Autossacrifício versus egoísmo racional na filosofia de Ayn Rand

A filosofia do Objetivismo, criada pela romancista e filósofa Ayn Rand, é conhecida por sua defesa do autointeresse. Muitas pessoas deduzem disso que Rand afirmava que você deveria ignorar o bem-estar dos outros. Mas não é assim que ela pensava, e não é isso que o Objetivismo afirma. Afirma, sim, que contribuir para o bem-estar de outras pessoas pode ser do seu interesse, mesmo que não tenham nenhuma relação comercial contigo. Isso inclui potencialmente ajudar amigos, parceiros românticos, crianças e até estranhos.

Por que Rand pensava assim? Como amar e ajudar os outros é compatível com o autointeresse pessoal? Essas são perguntas às quais este artigo responderá.

O Objetivismo rejeita o materialismo e a busca do “prazer momentâneo”

Para entender por que o Objetivismo defende uma certa posição sobre ajudar outras pessoas, há algumas concepções equivocadas de “autointeresse” que precisam ser rejeitados.

A primeira é a de que o autointeresse é materialista: isto é, que agir de uma forma egoísta/autointeressada significa agir apenas para satisfazer suas necessidades físicas, sem preocupação com os valores espirituais (ou seja, mentais ou psicológicos).

No entanto, o Objetivismo rejeita totalmente a ideia de “autointeresse materialista”. Se o autointeresse fosse materialista, então ir assistir a qualquer filme, não importa quão bom, divertido, inspirador ou emocionante, não seria do seu autointeresse. Você não fica melhor fisicamente após assistir a um filme, logo não há valor físico para o filme. O mesmo se aplica a videogames, museus, montanhas-russas, festas de Halloween e outras formas de entretenimento. Em vez de sair para jantar com outras pessoas, será sempre melhor para você comer uma refeição saudável e barata em casa. Seria melhor evitar o sexo, preferindo exercícios na academia, etc.

Claramente, há muitas coisas que as pessoas fazem que contribuem para suas vidas como seres humanos que não melhoram diretamente sua condição física, mas sim sua condição mental e/ou emocional. O Objetivismo reconhece o papel que os valores espirituais desempenham na vida humana e no autointeresse humano. Como Ayn ​​Rand escreveu:

“Você é uma entidade indivisível de matéria e consciência. Renuncie à sua consciência e se tornará um bruto. Renuncie ao seu corpo e se tornará uma farsa. Renuncie ao mundo material e o entregará ao mal”.

Filmes, música, jogos, entretenimento e sexo são atividades valiosas e autointeressadas, pois atendem as necessidades da consciência humana, e a consciência de um indivíduo precisa estar saudável para criar uma vida rica, feliz e próspera para si.

O segundo equívoco é dizer que “autointeresse” consiste essencialmente no prazer do momento, sem se preocupar com as consequências de longo prazo. De novo, o Objetivismo rejeita essa visão, pois o seu eu é algo que estende no tempo, ao longo de sua vida. As suas ações hoje podem impactar seu bem-estar no futuro. Logo, fazer algo prazeroso hoje pode prejudicar sua capacidade de atingir coisas boas no futuro. (Pense, por exemplo, no abuso de drogas).

O Objetivismo leva em conta a natureza de longo prazo do autointeresse. Qualquer busca de prazer momentâneo deve ser avaliada à luz de seus objetivos de longo prazo: só é autointeressada se não conflitar com seus objetivos racionais e de longo prazo.

Um homem racional considera seus interesses em termos de toda uma vida, e seleciona seus objetivos de acordo. Isso não significa que deva ser onisciente, infalível ou clarividente. Significa que ele não vive sua vida no curto prazo e não anda por aí como um inútil carregado ao sabor do improviso. Significa que não considera nenhum momento como separado do contexto do resto de sua vida, e que não permite conflitos ou contradições entre os seus interesses de curto e longo prazos. Ele não se torna seu próprio destruidor buscando, hoje, um desejo que destrói todos os seus valores amanhã.

