O capitalismo leva ao empobrecimento das relações humanas?

GC: Não é incomum ouvir acadêmicos pós-modernistas dizer que o capitalismo moderno, com seu mercado “frio e impessoal”, leva ao desencanto e empobrecimento das relações humanas, em contraste com toda a magia e ressonância moral e sentimental dos “presentes recíprocos” dos selvagens. Em sociedades primitivas, as trocas não têm caráter primariamente econômico, mas sim significância social e religiosa, mágica e econômica, utilitária e sentimental, legal e moral. Os modos de troca mais abstratos, puramente “econômicos”, encontrados na sociedade moderna, tornam a vida social mais superficial, e menos benevolente; eles levam a uma existência psicologicamente superficial e mesquinha.

Qual é a sua opinião sobre essa visão comumente defendida?

SH: pós-modernistas compartilham esse sentimento com muitos conservadores, feudalistas e tribalistas.

É claro, boa parte da eliminação do pensamento mágico e sentimentalista se deu devido à ciência moderna e à engenharia, as quais surgiram em simbiose com a moderna economia liberal.

A importância do capitalismo de livre mercado é que concede às pessoas uma ampla variedade de trocas possíveis. Nada impede alguém de “ritualizar” a sua experiência de consumo – por exemplo, como muitos fazem ao ir à quitanda nas manhãs de sábado, onde socializam e comprar frente a frente, desfrutando as particularidades da comunidade local e seus costumes. Da mesma forma, nada impede alguém de comprar no hipermercado. A escolha é individual.

Mas ter a opção de escolha é muito gratificante, por duas razões:

Se a ampla gama de opções disponibilizada pelo livre mercado é, de fato, eficiente, gera economia de tempo e dinheiro. Alguém pode investir tal tempo e dinheiro em outros valores que são, para você, igualmente importantes. Suponha que o hipermercado impessoal lhe ajuda a poupar 1h de tempo e US$ 30 – logo, você usará tal tempo e dinheiro prestigiar um concerto musical – sua vida terá sido enriquecida, e não o contrário.

É também gratificante porque, se você escolher, em vez disso, o mercado local e personalizado, então, esse se fortalece por você tê-lo escolhido. É uma escolha individual, não condicionada pelo seu local de nascimento ou pela cultura que o rodeia.

Há muito tenho uma suspeita de que o desconforto sentido pelos críticos é, na verdade, um desconforto profundo para com a responsabilidade total individual pela vida, exigida pelo liberalismo. Sociedades tribais, feudais ou coletivizadas fazem as escolhas por você – às vezes, por condicionamento e restrições explícitas; noutras, simplesmente, por elas não serem capazes de gerar a mesma gama de possibilidades encontrada nas sociedades liberais.

Muitos críticos querem significado e valor sem esforço – que, de alguma forma, o valor profundo de sua vida seja exterior e que, de alguma forma, o indivíduo seja absorvido por ele.

O oposto é verdadeiro: a significância genuína é produto da escolha e compromisso – em relacionamentos românticos, familiares, econômicos e estéticos. A vida que tem significado é aquela que escolhemos.

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Traduzido por Matheus Pacini

Publicado originalmente no site oficial do autor.

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