Um erro comum – especialmente entre libertários – é pensar que existe alguma forma de padrão moralmente “neutro” com o qual julgar se uma política pública é ou não é boa.
O raciocínio funciona mais ou menos assim: “Não importa em que você acredita, a política X é objetivamente boa porque gera prosperidade para todos”. A prosperidade – assim como a paz, a saúde, ou qualquer outro bem aparentemente inquestionável – é um objetivo extremamente controverso. Na verdade, arrisco-me a dizer que a maioria das pessoas não os considera, realmente, valores.
Veja o caso da moralidade judaica-cristã-islâmica, por exemplo. O objetivo primário de alguém que crê em uma vida eterna após a morte não é ter uma vida próspera, pacífica e saudável, mas ser salvo e ter um lugar no Reino de Deus, ou Paraíso. Sofrimento temporário versus felicidade eterna é uma escolha fácil. Se a prosperidade gera o crescimento de crenças “pecaminosas” – como geralmente é o caso – então ela é uma alternativa pior do que uma pobreza digna. Se a paz possibilita que os hereges floresçam, ou tenham um pedaço de terra sagrado qualquer – como geralmente é o caso – então, ela é uma alternativa pior do que a guerra santa. Se a saúde vem como consequência da rejeição de um dogma religioso (como restrições alimentícias irracionais ou a mutilação genital de crianças), então, ela não é um valor.
Aqueles que pretendem argumentar que essa é uma característica exclusiva da religião, precisam apenas olhar para a moralidade fascista-socialista-progressista para encontrar evidência do contrário. A guerra revolucionária é melhor que uma paz que preserva as instituições burguesas. A pobreza e a miséria são melhores que a prosperidade, se essa prosperidade enfraquece o espírito da nação. Critérios médicos, tanto físicos quanto psíquicos, não são um valor tão importante quanto os sentimentos de uma pessoa doente – basta ver as tentativas contemporâneas de normalizar a obesidade e a disforia de gênero.
Não existe uma “sociedade universalmente boa”, independente de ideias morais específicas. Existem apenas sociedades baseadas em ideias morais, que, por sua vez, são objetivamente boas ou más – com a vida do homem enquanto ser racional como o padrão.
“Repito: não há um critério amoral para boas políticas públicas – como a paz ou o progresso econômico. A afluência material não é um padrão apropriado para medir a felicidade, seja em um contexto social ou individual.”
O homem é um animal. Tem certas necessidades físicas que precisam ser supridas para garantir tanto a sua sobrevivência quanto a sua felicidade. O homem é um tipo específico de animal – um animal racional. Por causa disso, além de suas necessidades físicas, tem necessidades mentais e espirituais: precisa desenvolver valores, concretizando-os através de suas ações. Um homem com comida na barriga não é necessariamente feliz – um homem feliz deve estar bem-alimentado, mas também deve ter orgulho de si e de suas ações.
A prosperidade econômica – seja ela medida em termos de dinheiro, poder de compra, produtividade marginal ou quaisquer outras formas – se refere unicamente à quantidade de coisas que uma pessoa possui. Desdenhar dos bens materiais é fundamentalmente mal, e geralmente um sinal de loucura – mas considerá-los fora do contexto em que estão inseridos também é um erro. Como esse bem foi produzido? Como foi adquirido? Como é possível usá-lo? Qual o fim-último que você busca com o uso desse bem?
Um ladrão é incapaz de alcançar a felicidade usando os bens que adquiriu através da força – ele não os merece, não sabe como aproveitá-los e é incapaz de direcionar seu uso para um propósito coerente. Alguém que herda mais dinheiro do que merece está condenado a uma vida miserável – à mera manutenção de seu patrimônio lhe é um fardo insuportável, e ele será capaz de almejar apenas os prazeres mais decadentes e autodestrutivos.
O mesmo é verdadeiro para sociedades. A vida em países como o Japão e a Suécia, onde é fácil conseguir bens materiais, porém as leis e as regras de conduta social impedem que um indivíduo concretize os seus valores particulares, é absolutamente horrível – e suas taxas incrivelmente altas de suicídio evidenciam isso.
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Revisado por Matheus Pacini.
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