Clientes e parceiros de negócios

É óbvio que as pessoas se beneficiam das outras com quem negociam. Se uma mulher vende um pote de mel em uma feira ou on-line, ela se beneficia da existência de pessoas dispostas e capazes de pagar por seu produto. Vale a pena se preocupar com os desejos, interesses e necessidades de seus clientes, para que possa atendê-los. Ela dedicou muito tempo e esforço para construir seu negócio e sua base de clientes. Preocupar-se com seus clientes é de seu interesse, pois permite que seu negócio cresça e prospere, ganhando ela mais dinheiro para gastar no supermercado, no cinema, em presentes para seus filhos. Assim, seus clientes são importantes para sua vida, pois sustentam a sua empresa.

Da mesma forma, no livre mercado, os interesses dos clientes de uma companhia são importantes para o autointeresse de todos os envolvidos nela. A sua lucratividade de longo prazo depende de atender a seus clientes, e os empregos de todos que nela trabalham dependem de sua lucratividade. Para os acionistas, obviamente, o valor de suas ações também depende da lucratividade dela.

Podemos ver que, especialmente nos setores/eras menos regulamentados da economia dos Estados Unidos, as empresas que melhor atendem os interesses de seus clientes têm melhores resultados no longo prazo. Os computadores estão ficando cada vez melhores e mais rápidos pelo mesmo preço, conforme seus clientes demandam; os carros estão ficando mais seguros e, normalmente, possuem recursos de segurança não exigidos pelos regulamentos governamentais; e, no final dos anos 1800, a Standard Oil reduziu o preço do querosene de 58 para 7 centavos por galão, beneficiando enormemente os clientes ao fornecer luz confiável antes da invenção da lâmpada.

No caso de parceiros de negócios, se trouxerem algo significativo para o seu negócio em termos de habilidades, conhecimento, visão do setor ou experiência de gestão, é claramente do seu interesse que sejam saudáveis ​​e tenham um ótimo desempenho financeiro. A maioria das empresas fecha nos primeiros anos, e sua empresa corre um grande risco de fracassar sem um bom parceiro.

Amigos e parceiros românticos

Quando alguém adquire virtudes de caráter (ou seja, é uma boa pessoa), torna-se potencialmente valiosa como amigo ou parceiro romântico. Amigos e parceiros românticos são pessoas que refletem os seus valores de uma forma significativa e lhe fornecem uma série de benefícios – especialmente do tipo espiritual e psicológico.

Amigos genuínos não só estão familiarizados com você, mas também compartilham e refletem alguns de seus valores e traços de caráter. Ou seja, refletem parte do que faz quem você é. São fonte de inspiração, discussão, diversão, humor e apoio moral. Podem enriquecer suas experiências, como filmes, videogames, visitas a museus, eventos esportivos, etc. Podem alertá-lo sobre coisas novas (ou antigas) de que gostará ou valorizará, como música, filmes, programas de TV, aulas na faculdade ou, até mesmo, oportunidades de emprego. Podem compartilhar suas alegrias e ajudá-lo a colocar seus problemas em perspectiva. Como eles até certo o conhecem e o entendem, às vezes podem lhe aconselhar e, talvez, ajudá-lo a resolver problemas.

Ayn Rand igualou amor e amizade a um tipo de “troca espiritual”: os parceiros dedicam tempo e esforço praticamente iguais ao relacionamento e obtêm benefícios praticamente iguais um do outro.

Se você investe tempo e esforço numa amizade, gerando benefícios para outra pessoa, enquanto ela não faz o mesmo, então sua “amizade” torna-se unilateral, um sacrifício. Se é sempre você que liga, hospeda-a em sua casa, mantém contato, paga a bebida, etc, enquanto ela não retribui, para que serve tal “amizade”? Você não obtém benefícios espirituais, e mantê-la seria uma forma de altruísmo, um sacrifício por alguém que não é verdadeiramente sua amiga no sentido correto do termo.

No caso de um parceiro romântico, aplica-se a mesma reflexão sobre amizade, mas se adiciona a isso o conjunto de valores espirituais obtido através da intimidade sexual. Esta é uma experiência profundamente prazerosa, que exige um parceiro que reflita muito mais que uma simples amizade. O caráter moral é importante em amizades casuais, porém especialmente importante em amizades profundas e relacionamentos sexuais. Uma vez que você está buscando o prazer mais elevado, abrangente e afirmativo da vida com sua parceira e confiando nela em contato próximo com seu corpo nu, é muito importante que seja uma boa pessoa e que tenha uma experiência sexual básica que espelha a sua.

