A doutrinação de crianças faz sentido para os pós-modernistas.
A maioria de nós foi vítima de doutrinadores ao longo de sua formação acadêmica. Um doutrinador pensa dessa forma: existe apenas uma verdade, e eu estou em posse dela. Ela é tão importante que os alunos devem crer nela. Ideias alternativas são uma perda de tempo – e uma tentação para mentes em desenvolvimento – logo, deveriam ser banidas. Como professor, portanto, usarei minha autoridade e poder para infundir apenas as ideias corretas.
Nosso ideal moderno de educação liberal lutou por muito tempo contra essa visão. A verdade importa, sim, mas não é fácil de ser apreendida, logo, expô-la a teorias rivais e seus principais defensores é a melhor forma de os alunos diferenciá-las entre si. Eles também precisam desenvolver sua capacidade de raciocínio de modo a lidar, de forma firme e independente, com questões novas e complexas que encontrarão em suas vidas.
A afirmação clássica do ideal da educação liberal de John Stuart Mill argumentava apaixonadamente que os alunos deveriam aprender não apenas as melhores respostas, mas as melhores críticas a elas. E não apenas isso, deveriam conhecer os melhores argumentos das posições rivais e como responder a eles.
Do ponto de vista institucional, então, Mill argumentou que as escolas deveriam contratar professores com distintos pontos de vista – pois, apenas a exposição à apresentação especializada e apaixonada de visões distintas faria com que os alunos tivessem uma educação de primeiro linha.
A educação liberal “venceu” – mas a maioria de nós está surpresa pelo ressurgimento, em nossa geração, de um ativismo feroz liderado por um grande número de alunos e recém-formados violentos e totalmente desinteressados pelo debate: eles parecem crer que não há nada a ser debatido.
Eles são o produto de um novo tipo de doutrinação, resultante do trabalho de base feito por duas gerações de ideologia pós-modernista.
Os filósofos Michel Foucault, Richard Rorty, Jacques Derrida e outros lançam um olhar suspeito sobre a “verdade” e as “narrativas” substitutas relativizadas por grupos – lamentando que elas estão quase sempre em conflito brutal entre si. Não podemos escapar de nosso “destino etnocêntrico”, afirmava Rorty: “devemos, na prática, privilegiar nosso próprio grupo”. Outros disseram que as divisões de raça ou gênero eram mais importantes.
Esse é o primeiro passo: a verdade não existe; e o conflito racial, étnico ou de gênero, prevalece. Mas, então, qual é o propósito da educação?
Foucault foi explícito sobre as implicações da morte da verdade. Pouco depois de sair do Partido Comunista, ele diz ter seguido a liderança de seu mentor Jean Paul Sartre: “Sartre renunciou a toda especulação filosófica propriamente dita, direcionando sua atividade filosófica aos comportamentos políticos”.
Esse é o segundo passo: deveríamos politizar a educação.
Mas, que tipo de política? Para a primeira geração de pós-modernistas, o Marxismo ortodoxo já estava ultrapassado. Algo novo era necessário – algo, como disse o desconstrucionista Derrida, “no espírito do Marxismo” – mas sem sua “bagagem”. Mantenha os temas marxistas de exploração e opressão, bem como seu antagonismo incansável à civilização atual; porém, abandone a sua fé na ciência, a sua afirmação de que a economia é fundamental, e sua crença de que a inevitável marcha da história trará a revolução. Apenas a ação subversiva atual geraria a transformação.
A geração seguinte de pós-modernistas passou à prática. Eles tinham aprendido com Foucault, Rorty e Derrida que deveriam abandonar a verdade por narrativas, indivíduos por grupos, além de politizar a sala de aula com algum tipo de quase-marxismo. Já Herbert Marcuse e Jean-François Lyotard lhes ensinaram a trabalhar dentro do sistema, em vez de agirem de fora como revolucionários impondo regras. Una-se às principais instituições, e, desde posições internas de poder, retrabalhe o ethos.
Lembrado, por exemplo, da afirmação de Mill de que um bom educador apresentará os argumentos de seu oponente da forma mais séria, o professor Stanley Fish disse: “essa é a coisa mais boba que já ouvi. Você não deve fortalecer os argumentos de seu oponente; você deve esmagá-los.”
Esse é o terceiro passo: não apresente a posição rival; se ela surgir, suprima-a imediatamente.
Frank Lentricchia, um dos colegas pós-modernistas de Fish na Duke University, deu o quarto passo: com pontos de vista rivais no currículo do curso, os professores deveriam apenas “exercer poder com o propósito de mudança social.” A tarefa do educador pós-modernista é treinar os alunos para “detectar, refletir e lutar contra os horrores políticos de seu tempo.”
E que tipo de alunos deveríamos criar? Dois professores, Breanne Fahs e Michael Karger, urgem como “prioridade pedagógica” que treinemos os alunos para “servir como vírus simbólicos que infectam, desestabilizam e sabotam áreas tradicionais e consolidadas.” Todos temos familiaridade com o tema dos memes que viralizam nas redes sociais, mas, só para esclarecer, Fahs e Karger citam Ebola e HIV como os tipos de vírus que têm em mente, em especial, para as universidades corporativas “capitalistas” e “sem cérebro”.
Daí a nossa geração atual de revoltados, com toda a sua energia e medos rudimentares. Liberados de 15 anos de escolarização, elas só querem: Fazer. Algo. Agora. Mas o quê? Elas sentem em seus ossos que o sistema é opressor, que estão sendo condenados ao fracasso por forças sinistras, que todo mundo se odeia – e que não foram expostos a outras ideologias nem treinados para avaliá-las. Jogados sem preparação num mundo hostil, faz total sentido que seus protestos sejam manifestações de seus temores e angústias internos.
A filosofia é prática, e os resultados da aplicação da teoria pós-modernista à prática educacional – agora por duas gerações – é a grande lição de nosso tempo. Uma que precisa ser desafiada com toda fibra de nosso ser.
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Traduzido por Matheus Pacini.
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