A vida de Ayn Rand foi tão intensa quanto a dos heróis de seus romances A Nascente e A Revolta de Atlas. Rand primeiro se destacou como romancista, publicando We The Living (1936), A Nascente (1943) e sua obra-prima, A Revolta de Atlas. Esses romances filosóficos incorporaram temas que foram desenvolvidos por ela sob a forma de não ficção numa série de livros e ensaios publicados durante as décadas de 1960 e 1970.
Nascida em São Petersburgo, Rússia, em 2 de fevereiro de 1905, Rand foi criada numa família de classe média. Quando criança, amava contar histórias; aos 9 anos, decidiu se tornar escritora. Na escola, mostrava potencial acadêmico, particularmente, em matemática. Sua família passou por dificuldades devido à convulsão social e à guerra civil que se seguiram à Revolução Comunista de 1917, sendo o golpe final o confisco da farmácia de seu pai pelos soviéticos. Pouco depois, sua família se mudou para a Crimeia com o propósito de se recuperar financeiramente, bem como escapar da brutalidade vivida em São Petersburgo. Após alguns anos, sua família retornou à Petrogrado (como São Petersburgo era chamada pelos soviéticos), onde Rand cursou a universidade.
Na Universidade de Petrogrado, Rand concentrou seus estudos em História, com foco secundário em Filosofia e Literatura. Na universidade, foi rejeitada pelo predomínio dos ideais comunistas e de táticas violentas que suprimiam a liberdade de investigação e o debate de ideias. Se na juventude já tinha sido contrária ao programa político soviético, quando adulta, tinha certeza dos efeitos destrutivos mais amplos impostos pela Revolução à sociedade russa.
Na universidade, estudou história e política dos Estados Unidos. Por admirar peças teatrais, músicas e filmes americanos, acabou se tornando admiradora do individualismo, vigor e otimismo americanos, vendo neles o oposto do coletivismo, decadência e pessimismo soviéticos. Por não acreditar que, sob o regime soviético, seria livre para escrever os tipos de livros que desejava escrever, resolveu deixar a Rússia, migrando para os Estados Unidos.
Ayn Rand se formou na Universidade de Petrogrado em 1924. Logo depois, se matriculou no State Institute for Cinema Arts para se tornar roteirista. Em 1925, finalmente teve permissão das autoridades soviéticas para sair do país sob a desculpa de visitar parentes nos Estados Unidos. Oficialmente, sua visita seria breve; Rand, todavia, já tinha decidido não retornar à União Soviética.
Após diversas paradas em cidades da Europa Ocidental, Rand chegou em Nova York em fevereiro de 1926. De Nova York, viajou para Chicago, no estado de Illinois, onde passou os seis meses seguintes morando com parentes, aprendendo inglês, e desenvolvendo ideias para historias e filmes. Ela tinha decidido se tornar uma roteirista de cinema e, tendo recebido uma extensão de seu visto, partiu para Hollywood, no estado da Califórnia.
No segundo dia de Rand em Hollywood, ocorreu um evento digno de sua ficção. Ela foi vista por Cecil B. DeMille, na época, um dos principais diretores de Hollywood, enquanto estava parada no portão de seu estúdio. Ele parou com seu carro para pedir o porquê ela estava fitando-o, e Rand explicou que tinha chegado há pouco tempo da Rússia, era fã dos filmes de Hollywood e que seu sonho era se tornar uma grande roteirista. Naqueles dias, DeMille estava trabalhando no filme “O Rei dos Reis”, e a contratou como figurante. Durante a segunda semana no estúdio de DeMille, outro evento significativo: Rand conheceu Frank O´Connor, um jovem ator também figurante no mesmo filme. Rand e O´Connor se casaram em 1929, permanecendo casados até a morte dele em 1979.
Rand trabalhou para DeMille como revisora de roteiros, e teve problemas financeiros enquanto finalizava suas primeiras obras. Para sobreviver, teve vários empregos temporários até que, em 1932, conseguiu vender seu primeiro roteiro, Red Pawn, para a Universal Studios. Também em 1932, sua primeira peça de teatro, A Noite de 16 de Janeiro foi produzida em Hollywood e, posteriormente, exibida na Broadway.