Se, no sexo, você experimenta um senso de seu próprio valor, de sua capacidade de realizar grandes coisas no mundo, de sua capacidade de sentir profunda alegria e prazer, e vê o sexo como um ato puro e nobre que eleva o espírito dos dois, então será uma experiência profundamente estranha e insatisfatória fazer sexo com um parceiro que vê o sexo como degradante e exige que você cuspa em sua cara, cause dor, chame-a de coisas sujas e grotescas.

Tal como nas amizades, os relacionamentos amorosos profundos envolvem uma “troca espiritual”, mas com maior ênfase no caráter moral fundamental e na visão geral básica da vida.

O símbolo de todas as relações entre os homens [racionais], o símbolo moral do respeito pelos seres humanos, é o comerciante. Nós, que vivemos de valores, não de saques, somos comerciantes, tanto na matéria quanto no espírito. Um comerciante é um homem que ganha o que recebe e não dá ou recebe o que não é merecido. Um comerciante não pede para ser pago por suas falhas, nem pede para ser amado por suas falhas.

–Ayn Rand, Atlas Shrugged

Note que, quando Rand diz que uma pessoa racional não pede para ser amada por suas falhas, não quer dizer que você não pode racionalmente esperar ser amado apesar delas, (contanto que sejam menores). Ela quer dizer que você não pode esperar ser amado racionalmente por causa de suas falhas, mas apenas amado por causa de suas virtudes. Note também que o tipo de “falhas” a que Rand se refere (e que contam contra você em questões espirituais) são morais: coisas que você escolheu fazer e que sabia (ou deveria saber) em algum nível serem moralmente erradas. Erros inocentes por ignorância e distúrbios psicológicos não são falhas morais.

Se você seguir num relacionamento amoroso com um parceiro que não reflete suas virtudes, a quem você não respeita como um igual, que não aprecia seus pensamentos e pontos de vista, ou que não o respeita, você está sacrificando uma grande parte de sua vida. Seja explicitamente em prol da suposta “felicidade” do parceiro, ou apenas por emocionalismo e autoilusão, estará envolvido em uma autossabotagem espiritual. Esse é autossacrifício travestido de “amor romântico”, e você está perdendo tempo.

Com todos os benefícios que se obtém de amigos e parceiros românticos, deve ficar claro porque é do seu interesse ajudar um amigo ou parceiro romântico que está em perigo, mesmo não sendo por sua culpa.

Pais e filhos

Se amar seus amigos é uma troca espiritual, amar os próprios filhos é um investimento espiritual. Uma futura mãe mentalmente saudável vê um filho como um complemento futuro à sua felicidade, não a criação de alguém a quem sacrificar sua felicidade. Dedica muito tempo e esforço ao parto e à criação dele, especialmente no início, e obtém prazer emocional com seu crescimento, desenvolvimento e conquistas. Parte desse prazer é vicário, na medida em que lembra a mulher de suas próprias experiências de infância de forma clara e perceptiva, em um momento em que ela é experimente e conceitualmente desenvolvida o bastante para apreciá-las. Parte do prazer vem da realização de seus valores pelo uso de sua própria mente e julgamento para criar as condições que promovem o desenvolvimento saudável de algo valioso: um novo ser humano moralmente bom. A mulher pode ir além de uma simples imitação, usando a própria mente para projetar a infância de seu filho, aprimorando o que ela viveu.

Quando a criança é muito pequena, boa parte do amor dos pais por ela é por seu potencial: o que ela pode (e provavelmente) se tornará com o cuidado parental e a educação adequados. À medida que ela amadurece, tornando-se uma boa pessoa, esse amor se concretiza: a mãe pode então amar a criança por suas virtudes e valores. Quando adulta, a criança virtuosa torna-se como uma boa amiga, tendo com os pais o mesmo tipo de relacionamento que discuti para amigos[1].

Se os futuros pais julgarem que conseguirão sustentar um filho, obtendo prazer da paternidade, valerá o tempo e o esforço para tal, um motivo autointeressado. Portanto, não é autossacrifício para eles dedicar tempo e esforço para criar o filho, mas um investimento com benefícios profundos e duradouros. Segundo o Objetivismo, é perfeitamente moral:

Se [uma mulher] quer uma família e quer fazer disso sua carreira, pelo menos por um tempo, seria adequado – se ela abordar isso como uma carreira, ou seja, se ela estudar o assunto, se ela definir as regras e princípios pelos quais ela deseja criar seus filhos, se ela abordar sua tarefa de maneira intelectual. É uma tarefa muito responsável e muito importante, mas apenas quando tratada como uma ciência, não como uma mera indulgência emocional.

