Se a ciência apoia esmagadoramente um sistema social em particular excluindo todos os outros, deveríamos adotar e defender tal sistema?
Este é o caso do capitalismo.
Embora alguns defensores do capitalismo afirmem que ele está enraizado na religião, na fé, e em Deus – e apesar de alguns defensores do socialismo, comunismo, e outras formas de estatismo alegarem que esses sistemas são apoiados pela ciência – podemos ver, pela análise detalhada, que o capitalismo – e apenas o capitalismo – é enraizado e apoiado pela ciência.
Para concretizar este ponto, vamos considerar algumas ciências em relação ao capitalismo e o estatismo. Primeiro, todavia, definamos alguns termos-chave, traçando uma linha clara e crucial.
O capitalismo é o sistema social em que o governo protege os direitos individuais banindo o uso de força física das relações sociais, utilizando-a apenas em retaliação contra quem iniciou seu uso. Consequentemente, o capitalismo deixa indivíduos e negócios inteiramente livres para agir de acordo com seus julgamentos – desde que ninguém inicie ou ameace iniciar força física contra pessoas (isto é, desde que eles não violem direitos).
O capitalismo puro – capitalismo laissez-faire – ainda não existe. O mais próximo disso ocorreu nos Estados Unidos da América por algumas décadas após a Guerra Civil. Mas, começando em 1890 (com a lei Antitruste Sherman), a intervenção governamental na economia se expandiu continuamente; hoje, o governo coage e controla virtualmente todas as negócios até certo ponto – através de leis que violam direitos, regulamentações e impostos/tarifas. Reconhecendo que, em relação a certos assuntos sociais e pessoais, a coerção governamental diminuiu e a proteção de direitos se expandiu (por exemplo, tratamento igual perante a lei para pessoas negras, legalização do aborto, legalização do casamento gay). No que tange os direitos de propriedade, os negócios e a economia, a coerção governamental aumentou a violação de direitos (por exemplo, leis antitruste, restrições de importação, confisco civil, licenciamentos, regulamentações, tributação). E, aqui, chegamos ao estatismo.
O estatismo engloba qualquer sistema social que permite ao governo (dentro da lei) iniciar força física contra indivíduos ou negócios – seja por (alegado) bem da nação, comunidade, sociedade, raça, classe, tribo, ou “Deus”. Ao contrário do capitalismo, que deixa as pessoas totalmente livres para agir de acordo com seu julgamento, o estatismo força as pessoas a agir contra o próprio julgamento até certo ponto.
A iniciação de força por governos estatistas varia imensamente em grau, e os graus importam.2 Alguns governos – como a Rússia Soviética, a Alemanha Nacional Socialista, e atualmente a Coreia do Norte e a Arábia Saudita – impõem níveis extremos de força contra pessoas, de modo que eles não possam viver ou “vivam” unicamente como marionetes ou propriedade do estado, da tribo, ou de uma suposta divindade. Outros – como a atual África do Sul, Grécia e Guatemala – iniciam menos força, de modo que as pessoas podem vivenciar algo mais próximo do que é viver como um ser humano. E outros ainda, como Noruega, Canadá e Estados Unidos iniciam ainda menos força.
Países em que o governo inicia graus/níveis de força relativamente menores podem, talvez, ser chamados de “sistemas mistos” – mas eles são estatistas. Qualquer sistema em que o Estado inicia legalmente a força contra indivíduos é, de fato e direito, estatista. Esta é a linha que distingue todas as formas e graus/níveis de estatismo do capitalismo puro: sob o estatismo, o governo tem a permissão legal para violar direitos. Sob o capitalismo puro (radical, como diria Rand), o governo é legalmente proibido de fazê-lo.
Finalmente, devemos ser claros sobre a natureza da ciência. No sentido relevante aqui, ciência é o uso sistemático da razão (isto é, observação, integração e lógica) para a compreensão de algum aspecto ou esfera da realidade em termos de princípios (verdades gerais). A ciência da biologia, por exemplo, está interessada na natureza, desenvolvimento, estruturas e modos de sobrevivência de organismos vivos. A ciência da psicologia tem como foco a natureza da mente humana e os requisitos para uma mente saudável e feliz. E a ciência da moralidade está interessada na natureza dos valores, do bem e do mal, bem como dos princípios apropriados de ação.
Com essa reflexão em mente, vejamos o que a ciência tem a dizer sobre o capitalismo e o estatismo. Para essa finalidade, consideraremos um conjunto amplo de ciências, incluindo economia, negócios, psicologia, biologia, moralidade, epistemologia e metafísica. Em cada caso, focaremos em aspectos básicos da ciência em questão, embora uma análise similar possa ser aplicada a outros aspectos e ciências também.
Psicologia e Capitalismo
A ciência da psicologia se concentra na natureza da mente humana, bem como nos requisitos para a saúde mental e a felicidade. Entre seus princípios básicos, estão:
- Felicidade é uma consequência dos objetivos e valores escolhidos por um ser vivo, e o sucesso advêm de sua obtenção.
- Autoestima (a convicção pessoal de ser capaz de viver e ser digno de felicidade) é um componente chave para a felicidade.
- Nem autoestima nem felicidade podem ser dados por alguém; esses valores psicológicos devem ser merecidos por meio do empenho racional particular do indivíduo.
