torna-se um fardo que sociedade alguma é capaz de suportar por muito tempo sem perder a dignidade.
__________________________________________
Publicado originalmente em Gazeta do Povo.
Revisado por Matheus Pacini.
Curta a nossa página no Facebook.
Inscreva-se em nosso canal no YouTube.
__________________________________________