A resposta conservadora à série de artigos tentando ligar o apoio a Trump à Ayn Rand tem sido motivo de curiosidade. Em particular, estava ansioso para ler a opinião de Kevin D. Williamson, posto que o considero muito lúcido em seus artigos, mesmo que nem sempre concorde com ele.
Infelizmente, esse não foi um dos melhores. E não apenas porque ele dá algumas investidas contra Rand e objetivistas em geral, afinal, isso já faz parte da cultura do National Review.
Não, o real problema foi que, ao tentar fazer um ponto válido – que a esquerda tem erroneamente retratado Rand como a principal influência intelectual dos conservadores – ele foi mais longe, e tentou fingir que o apreço pelo trabalho de Rand é a exceção, e não a regra, entre os conservadores.
Onde você não encontra randianos é no mundo conservador… fale do seu amor eterno pelo romance A Revolta de Atlas em um encontro típico de conservadores e as pessoas sorrirão para você, tentando muito não rir. Algumas pessoas consideram os seus romances como um tipo de paixão de verão, há muito esquecida: uma muleta intelectual, uma aventura da adolescência. Algumas pessoas usam A Revolta de Atlas como um totem – afinal, teve certa influência na criação do Tea Party. Mas é raro encontrar adultos que organizam suas visões políticas (ou, pasmem, suas vidas) em torno de Rand e suas visões. Eu não creio que o National Review tenha um único randiano em seu quadro de funcionários; ficaria surpreso se o Weekly Standard tivesse, e se algum deles aparecesse no Commentary, John Podhoretz simplesmente o zombaria por anos.
Como alguém que falou (e esteve) com milhares de conservadores, incluindo um grande número de intelectuais conservadores, a admiração por Rand é a norma, e não a exceção.
Na verdade, Rand tem uma influência real e duradoura no movimento conservador. E, embora a esquerda esteja errada ao tratá-la como a fonte do conservadorismo, os conservadores deveriam reconhecer que seu movimento seria muito diferente caso não ela não tivesse existido.
Qual tem sido a influência de Rand? Bem, é importante aqui distinguir entre a “direita”, amplamente entendida como todos os simpatizantes do livre mercado, e os conservadores – especialmente, os intelectuais conservadores.
Eu colocaria dessa forma: embora a influência de Rand sobre as ideias da direita tenha sido limitada, sua influência sobre suas atitudes tem sido profunda.
Você pode ver isso na forma como, às vezes, algumas pessoas na direita se pronunciam sobre capitalismo, negócios e autointeresse: se as consideram coisas moralmente boas, revelam o impacto de Ayn Rand. Podemos dizer que tais atitudes não eram tão comuns antes das obras dela.
O problema é que poucas pessoas na direita se deram o trabalho de entender as razões dadas por Rand em defesa de sua avaliação moral do capitalismo, negócios e autointeresse. E essa é uma posição muito delicada de se estar, afinal, esses são precisamente os conceitos mais atacadas pelos inimigos da direita. Atitudes sem ideias que lhes deem embasamento não sobrevivem por muito tempo.
Com os conservadores, a questão é mais complicada porque, na medida em que prestam atenção às ideias de Rand, entrarão em conflito interno, a rejeição de Rand à fé e ao altruísmo são diametralmente opostas à religiosidade conservadora.
No caso de intelectuais conservadores, as diferenças entre a filosofia de Rand e a sua é ainda mais severa. Enquanto ela retratava uma visão heroica do homem, eles defendem o que o pensador conservador Thomas Sowell chama de “visão trágica” das limitações e imperfeições intrínsecas do homem. Enquanto ela defende que todas as ideias precisam encarar o escrutínio da razão, eles veem a rejeição da tradição como uma ameaça à ordem social e, pior, a raiz da tirania; enquanto ela considera o indivíduo como a unidade básica da sociedade, eles colocam a família e a comunidade; enquanto ela era, por princípio, uma defensora do capitalismo radical (laissez-faire), eles consideram o egoísmo irrestrito como moralmente intolerável e defendem um Estado de bem-estar que limita o autointeresse em nome do bem comum. Não é o caso que não entendam o que Ayn Rand diz – em grande parte, entendem – mas rejeitam.
Ao mesmo tempo, muitas dessas pessoas reconhecem que existe algo correto na apreciação randiana da realização produtiva, da busca da felicidade e do sistema capitalista que torna tudo isso possível. Isso fez com que alguns deles partissem numa jornada para justificar essas atitudes à luz de princípios conservadores mais convencionais. Penso, por exemplo, nas obras de (i) Michael Novak que tenta propor um argumento moral para o capitalismo apelando para a religião, (i) George Gilder que tenta propor um argumento moral para o capitalismo apelando para o altruísmo e (iii) Arthur Brooks que tenta propor um argumento moral para o capitalismo apelando para a “justiça social”.
Uma das razões pelas quais Yaron Brook e eu escrevemos nosso primeiro livro, Free Market Revolution, foi explicar porque isso não funcionará – porque Ayn Rand estava certa no sentido que você não pode defender capitalismo e negócios sem uma defesa mais profunda da razão e do autointeresse.
Mas isso requereria dos conservadores abandonar ideias que defendem com unhas e dentes. Vários conservadores sabem disso e, por isso, querem se distanciar dela. Mas isso não muda a fato de que muitas pessoas na direita – inclusive, os conservadores – continuam a se inspirar nas obras de Rand.
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Publicado originalmente em Ayn Rand Institute.
Traduzido por Matheus Pacini.
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