Ayn Rand, você tem interesse em política?

***Esse é um trecho da entrevista de Ayn Rand à revista Playboy. Ela está disponível na íntegra aqui***

PLAYBOY: Você tem aspirações políticas pessoais? Você já considerou concorrer a um cargo público?

RAND: Certamente que não. E eu confio que você não me odeia tanto assim para me desejar uma coisa dessas.

PLAYBOY: Mas você tem interesse em política ou, pelo menos, em teoria política, não é?

RAND: permita-me responder deste modo: quando eu cheguei nos Estados Unidos, vinda da URSS, interessei-me em política por uma única razão – para chegar o dia em que eu teria de estar interessada em política. Minha preocupação sempre foi viver numa sociedade em que estivesse livre para perseguir os meus próprios interesses e objetivos, sabendo que o governo não interferiria para destruí-los, sabendo que a minha vida, meu trabalho e meu futuro não estariam à mercê do Estado ou do capricho de um ditador. E essa continua sendo minha atitude. Sei que tal sociedade é um ideal ainda não alcançado, que não posso esperar que os outros lutem por isso em meu lugar, e que eu, como qualquer outro cidadão responsável, deve fazer todo o possível para alcançá-la. Em outras palavras, tenho interesse em política só a fim de garantir e proteger a liberdade.

PLAYBOY: em suas obras, você argumenta que a maneira como o mundo contemporâneo é organizado, mesmo nos países capitalistas, sufoca o indivíduo e reprime a iniciativa. Em A Revolta de Atlas, John Galt lidera uma greve dos homens da mente – o que resulta no colapso da sociedade coletivista que os rodeia. Você acha que o tempo chegou para artistas, intelectuais e empresários criativos de hoje retirarem os seus talentos da sociedade?

RAND: Não, ainda não. Mas antes de eu explicar, devo corrigir uma parte da sua pergunta. O que temos hoje não é uma sociedade capitalista, mas uma economia mista – isto é, uma mistura de liberdade e controles, e que, se seguirmos a tendência atualmente dominante, poderá nos levar à ditadura. A greve em A Revolta de Atlas ocorre num momento em que a sociedade teria alcançado o estágio de ditadura. Quando, e se, isso acontecer, então será a hora de entrar em greve, mas não antes disso.

PLAYBOY: O que você quer dizer com ditadura? Como você a define?

RAND: Uma ditadura é um país que não reconhece os direitos individuais, cujo governo detém o poder total e ilimitado sobre os homens.

PLAYBOY: Qual é a linha divisória, pela sua definição, entre uma economia mista e uma ditadura?

RAND: A ditadura tem quatro características: regime de partido único, execuções sem julgamento por delitos políticos, expropriação ou nacionalização da propriedade privada, e censura; sobretudo, essa última. Enquanto os homens podem falar e escrever livremente, desde que não haja censura, ainda têm a chance de reformar a sociedade ou colocá-la em um caminho melhor. Quando a censura é imposta, esse é o sinal de que os homens devem entrar em greve intelectualmente, isto é, não devem cooperar com o sistema social de nenhuma maneira.

PLAYBOY: Depois dessa greve, o que você acha que deve ser feito para trazer as mudanças sociais que você considera desejável?

RAND: São ideias que determinam as tendências sociais, que criam ou destroem os sistemas sociais. Portanto, as ideias corretas – a filosofia correta – devem ser defendidas e divulgadas. Os desastres do mundo moderno, incluindo a destruição do capitalismo, foram causados pela filosofia altruísta-coletivista. É o altruísmo que os homens devem rejeitar.

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Tradução de Roberto Rachewsky

Revisão de Matheus Pacini

Publicado originalmente por Playboy

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