–Ayn Rand, Playboy Interview, 1964

Se, no entanto, os futuros pais julgarem que ter um filho os arruinará financeiramente, ou será muito enfadonho, sem recompensa emocional suficiente, isso é um autossacrifício genuíno, e o Objetivismo diria que é imoral (autodestrutivo) tê-lo. Se não pensam nas consequências, tornando-se pais por irresponsabilidade ou capricho de um deles, não passam de emocionalistas autodestrutivos e imorais.

Do ponto de vista de uma criança, os benefícios que um pai/mãe oferece são muitos e óbvios. Quando uma criança tem idade suficiente para agir de forma independente e ganhar dinheiro, e um pai fez um bom trabalho criando-a, respeitando-a, ela tem motivos próprios de sobra para ajudá-la se o pai/mãe estiver com problemas por motivos fora de seu controle. A quantidade de ajuda depende das circunstâncias e da natureza / proximidade do relacionamento com seus pais. Essa ajuda é a lealdade aos seus próprios valores e a promoção deles na realidade, na forma de outra pessoa (seus pais). E se ele tem uma relação próxima de amizade com seus pais, tem as mesmas razões que teria para ajudar um amigo.

Parentes

Para fins do autointeresse racional, parentes são essencialmente como amigos (colegas) ou como uma mistura de amigo e pai/mãe (família mais velha) ou como uma mistura de amigo e filho (família mais jovem).

Nos dias de hoje, um motivo bastante comum que as pessoas oferecem para exigir que você faça algo para outra pessoa, é fazê-lo “porque ela é da família”. Se você realmente faz algo por outra pessoa pelo simples fato de que ela é da família – isto é, devido a uma relação de sangue ou parentesco – então isso é um autossacrifício genuíno, irracional e imoral segundo o Objetivismo. Não há uma boa razão para ajudar alguém simplesmente porque ele é seu parente. Seu eu essencial, como ser humano, não é constituído por seu DNA físico, nem pelas escolhas de seus pais, mas por suas escolhas e caráter.

Agora, se você conhece o indivíduo em questão, sabe que ele é uma boa pessoa e poderia considerá-lo adequadamente um amigo, pode haver um bom motivo para ajudá-lo. Mas um apelo ao autossacrifício, com base em parentesco é tão ilegítimo como qualquer outro apelo altruísta.

Desconhecidos

Pode-se inicialmente pensar que o Objetivismo diria que os desconhecidos devem ser ignorados e tratados com total indiferença, mas não é o caso. Praticamente todos os amigos, amantes e parceiros de negócios que você tem – e até mesmo algumas de suas relações familiares – começam como desconhecidos. Só por causa desse fato, eles representam valores potenciais para você.

Agora, é verdade que desconhecidos também representam desvalores potenciais – isto é, inimigos, manipuladores, ladrões, etc. Mas, em uma sociedade livre onde as pessoas são geralmente decentes e honestas, é muito mais provável que qualquer desconhecido se torne um aliado em vez de um inimigo. Portanto, em tal contexto, é racional e egoísta tratar desconhecidos com respeito, gentileza e benevolência (não autossacrificial). Atos de bondade que não sacrificam seus interesses podem levar a relacionamentos sociais duradouros e benéficos. Além disso, bons desconhecidos são fontes de benefícios indiretos para você. Em uma sociedade basicamente livre, produzem inovações, tecnologia, produtos, riqueza e valores espirituais que – pelo menos em pequena medida – ajudam-no a melhorar sua própria vida.

Então, por exemplo, você pode ajudar um desconhecido a dar partida em seu carro, se não tiver nenhum lugar realmente importante para estar naquele momento. Mas se ajudá-lo naquele momento o atrasar para uma reunião de negócios, para o nascimento de sua filha ou para deixar seu filho na escola, ajudá-lo seria um autossacrifício.

Ajudar uma criança se afogando, à custa de molhar suas roupas e quase sem risco para a sua saúde, é uma ação autointeressada, uma vez que essa pode resultar em novas relações benéficas, além de salvar uma vida humana que provavelmente gerará benefícios indiretos para você. A criança, simplesmente pelo fato de ser uma pessoa viva (presumivelmente boa) em sua sociedade, reflete uma parte de sua própria vida e valores de interesse próprio, gerando assim uma resposta emocional apropriada em um egoísta racional: um desejo empático de salvá-la.