Através desses princípios, a psicologia nos diz que, se um individuo pensa racionalmente sobre o que quer na vida e, por exemplo, escolhe seguir uma carreira em engenharia, gradua-se numa faculdade relacionada ao assunto, consegue um emprego na área e se torna bem-sucedido em seu trabalho, então – exceto em casos de tragédias ou vícios pessoais – ele conquista autoestima ao longo do caminho e um certo nível de felicidade.
Se ele aplica a mesma lógica à condução de outras áreas de sua vida – amizades, romance, lazer, etc. – obterá mais autoestima, e maiores níveis de felicidade. E se ele prosseguir assim ao longo de sua vida, por uma questão de princípio, sua vida tornar-se-á cada vez melhor. No capitalismo, ele é totalmente livre para fazer isso.
Sob o capitalismo puro, o governo não só deixa as pessoas livres para procurar e alcançar seus valores mantenedores da vida; também se abstém de lhes dar coisas imerecidas, Bolsa-Família, vale-alimentação, serviços de saúde “gratuitos”, celulares “grátis”, entre outros. Assim, além de permitir que as pessoas escolham e busquem seus valores como bem entenderem, sob o capitalismo, o governo se abstém de desmotivar as pessoas pelo ataque ao pensamento, ao esforço, à produtividade e a autorresponsabilidade.
Em contraste, o estatismo atual não só força as pessoas a agir contra seus julgamentos e, paradoxalmente, em contradição aos seus objetivos, mas também força as pessoas a prover outros com bens e serviços imerecidos. Isso viola os direitos dos que estão sendo forçados a prover os bens, e rouba dos recipientes a autoestima e a felicidade que conquistariam se pudessem ter trabalhado para conquistar tais valores ao invés de tê-los recebido de “graça”.
Autoestima e felicidade são consequências da escolha e busca de objetivos pessoais, acordo com seu julgamento racional. De modo a obter esses valores psicológicos vitais, uma pessoa deve ser livre para pensar e agir de acordo com seu julgamento, para buscar os objetivos de sua escolha, para colher as recompensas de seus esforços, para sofrer as consequências da apatia, para aprender com seus erros e para corrigir seu curso como desejar.
Em resumo, como já reconhecido pelos Pais Fundadores, a busca da felicidade requer liberdade – uma condição provida somente no capitalismo.
A ciência da psicologia dá suporte ao capitalismo.
Biologia e Capitalismo
A ciência da biologia se preocupa com a natureza, desenvolvimento, estruturas, e modos de sobrevivência de organismos vivos. Um dos princípios básicos desta ciência é que todas as criaturas vivas, incluindo humanos, tem meios específicos de sobrevivência e devem agir de acordo com esses meios para sustentar e promover suas vidas.
Árvores, por exemplo, sobrevivem por meio da fotossíntese; coelhos sobrevivem em tocar, mordiscando plantas e fugindo de predadores; corujas sobrevivem voando, limpando suas penas com o bico e caçando animais pequenos; e o ser humano sobrevive observando a natureza, usando a faculdade da razão, integrando suas observações em conceitos e princípios e transformando materiais brutos da natureza (como argila, alumínio, petróleo) em requisitos da vida humana (casas, automóveis, energia).
Seres humanos evoluíram tanto que nossas vidas, hoje, são de alta complexidade, multifacetadas. Para viver com vigor, precisamos mais que uma caverna, um companheiro ou um osso para roer. Precisamos de propósito na forma de objetivos escolhidos para tornar nossas vidas significativas; precisamos de ambientes bonitos que estejam de acordo com nossa visão de como as coisas são ou podem e deveriam ser; precisamos de remédios eficazes e tecnologias que melhoram nossas vidas para podermos viver mais e melhor; precisamos de arte como combustível intelectual e inspiração; precisamos de amizades e atividades recreativas por causa dos prazeres que oferecem e precisamos de amor romântico para celebrar a vida e aproveitar os mais altos níveis de prazer. Para alcançar tais valores, precisamos pensar racionalmente, respeitando nossos variados objetivos intelectuais e materiais de longo prazo e precisamos agir de acordo como nosso melhor julgamento. Esta é a natureza do animal chamado homem.
Assim como um carvalho deve absorver luz solar e água para poder viver como um carvalho, e uma coruja deve se limpar e caçar para poder viver como uma coruja, uma pessoa deve agir de acordo com seu julgamento e buscar seus valores para poder viver a vida de um ser humano. E – para uma pessoa poder fazer tudo isso – ela deve ser livre.
Se uma pessoa não é livre para agir com base em seu julgamento e, portanto, se torna incapaz de conquistar os valores que uma vida como ser humano requer, ela irá sofrer e morrer – como os milhares escravizados por canetas comunistas no século XX, e os milhares escravizados pelas teocracias islâmicas e outras ditaturas no século XXI. Se uma pessoa é parcialmente livre para agir de acordo com seu julgamento e parcialmente forçada a agir contra ele, viverá correspondentemente uma vida retardada – como bilhões de pessoas que estão sujeitas a diferentes tipos e níveis de coerção de governos ao redor do globo. Só quando uma pessoa é completamente livre para agir de acordo com seu julgamento racional poderá viver totalmente como um ser humano.
A condição política necessária para o homem viver de acordo com sua natureza biológica – a condição necessária para ele usar sua mente, para agir de acordo com seu julgamento, e para buscar e conquistar seus valores intelectuais e materiais para viver como um ser humano requer – é a liberdade, que é provida exclusivamente pelo capitalismo.
A ciência da biologia dá suporte ao capitalismo.
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Publicado originalmente em The Objective Standard.
Revisado por Matheus Pacini.
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