Nascida em 1905 em São Petersburgo – Russia, Ayn Rand foi uma escritora e filósofa que defendeu veemente o individualismo. Durante sete anos se dedicou a escrever “A Nascente”, a qual inicialmente teria o título “Viver à custa dos outros” e de fato, ainda que essa fosse a escolha definitiva, permaneceria com todo o contexto apresentado na literatura. O livro relata, através de um romance envolvente, a importância do indivíduo e dos seus feitos, de tudo que é capaz de criar, da obrigação (sob visão da autora) de que o mesmo seja autossuficiente, autoconfiante e acima de tudo que viva para si próprio.
E qual, então, a mensagem de “A Nascente”? O enredo de toda a história se passa com um jovem arquiteto com poucas oportunidades (família simples, não concluiu a universidade) que teve de desconstruir fundamentos e lutar contra toda uma onda de pensamentos, para garantir o seu próprio lugar e o de suas ideias no mundo, para assim conquistar o seu sucesso por meio de suas criações.
Howard Roark, como era conhecido o jovem arquiteto, tinha seus 21 anos quando se mudou para a cidade de Nova York. Antes de sua mudança, passou por uma forte rejeição: a impossibilidade de se formar no Stanton (Universidade). Motivo? Possuir seus próprios conceitos sobre como a arquitetura deveria ser apresentada aos indivíduos, em contrapartida tais ideais eram totalmente contrários ao “pregado” pelos seus professores da Universidade. De um outro lado, um suposto amigo, Peter Keating, concluiu a universidade como número um, o verdadeiro submisso a tudo que seus professores orientavam, sem conseguir em momento algum ser coerente consigo mesmo e com suas opiniões particulares, tampouco demonstrar seus argumentos, simplesmente estava ali por estar.
Toda a narrativa vai se desenrolar ao redor desses dois indivíduos que, com características opostas, atingem seu ápice e sua queda, em momentos e sob condições diferentes. Quando ambos em Nova York, Peter é contratado por uma empresa renomada de arquitetura, enquanto Roark apenas desejava encontrar seu ídolo, Henri Cameron, arquiteto que, para a época, possuía uma genialidade e brilhantismo sem igual.
Peter, por ter sido sempre obediente ao que lhe orientavam, não sabia criar absolutamente nada, era como se precisasse de uma bengala para tudo que fosse fazer. Precisava de alguém para lhe dizer que estava no caminho certo, ou que tal cômodo deveria ser alterado. E esse alguém era Roark. Podemos dizer que sua mãe contribuiu muito para sua fraqueza em autossuficiência. Rand não evidencia no livro se arquitetura era o que o Peter desejara, mas mostrara o quanto sua mãe desejava ter um filho arquiteto e talvez essa seja a resposta para a formação de Peter.
Roark nunca se negou a nada que Peter o pedira. Era um indivíduo diferente. Indiferente aos julgamentos alheios, aos sentimentos vazios de pessoas com alma vazias. Não tinha interesse algum em saber sua opinião e não se atingia caso resolvessem lhe vomitar o que pensavam a seu respeito. Roark era, em essência, um indivíduo livre: autossuficiente e autoconfiante acima de todas as coisas! Não se engane, o grande protagonista passou por muitos julgamentos durante toda a história, eu mesma, como leitora, por muitas vezes me questionava o porque de tanto auxílio a Peter, um verdadeiro parasita que mal sabia caminhar com suas próprias pernas.
E sim, ao redor de parasitas, o livro se desenrolou. Peter abandona um pouco Roark, mas conhecem outros que sugam sua energia e o fazem cometer ações atrás de ações, que em um primeiro momento lhe traziam vitória, mas que na verdade estavam somente intensificando o buraco ao qual Peter entraria. Tais indivíduos não suportavam saber da existência de Roark ou da remota possibilidade de ele desenvolver um projeto arquitetônico e assim construir um edifício, podendo vir a se tornar um sucesso.
Rand, descreve em detalhes, e através de todo o romance envolvendo esses dois personagens principais, a importância do indivíduo e os impactos do coletivismo. O que este é capaz de inserir na sociedade fundamentado em seres altruístas e verdadeiramente egoístas, que se utilizam das ideias e criações de um único homem para dizer de modo equivocado o quanto egoísta esse ser é. Para Rand é abuso, ouso dizer que para ela, seria melhor morrer a ver uma sociedade que aceitasse viver sob o coletivismo e, principalmente, reproduzi-lo sem ao menos entender sua verdadeira mensagem.
Parafraseando Rand, “…Da mais simples necessidade até a mais complexa abstração religiosa, da roda ao arranha-céu, tudo o que somos e tudo o que temos vem de um único atributo do homem: a capacidade de sua mente racional. Mas a mente é um atributo do indivíduo. O cérebro coletivo é algo que não existe.” E foi baseada nesse discurso em seu último capítulo, que a autora permite Howard Roark nos revelar sua essência, que é a própria essência do individualismo e de tudo que ele defendeu durante toda a sua existência em “A Nascente”. Que possamos aprender apenas um pouquinho com Roark a sermos indivíduos verdadeiramente livres!