A caridade autointeressada pode se estender a pessoas com quem você não tem contato direto, feita por alguns dos mesmos motivos pelos quais você ajuda o mendigo que passa por sua casa: que bons desconhecidos são fonte de benefícios indiretos. Em uma sociedade basicamente livre, eles geram inovações, tecnologia, produtos, riqueza e valores espirituais que – pelo menos em pequena medida – o ajudam a melhorar sua própria vida. Ao ajudá-los com um pouco de dinheiro, pode promover o sucesso de seus valores no mundo. No processo, você destaca para si mesmo, não apenas sua dedicação a esses valores, mas sua própria capacidade de gerar uma superabundância com a qual apoiá-los.

Mas se você coloca sua vida em risco significativo por causa de um estranho, ou dá mais do que pode pagar para caridade, ou dedica muito tempo ajudando desconhecidos por um senso de dever ou desejo de se conformar à moralidade altruísta, você está se dedicando ao autossacrifício, o que é terrível. Você está desperdiçando e esgotando sua vida por não agir para alcançar valores positivos, de acordo com seu próprio julgamento.

Meus pontos de vista sobre a caridade são muito simples. Não a considero uma grande virtude e, sobretudo, não a considero um dever moral. Não há nada de errado em ajudar outras pessoas, se e quando elas forem dignas da ajuda e você tiver recursos para ajudá-las. Eu considero a caridade uma questão marginal. O que estou refutando é a ideia de que a caridade é um dever moral e uma virtude primária.

–Ayn Rand, Playboy Interview, 1964

Conclusão

Como você pode ver, o autointeresse genuíno inclui muito mais relações sociais benevolentes do que os conceitos errôneos materialistas e de “prazer de curto prazo” que levam muitas pessoas a pensar. Esses equívocos são promovidos porque as pessoas aceitam a moralidade convencional, mas irracional, do altruísmo (autossacrifício).

Algumas pessoas deliberadamente promovem as versões “espantalho” do egoísmo, pois querem esconder de si mesmas e dos outros a natureza feia e destrutiva do que a sua moralidade realmente prega. Estabeleceram uma falsa dicotomia em que a moralidade do altruísmo inclui algumas boas ações promotoras de vida que, na verdade, pertencem ao egoísmo racional, enquanto a única alternativa alegada é um “egoísmo” irracional e destrutivo que gera sofrimento.

Outras pessoas aceitam de forma mais inocente essa falsa dicotomia altruísta, porque foram ensinadas desde muito jovens que os valores espirituais “superiores” pertencem à moralidade, e a moralidade, como lhes foi ensinado, consiste apenas no altruísmo. Assim, se alguém não aceita a “moralidade” (sua moralidade de altruísmo), não deve se preocupar com os valores espirituais “superiores”. Mas isso está totalmente errado: existe uma moralidade alternativa viável que inclui valores e princípios espirituais.

O egoísmo racional, como Ayn ​​Rand o concebeu, abrange tanto a mente quanto o corpo, e valores de curto e longo prazo. Leva em consideração os benefícios que outras pessoas podem ter para a sua vida como um ser humano total – isto é, como uma pessoa que tem necessidades espirituais e não é um zumbi sem mente devorando riquezas materiais e meros prazeres momentâneos.

Recomendo fortemente que os leitores deste ensaio leiam as obras de ficção e não ficção de Ayn Rand, bem como as obras secundárias de intelectuais objetivistas. Especialmente relevantes para o tópico deste ensaio são The Virtue of Selfishness de Ayn Rand, Loving Life de Craig Biddle e Normative Ethics, de Tara Smith.


[1] Se a criança faz escolhas erradas que a levam a se tornar uma pessoa realmente má na idade adulta, digamos, um assassino em série ou ladrão, então seria irracional e moralmente errado da parte de um pai continuar a tratar a criança como alguém que vale a pena valorizar. É apenas a negação irracional e a autoilusão que permitiriam aos pais darem “amor incondicional” a este filho.

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Publicado originalmente em Objectivism in Depth

Traduzido por Hellen Rose.

Revisado por Matheus Pacini

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