Rand trabalhou anos em seu primeiro romance, We the Living, finalizando-o em 1933. Todavia, por muitos anos, foi rejeitado por várias editoras, até que, em 1936, foi publicado pela Macmillan, nos Estados Unidos, e a Cassell, na Inglaterra. Rand descreveu We the Living como o seu romance autobiográfico, cujo tema era a brutalidade da vida sob o regime comunista na Rússia. We the Living não obteve uma reação positiva de críticos e intelectuais americanos. Foi publicado na década de 1930, normalmente chamada de Década Vermelha, durante a qual muitos intelectuais americanos eram pró-comunistas, admiradores seletos do experimento soviético.
O projeto seguinte de Rand foi A Nascente, em que tinha começado a trabalhar em 1935. Embora o tema de We the Living fosse político, o tema de A Nascente era ético, focando em temas individualistas de independência e integridade. O herói do romance, o arquiteto Howard Roark, é a primeira personificação do homem ideal de Rand, que vive numa escala heroica de realização.
Da mesma forma que com We the Living, Rand teve dificuldades para publicar A Nascente. Doze editoras rejeitaram-no antes de ser publicado pela Bobbs-Merrill em 1943. Embora, novamente, não tenha sido bem-recebido por críticos e intelectuais, o romance se tornou um bestseller, principalmente, por recomendação boca a boca. A Nascente tornou-a famosa como expoente de ideais individualistas e as vendas dele lhe deram alguma segurança financeira. A Warner Brothers produziu uma versão cinematográfica do romance em 1949, estrelando Gary Cooper e Patrícia Neal, para o qual Rand escreveu o roteiro.
Em 1946, Rand começou a trabalhar em seu romance mais ambicioso, A Revolta de Atlas. Na época, ela estava trabalhando meio turno como roteirista para o produtor Hal Wallis. Em 1951, seu marido e ela se mudaram para Nova York, onde ela começou a trabalhar em tempo integral em A Revolta de Atlas. Publicado pela Random House em 1957, A Revolta de Atlas é a expressão mais completa de sua visão literária e filosófica. Dramatizado sob a forma de um suspense sobre um homem que parou o motor do mundo, o enredo e as personagens incorporam os temas políticos e éticos primeiro desenvolvidos em We the Living e A Nascente, integrando-os numa filosofia abrangente que incluía metafisica, epistemologia, economia e psicologia de amor e sexo.
A Revolta de Atlas foi um bestseller imediato, e o seu último trabalho de ficção. Seus romances tinham expressado temas filosóficos, embora Rand se considerasse primeiramente uma romancista e, em segundo momento, uma filósofa. A criação de enredos, personagens e dramatização de realizações e conflitos é o propósito central de sua ficção, e não a apresentação de um conjunto abstrato e didático de teses filosóficas. Todavia, A Nascente e A Revolta de Atlas tinham atraído para Rand muitos leitores com grande interesse nas ideias filosóficas tratadas nos romances. Entre os primeiros com quem Rand se associou estão o psicólogo Nathaniel Branden e o economista Alan Greenspan, depois presidente do FED. Suas interações com esses e outros indivíduos foram responsáveis, parcialmente, pela transição de Rand da ficção para a não ficção com vistas ao desenvolvimento sistemático de sua filosofia.
De 1962 a 1976, Rand escreveu e palestrou sobre sua filosofia, hoje chamada “Objetivismo”. Seus ensaios durante esse período foram publicados numa série de periódicos: The Objectivist Newsletter, publicado de 1962 a 1965; The Objectivist, publicado de 1966 a 1971; e The Ayn Rand Letter, publicado de 1971 a 1976. Os ensaios escritos nesses periódicos formam o material central de uma série de nove livros de não ficção publicados durante a vida de Rand. Esses livros desenvolvem a filosofia de Rand em suas principais categorias, aplicando-a a questões culturais. Talvez os mais importantes desses livros sejam Capitalism: The Unknown Ideal, dedicado à teoria política e economia, Introduction to Objectivist Epistemology, apresentação sistemática da teoria dos conceitos e o The Romantic Manifesto, uma teoria da Estética.
Rand continuou a escrever e palestrar até o final de 1976. Depois disso, a saúde de seu esposo piorou, vindo a falecer em 1979. Rand faleceu em 6 de março de 1982 na cidade de Nova York.
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Publicado originalmente em Internet Encyclopedia of Philosophy.
Traduzido por Matheus Pacini
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