Culto ao mercado: a mola propulsora da riqueza humana

Imaginem-se em um grande hipermercado americano nos anos 1960, vendo a vastidão de opções de produtos, de marcas concorrentes e de ofertas diferenciadas à sua mão, prontos para consumo. Agora, imagine-se na União Soviética (URSS), trocando os cupons recebidos pelo seu trabalho compulsório pelos produtos de baixa qualidade e tecnologia produzidos nas fábricas do Estado: o próprio Hobsbawm, conhecido historiador marxista do século XX, definiu em seu livro A Era dos Extremos que no país socilista era comum encontrar produtos de má qualidade, defeituosos e padronizados.

É fato que, ao analisarmos a história, perceberemos que a humanidade nunca viveu um período de tamanha fartura e qualidade de vida como hoje. No capitalismo, a medicina evoluiu, tornando-se um mercado bilionário de medicamentos que viabiliza curas para doenças, a tecnologia atingiu patamares nunca antes imaginados, tornando efêmeros os livros futuristas dos anos 1950 e 1960 frente à realidade dos anos 2000. Imagine uma vida sem energia elétrica, sem refrigeração de alimentos, sem comunicação instantânea: essa era a vida antes do capitalismo. Ao invés da grande maioria da humanidade viver na miséria, hoje vivemos num panorama totalmente inimaginável antes de 1800: problemas gerais de obesidade – tão farta, fácil e prática se tornou a vida humana.

A verdade é uma só: um mundo pobre e precário precedeu o capitalismo. Se analisarmos o gráfico abaixo do crescimento da população mundial pós-Revolução Industrial, quando a economia de mercado substituiu o mercantilismo estatal, veremos que os novos meios de organização produtiva (propriedade privada, livre comércio, etc.) possibilitaram em muito o crescimento populacional da humanidade, afinal, mais recursos estavam disponíveis para prover o nascimento e o crescimento adequado das crianças.

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Antes do capitalismo, o normal era a pobreza humana, a fome e a carência de recursos e facilidades. Enquanto alguns poucos se esbaldavam – em geral, a classe dominante – que oprimia os mais pobres através de tributos – a maioria vivia uma situação costumeira de doenças e pobreza. Países como a Itália, hoje reconhecidos pela qualidade de vida dos seus habitantes, eram, antes da liberalização dos mercados, formados majoritariamente por uma população pobre. Foi justamente a magnitude dessa pobreza que gerou, durante o século XIX, uma grande onda de migração para o Novo Mundo, principalmente para o Brasil, Argentina e Estados Unidos.

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Evidentemente, esse processo não se sucedeu de um dia para o outro. Com o advento da ciência econômica e uma nova visão sobre os processos de mercado, quando passamos a entender a importância do livre mercado e do sistema de preços, a Inglaterra se sobressaiu em relação aos demais países europeus, tornando-se a maior potência econômica do mundo de então.

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Conforme novos mercados foram se abrindo, aumentando sua participação no comércio internacional, foi surgindo a indústria capitalista como a conhecemos. A partir daí, outros países da Europa Ocidental conseguiram se desenvolver, como a França, bem como a Alemanha e a Itália, pós-unificação.

Este é um ponto importante do crescimento econômico mundial tanto em termos absolutos quanto em termos relativos – ele não surge do nada, e sem uma contraparte em termos de produção/oferta, ele não existe. Não há como fazer com que países que tenham uma população de pouca produtividade e sem estoque de capital se desenvolvam a partir do nada – como sabemos, o dinheiro é só um meio de troca. O capital existe ou pode ser desenvolvido, entretanto, sem este não há crescimento econômico. Ou seja, para um país pobre se desenvolver, este tem que antes de tudo se mostrar um lugar propício para a atração de poupança externa, ou seja, de investimentos.

Depois da Europa, o próximo continente que se utilizou dessa premissa para se desenvolver foi a América, principalmente a do Norte, justamente porque se mostrou aberta à entrada de imigrantes e investimentos, bem como à adoção de uma economia de mercado bastante aberta e ampla, em que o respeito à propriedade privada e ao trabalho era, antes de tudo, algo moral.

Apesar de conviver com regimes de partido único e com um forte dirigismo estatal,  a Ásia foi (e é) a região que mais recebe massivos investimentos externos, justamente porque se mostrou, após a abertura econômica do Japão no século XIX, uma região atrativa para o capital internacional, visto que dentro de um processo os próprios governantes foram percebendo a importância e a necessidade do capital estrangeiro, a ponto de muitas empresas multinacionais hoje investirem no Vietnã, o mesmo que há quarenta anos estava em guerra com os EUA.

Hoje, o trabalhador chinês, que há trinta anos era tratado pelo brasileiro como um escravo da manufatura, como indigente que trabalhava em troca de comida, já tem renda média maior que a do trabalhador brasileiro. Isso tudo porque as condições de mercado propiciaram o desenvolvimento e a atração de indústrias e investimentos para o mercado chinês. O país passou de um país rural, miserável, do Grande Salto proposto por Mao – que coletivizou fazendas e levou milhões à morte pela fome – num dos grandes produtores de patentes e tecnologia em pouco mais de cinquenta anos.

Se verificarmos os continentes com maiores índices de violência e também os com menor redução da pobreza recente, veremos que, apesar dos (ou justamente por eles) esforços governamentais, a América Latina e a Áfria Subsaariana são regiões que se mostram estagnadas dentro da sua condição econômica, com graves problemas sociais em termos de qualidade de vida e de renda média. A verdade é que, mesmo com todas as grandes frases de efeito e manchetes sensacionalistas que os governos populistas locais, não é qualquer governo que reduz a pobreza das pessoas, mas sim o trabalho e a geração de valor pelos indivíduos. O Estado só espolia a riqueza dos indivíduos para usar ao seu bel prazer, distribuindo algumas migalhas para o povo em troca de apoio político.

Há um exemplo implacável dessa brutal diferença entre países que atraem e estimulam o desenvolvimento do capital e os que o repelem, alegando imperalismo das potências: o Brasil e a Coréia do Sul tinham, no ano de 1939, um PIB per capita de cerca de US$ 1.120 (mil cento e vinte) dólares. Entretanto, enquanto o país asiático se abriu ao comércio internacional e se integrou ao mercado, o Brasil adotou uma postura desenvolvimentista, nacionalista e protecionista em relação ao mundo, acreditando que um sistema fechado poderia desenvolver um país. A realidade hoje evidencia qual dos dois projetos estava correto – enquanto o PIB per capita da Coréia do Sul hoje é de mais de 38 mil dólares, o brasileiro está estagnado em 13 mil.

Hoje, vivemos a perspectiva de uma mudança de paradigma, do fim desse capitalismo de compadres que tanto atrapalha o nosso desenvolvimento e que gera ganhos para setores específicos bancados por toda a população que, além de pagar a conta, vê tirada de si a perspectiva do desenvolvimento e do surgimento de novas oportunidades de crescimento econômico. De fato, enquanto assistimos a derrocada da pobreza, em um contexto no qual hoje apenas 10% da população mundial vive em pobreza extrema, temos que perceber que está só foi possível porque o mercado proporcionou, através desse sistema livre de trocas voluntárias, a expansão do capital para regiões que fossem atrativas. Passou da hora do Brasil abandonar teorias infrutíferas e compreender que, sem capitalismo e livre mercado, a maior parte do mundo ainda morreria de fome.

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Revisado por Matheus Pacini.

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