O abismo entre as ciências físicas e as ciências humanas: reflexão sobre a missão Apollo 11

“Hoje (1969), a questão que mais ouvimos é: por que os homens foram capazes de ir à Lua, mas são incapazes de resolver seus problemas políticos e sociais? Essa questão explicita o abismo entre as ciências físicas e as ciências humanas. O voo da Apollo 11 deixa a resposta óbvia: porque, com respeito aos problemas sociais, os homens rejeitaram o único meio que tornou possível o pouso lunar, e para solucionar qualquer problema: a razão.

No campo da tecnologia, os homens não podem usar os tipos de processos mentais demonstrados por algumas das reações à missão Apollo 11. Nesse campo, não há irracionalidades grosseiras tal como concluir que, pelo fato de a humanidade ter se unido em entusiasmo pela missão, ela pode se unir por qualquer coisa (como se a capacidade de união fosse um ponto primário independente de propósito ou causa). Não há, em tecnologia, evasões de tal magnitude como o coro atual de slogans que dizem que a missão Apollo 11 deve, de alguma forma, conduzir os homens à paz, à boa-vontade e à visão da humanidade como uma grande família. Que família? Com 1/3 terço da humanidade escravizada sob o domínio inefável da força bruta, devemos aceitar tiranos como membros da família, fazer as pazes com eles, sancionando o destino terrível das vítimas? Se assim for, por que as vítimas devem ser expulsas dessa grande família humana? Os palestrantes não dão resposta. Mas a resposta implícita deles é: poderíamos fazer isso funcionar de alguma maneira, se assim quiséssemos!

Em tecnologia, os homens entendem que nem todos os desejos e as orações do mundo mudarão a natureza de um grão de areia.

Não ocorreria aos construtores de uma espaçonave selecionar seus materiais sem o mais minucioso e exaustivo estudo das suas características e propriedades. Mas, nas ciências humanas, todo tipo de esquema ou projeto é proposto e levado adiante sem nenhum momento dedicado ao pensamento ou estudo da natureza do homem. Nenhum instrumento foi instalado a bordo da espaçonave sem um completo conhecimento das condições requeridas para o seu funcionamento. Nas ciências humanas, todos os tipos de exigências impossíveis e contraditórias são impostas ao homem, sem nenhuma preocupação pelas condições exigidas por sua existência. Ninguém destruiria os circuitos elétricos de uma espaçonave, afirmando: “funcionará se ela quiser que funcione!” Essa é a política padrão em relação ao homem. Ninguém escolheria um tipo de combustível para a Apollo 11 porque “sentiu vontade”, ou ignoraria os resultados de um teste porque “não sentiu vontade”, ou programaria um computador com um arrazoado de absurdos aleatórios e incoerentes dos quais “não sabe o porquê.” Esses são os procedimentos e os critérios aceitos em ciências humanas. Ninguém tomaria uma decisão que afetasse a espaçonave por pressentimento, capricho, ou “intuição” repentina e inexplicável. Nas ciências humanas, esses métodos são considerados superiores à razão. Ninguém proporia um novo design para a espaçonave, meticuloso em todos os detalhes, exceto por qualquer provisão para foguetes ou meio de propulsão. É prática padrão nas ciências humanas planejar e projetar sistemas sociais que controlam todo aspecto da vida do homem, exceto que nenhuma provisão é feita quanto ao fato de que o homem possui uma mente, e que sua mente é o seu meio de sobrevivência. Ninguém sugeriria que o voo da Apollo 11 fosse planejado segundo as regras da astrologia, e seu curso traçado segundo as regras da numerologia. Nas ciências humanas, a natureza do homem é interpretada de acordo com Freud, e o seu curso social é prescrito por Marx.

Mas – protestam os praticantes das ciências humanas – nós não podemos tratar o homem como um objeto inanimado. A verdade é que o tratam como menos que um objeto inanimado, com menos preocupação e respeito por sua natureza. Se eles concedessem à natureza do homem uma pequena fração do estudo meticuloso, racional, que os cientistas agora concedem à poeira lunar, estaríamos vivendo em um mundo melhor. Não, os procedimentos específicos para estudar o homem não são os mesmos que os utilizados no estudo de objetos inanimados – mas os princípios epistemológicos, sim.

Nada na Terra ou no espaço está fechado ao poder da razão do homem. Sim, a razão pode resolver os problemas humanos.

Essa é a lição fundamental a ser aprendida com o triunfo da Apollo 11. Esperamos que alguns homens a apreenderão. Mas ela não será apreendida pela maioria dos intelectuais de hoje, posto que a essência e o motor de todos os seus construtos é a tentativa de estabelecer a tirania humana como uma fuga do que eles chamam de “‘tirania’ da razão e da realidade.”

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Publicado originalmente em The Voice of Reason.

Traduzido por Breno Barreto.

Revisado por Matheus Pacini.

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