(Este é o relato de uma norte-americana sobre como descobriu Ayn Rand através de um concurso de redação, e sobre como esse acontecimento inspirou e influenciou sua vida. Pequenos SPOILERS das tramas de A revolta de Atlas e A nascente próximo ao final.)
Meu primeiro contato com o trabalho de Ayn Rand foi há quase 20 anos, durante meu Ensino Médio. Vi o anúncio de um concurso de ensaios no mural do colégio. Buscando dinheiro para meus estudos, decidi participar, mesmo sem nunca ter ouvido falar de um livro chamado A nascente. Lembro-me de pensar em duas coisas durante a leitura inicial: esse livro é diferente e é a melhor coisa que já li. Eu não ganhei, mas estava ocupada demais relendo a obra para me preocupar. Eu o li novamente na esperança de entender por que estava apaixonada por Howard Roark. Ele possuía uma característica particular que não deveria ser admirável; no entanto, era a qualidade que mais admirava nele. Howard Roark era egoísta. Para mim, a ideia de que o egoísmo era moralmente bom foi revolucionária. Entender que ele é uma virtude enriqueceu minha vida mais que qualquer outra coisa.
Tendo crescido no Cinturão da Bíblia do Tennessee, fui ensinada que as pessoas egoístas eram imorais. Os pais se gabavam sobre como eles se sacrificavam pelos seus filhos. Os pastores pregavam como Deus sacrificou seu filho Jesus. Pessoas faziam coisas por obrigação, tais como conviver com “amigos” que fingiam gostar ou permanecer com maridos abusivos por causa dos filhos. Todos que eu conhecia diziam coisas como: “Meu Deus, você não pode fazer isso. O que as pessoas vão pensar?”
O que não entendi quando jovem era que a minha falta de egoísmo – considerar constantemente o que cada um pensava, tentando fazer eles felizes – estava me matando. Era algo impossível de fazer e destruía minha autoestima. Eu era uma garota que tinha medo de levantar a mão na escola. Mesmo sendo uma aluna nota 10 e sabendo as respostas, parte de mim sempre duvidava que estivesse correta. Não defendia a mim mesma quando as pessoas me machucavam, principalmente quando quem me machucava era uma pessoa que supostamente se importava comigo. Eu me sentia como se talvez merecesse a dor, como se não entendesse o que era o amor. Se eu não entendia quem criou Deus ou por que deveria repetidamente perdoar aqueles que me machucavam, talvez fosse porque não era inteligente o suficiente para entender religião. Eu me culpava por coisas que não eram minha culpa. Passei a maior parte da minha infância sentindo-me estúpida e atordoada. Tudo isso começou a mudar depois de A nascente.
Roark não levava em consideração o que as pessoas pensavam. Ele até mesmo disse a Toohey, “Eu não penso em você.” Ele não se definia em relação a ninguém. Foi a primeira pessoa que encontrei – ficcional ou real – que viveu sua vida inteira de maneira egoísta e não pedia desculpas por isso. “Eu construirei Cortlandt” foi uma fala poderosa para uma garota como eu que nunca tinha ouvido alguém tão certo de si mesmo. O egoísmo dele o colocava no controle de sua vida. Quando foi demitido, quando estava falido, quando a mulher que amava tentou arruiná-lo, ele ainda tinha a certeza moral de saber que triunfaria. Tinha autoestima e confiança em seu próprio julgamento. O exemplo de Roark estava em tamanho contraste com a minha própria vida que, por mais clichê que possa parecer, salvou minha vida. Comecei a pensar que talvez os preceitos morais que me haviam ensinado poderiam realmente estar virados de cabeça para baixo; que talvez o egoísmo me fizesse feliz; que talvez o egoísmo fosse moralmente bom.
Logo li A revolta de Atlas e todos os outros escritos da Sra. Rand que pude encontrar. Depois de conhecer Francisco, Rearden e Galt, o mundo começou a parecer cognoscível e suportável. Foram necessários anos de estudo no Objetivismo para entender totalmente que o homem precisa de sua mente para sobreviver e que a abnegação destrói a mente. A revolta de Atlas mostrou toda a sociedade entrando em colapso devido ao altruísmo. Eu também teria colapsado. Sem o Objetivismo, poderia muito bem ter acabado como Catherine em A nascente – incapaz de desejar algo. Poderia ter me tornado a Cherryl, de A revolta de Atlas, a quem o mundo tanto atormentou a ponto de ela se suicidar. Não desejava nenhum desses fins.
Lentamente, comecei a tomar decisões diferentes. Os exemplos de Roark e dos heróis de Atlas fizeram com que me sentisse capaz de lidar com a própria vida. Eu passei a me defender quando as pessoas me maltratavam. Morei sozinha quando imaginava que jamais teria a coragem de fazê-lo. Expressava minha discordância, mesmo se fosse a única na sala com tal opinião. Organizei meu casamento como quis, a despeito de a família dizer que a festa era para os outros. Antes de Rand, sentia-me culpada se colocasse minha própria felicidade acima da dos outros. Sentia que devia tudo a todos, menos a mim mesma. Nunca mais me senti culpada e Ayn Rand é a razão. Seus heróis de elevada autoestima mostraram-me como viver. A primeira lição que aprendi com os seus escritos continua a ser a mais inspiradora: a minha vida é minha.
Não sei como aquele anúncio de concurso de ensaios foi parar em um pequeno colégio do interior. Sou grata ao desconhecido que o postou lá, e sou eternamente grata à Ayn Rand. Uma das minhas cenas favoritas de A nascente é aquela em Monadnock Valley com Roark e o garoto da bicicleta. Rand disse que Roark deu ao garoto “a coragem de encarar a vida”. Rand é Roark, e eu, o garoto da bicicleta. Ayn Rand me deu a coragem de encarar a minha vida e é por essa razão que digo coisas como “ela salvou a minha vida”. Eu digo isso porque ela fez isso.
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Revisado por Matheus Pacini.
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