A natureza das revoluções
As grandes revoluções da história humana aconteceram na descoberta de facilitadores da vida ordinária, ou seja, na criação de ferramentas, processos e modos de organização social que beneficiavam não só quem criou a novidade, mas também o conjunto da comunidade.
A cada descoberta ou inovação as exigências para novas soluções tornaram-se mais complexas, demandando uma capacidade de resolução que desafiaria os limites humanos. A superação passou do desenvolvimento de habilidades físicas para aparelhos tecnológicos como os microscópios e supercomputadores que fazem ser possível a manipulação da natureza à nível nanométrico.[1]
A ideia de revolução é normalmente associada a rupturas súbitas em regimes políticos, ou mudanças culturais artificiais, ou seja, manipuladas com fins pré-definidos, gerando a ideia de que, qualquer revolução é viável só com convicção e um tipo peculiar de sedução que convença um grupo de pessoas daquilo que não foi testado, nem comprovado em teoria ou prática.[2]
As revoluções podem ocorrer de cima para baixo?
Desconsiderada deliberadamente nos manuais de nossos pseudorevolucionários é a questão conceptual de que uma mudança social estrutural depende de uma assimilação voluntária dos indivíduos que compõe determinada comunidade. E isso faz toda a diferença, na medida em que a real revolução não costuma alardear sua chegada.[3]
Se uma mudança significativa ocorre em uma sociedade sem o processo de apropriação e validação por parte dos que serão beneficiários ou prejudicados pela nova forma de ser e estar, o resultado é ou convulsão social ou imigração para locais cuja forma de viver seja compatível com suas aspirações de uma vida boa[4].
Pois bem, “intelectuais” coletivistas tentando moldar as ideias das pessoas perceberam que, pelo uso do poder concentrado do Estado, teriam mais recursos e alcance para impor sua agenda: é, em resumo, é a convicção ditatorial/intervencionista de que é possível manipular um grande número de pessoas, impondo arbitrariamente os devaneios dessa “elite” a todos. Essa postura se consolidará em conceitos como “Revolução Permanente”, “Governo Mundial” e, na realidade, como “União Europeia,” “ONU”, “partidos socialistas”, “partidos socialdemocratas”, etc.[5][6][7]
Esse modo de ação política foi o mais inteligente e eficiente (apesar do seu caráter autoritário) enquanto os sistemas de mercado desenvolviam-se em meio a inúmeros boicotes estatais (leia-se: regulamentação). Mesmo com intervenção ou proibição estatais, o mercado avança, atendendo demandas variadas dos indivíduos como, por exemplo, alimentação, entretenimento, transporte e infraestrutura.
É razoável afirmar que a precariedade dos sistemas políticos no mundo só se perpetua por que os governos detêm monopólios. Sua longevidade não é ameaçada por que o arranjo foi feito de tal forma que o parasitismo não é ameaçado por quaisquer mudanças sociais.
A boa nova é que as inovações tecnológicas possibilitaram a criação de uma solução até então entendida como impossível e que quebra o monopólio do governo sob um dos seus alicerces fundamentais, a emissão de moeda.
A independência monetária
Todas as nações têm sua própria moeda e Banco Central, concedendo aos seus mandatários o poder de imprimir dinheiro, gerar inflação, fazer dívidas; tudo, é claro, à custa dos pagadores de impostos. Como agravante, é impossibilitada a concorrência entre moedas dentro de um país, haja vista um acordo tácito entre as nações: é o que poderíamos chamar de um oligopólio estatal a nível mundial.[8]
O Bitcoin surge em 2009 e é o que podemos chamar de concretização da ideia de indivíduos livres da coerção estatal. Uma moeda criptografada, descentralizada, limitada em quantidade, vacinada contra inflação, que permite transações bancárias sem intermediários e administrada por um complexo sistema tecnológico. Há oito anos as apreensões eram compreensíveis: “será que é confiável? E os hackers? Como gravar códigos gigantescos e proteger minhas moedas numa carteira digital?”
O tempo passou, e a cada inovação testada, a cada desafio superado, seu valor cresceu e hoje já são milhões de investidores. Os preços estão batendo recorde e o establishment começa a render-se ao poder da inovação das mentes criativas, dos Atlas que carregam o mundo nas costas.[9][10][11][12]
Tão logo as pessoas são livres para escolher, elas decidem ser livres e autônomas. O Bitcoin está avançando e ajudando a dar poder de escolha em ditaduras como a venezuelana; a China e a Rússia já deram sinais de que não conseguirão impedir o avanço do novo modo de fazer transações financeiras.[13]
As implicações serão muitas, mas a revolução é silenciosa. A adesão à tecnologia é lenta e gradual, mas creio que é o primeiro passo da emancipação do capitalismo, talvez o passo mais importante em direção ao livre mercado sonhado por Ayn Rand:
Um mercado livre é um processo contínuo que não pode ser aprisionado, um processo ascendente que requer o melhor (o mais racional) de cada homem e recompensa-o de acordo. Enquanto que a maioria mal assimilou o valor do automóvel, a minoria criativa introduz o avião. A maioria aprende com a demonstração; a minoria é livre para demonstrar. (…)
Dentro de cada categoria de bens e serviços (…) o fornecedor do melhor produto com o menor preço é quem ganha os maiores prêmios financeiros naquele campo – não automaticamente nem imediatamente nem por decreto, mas graças ao mercado livre, que ensina todos os participantes a procurarem aquilo que é objetivamente o melhor dentro da categoria de sua própria competência, e que penaliza aqueles que agem a partir de considerações irracionais.[14]
É verdade que as amarras feitas ao capitalismo foram diversas e engenhosas, mas o mercado é formado por indivíduos, cujo único impedimento é a morte. Como isso não ocorrerá, o avanço é inevitável. No curto prazo, a tecnologia impõe ao Estado um gerenciamento racional de suas moedas, uma vez que a concorrência impõe sua lógica inescapável. No longo prazo, a hipótese é a possibilidade de sonegação por grande parte da sociedade, fazendo com que, ou o estado atrofie até a falência ou mostre suas garras totalitárias, devidamente escondidas atrás do discurso democrático já que o roubo estava até ontem institucionalizado.
Minha aposta é de que estamos em uma revolução sem precedentes e finalmente teremos as ferramentas para que filosofias como o Objetivismo seja aplicada em sua plenitude, uma vez que, um governo legítimo pressupõe adesão voluntária de seus participantes, livres para escolher.
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Revisão de Matheus Pacini
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[1] HARARI, N. Y. Sapiens: Uma breve história da humanidade. 16° Edição. Porto Alegre: L&PM, 2016.
[2] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Martins Fontes, São Paulo, 1998.
[3] Disponível em: http://aynrandlexicon.com/lexicon/revolution_vs_putsch.html
[4] HIMMELFARB, Gertrude. Os Caminhos para a Modernidade: os iluminismos britânico, francês e americano. São Paulo: É Realizações, 2011.
[5] Disponível em: https://www.pstu.org.br/marx-engels-e-a-teoria-da-revolucao-permanente/
[6] Disponível em: https://br.sputniknews.com/americas/201702207727055-george-soros-ordem-mundial/
[7] Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/historico-veja/onu-governo-mundial-e-verissimo-todos-a-servico-do-antiamericanismo/
[8] Disponível: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=118
[9] ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2014.
[10] Disponível em: https://br.cointelegraph.com/news/amazon-sparks-speculation-by-buying-three-cryptocurrency-themed-domain-names
[11] Disponível em: https://portaldobitcoin.com/bolsa-de-chicago-anuncia-lancamento-de-contratos-futuros-de-bitcoin/
[12] Disponível em: https://br.cointelegraph.com/news/argentinas-biggest-futures-market-to-add-bitcoin
[13]Disponível em: https://portaldobitcoin.com/bitcoin-e-pior-do-que-cassinos-diz-ministro-do-desenvolvimento-economico-da-russia/
[14] RAND, Ayn. Capitalism: The Unknown Ideal. New York: Signet, 1967. p. 25-26