Na interminável batalha em prol do ser humano, pareceu-me importante explicar o real significado da moralidade do altruísmo. É uma tarefa difícil, considerando que aprendemos desde a infância que ser egoísta é ruim, enquanto ser altruísta, é bom.
O primeiro passo é nos afastarmos da moralidade predominante, de origem mística, que nos diz o que devemos ser e fazer, sem explicar por que – fato esse que me tornou um crítico dessas imposições injustificadas desde a minha infância.
A primeira e grande questão é: por que o ser humano precisa de uma ética?
A razão é profunda, porém simples: a vida pode ser perdida. Manter e sustentá-la requer esforço contínuo, e opções erradas podem levar à perda da vida a qualquer momento.
A vida é um valor: essa é – ou deveria ser – nossa primeira definição.
Ética – ou moralidade – é um código de valores para guiar as ações do ser humano, que determinam o propósito e o curso de nossas vidas.
A verdadeira ética deve estar a serviço da vida: o ser humano precisa dela, pois a vida é um processo autossustentável, que exige pensar, lidar com a realidade e agir de acordo. Temos o desafio permanente de escolher as melhores ações e evitar as piores – é aí que entra a ética – uma necessidade objetiva (aplica-se a todos os seres humanos, mesmo que habitem em uma ilha deserta).
A ética é uma exigência da vida; não pode, nem deve ser imposta pela sociedade ou por outras pessoas (como quase sempre foi até agora). E o ser humano pode definir um código racional de valores, usando o conhecimento disponível em todas as ciências sobre a natureza humana e a natureza em geral.
O ser humano criou ciências para vários campos do conhecimento, mas falta uma ciência: a da ética. Hoje, ela é dominada pelas religiões, logo, podemos dizer foi “sequestrada”. As religiões apresentam uma “ética” que, na verdade, é sua negação (pois, se alguém, de fato, segue o altruísmo à risca, o resultado final é a morte).
Altruísmo não é apenas “benevolência”, mas sim, sacrifício. O objetivo da ética é ser um guia para uma boa vida, não um guia para como sacrificá-la (como a moral islâmica, em que o valor é a morte).
O principal beneficiário das ações éticas de uma pessoa deve ser ela mesma.
Tratar bem os outros está em nosso interesse, e a liberdade só é possível com responsabilidade e proteção dos direitos individuais. Não é possível construir uma sociedade, uma organização, um casamento, um relacionamento amigável, uma vida, sem autorresponsabilidade. Sem ela como valor central na cultura, uma sociedade livre não é viável. O princípio ético básico da liberdade se baseia na premissa de que cada indivíduo tem responsabilidade por suas ações.
Altruísmo NÃO É o mesmo que benevolência, preocupação, boa vontade ou respeito pelos direitos dos outros. É muito mais do que isso: é abnegação, resignação, autossacrifício, autoimolação, autodestruição. Declara que qualquer ação em benefício de outras pessoas é boa; qualquer ação em benefício próprio, ruim. O que define bom ou mau não é a ação em si, mas o beneficiário dela (qualquer pessoa serve, não importa se é um ser querido ou não, basta que NÃO seja quem faz a ação). Isso nos leva a pensar que não temos nada a ganhar com a moralidade, só temos a perder: a moralidade é nossa inimiga.
Esse é um dos motivos porque algumas pessoas são consideradas “imorais”, pois não obedecem a uma ética da qual não se beneficiam. Talvez por isso encontramos tantas ações infelizes e desvios de conduta (todos somos, em certa medida, corrompidos por essa ética assassina). É a consequência natural de não valorizar ou reconhecer as melhores qualidades humanas: mérito, inteligência, habilidade, autoconfiança, autoestima, razão, trabalho criativo e sucesso. Além disso, o altruísmo não é considerado uma mera virtude; benevolência, bondade e caridade são bem-vindas, mas o sacrifício pelos outros é a VIRTUDE MÁXIMA.
Para a filosofia objetivista, a benevolência também é uma coisa boa, mas isto não significa que a ética deva girar em torno disso. A ética é algo muito maior, o conjunto total das atividades humanas (precisamos da ética, mesmo se vivêssemos numa ilha).
Altruísmo versus capitalismo
A aceitação prévia da ética dominante é a principal razão pela qual o sistema capitalista é rejeitado, apesar de ser o único que reconhece e respeita a natureza do ser humano, que tem o indivíduo como base e razão de ser, com a verdadeira justiça como seu princípio ordenador. Mas ele é rejeitado em princípio, pois é incompatível com a moralidade altruísta.
É a ética do altruísmo que causa uma rejeição à liberdade, ao mercado e ao capitalismo. A batalha pelo capitalismo é, principalmente, uma batalha MORAL.
Muitos dos normalmente considerados “defensores do capitalismo” ignoram tudo isso, logo, não convencem ninguém. Por um lado, a superioridade do capitalismo em todas as áreas é amplamente demonstrada – é o sistema social, político e econômico que gera mais riqueza – e QUE MAIS TIRA PESSOAS DA POBREZA.
Em um ambiente livre, a riqueza criada é transferida para todos de maneiras distintas e imprevisíveis, contribuindo para alimentar o processo geral de bem-estar. A “desigualdade” econômica resultante, tão combatida pelos coletivistas, longe de ser injusta e prejudicial, é uma expressão de verdadeira justiça e benéfica para todos (é preferível ter vizinhos ricos e ser menos pobre, em vez de estar rodeado de pobres e ser um deles).
Os pobres em países com maior liberdade econômica – que estão mais próximos do verdadeiro capitalismo -, ganham em média 10x mais do que os pobres em países com pouca ou nenhuma liberdade.
A verdadeira injustiça consiste em querer “igualar” pessoas e resultados, desconsiderando as enormes diferenças que existem – o que as pessoas são, o que fazem e o que produzem.
Quem realmente quer melhorar a situação dos pobres deveria ser a favor do capitalismo. Se isto não acontece, é porque o sistema é condenado pela ética altruísta. Além disso, muitos ainda não sabem em que consiste o verdadeiro capitalismo; consideram “capitalista” o sistema em que vivem, que é uma economia mista, na qual a interferência do governo na economia e em outras áreas é brutal.
O verdadeiro capitalismo defende os direitos individuais – corretamente definidos -, a liberdade individual e de mercado, o direito de propriedade, a busca de sua própria felicidade e o direito de cada um seguir seu próprio interesse (é claro, isso não inclui violar o direito dos outros – esclarecendo para aqueles que têm dificuldade para entender).
Um corolário da liberdade individual é o livre mercado (a soma de todas escolhas, decisões e ações econômicas voluntárias tomadas por todos os participantes – o processo mais democrático que existe).
O progresso do ser humano em todas as áreas se deve às contribuições de milhões de pessoas ao longo dos tempos, cada uma exercendo sua liberdade da melhor maneira possível, seguindo seu próprio interesse, em seu campo de ação, alguns em grau mínimo, outros no nível da genialidade, beneficiando a todos, mesmo sem querer. Tudo o que nos permite uma vida melhor, todas as coisas boas que existem, foram criadas por seres humanos (vale lembrar, usando o principal “meio de produção”: sua própria mente).
Nestas condições, todos – grande ou pequeno, empresário ou cliente, fabricante ou prestador de serviços, chefe ou funcionário – são obrigados a oferecer VALORES para obter algum valor em troca.
Isto vale para um pintor, um pedreiro, um médico, uma empresa de arquitetura, um proprietário de padaria ou um fabricante de helicópteros.
Essa situação favorece a racionalidade, eficiência, decisões corretas, produtos ou serviços úteis, preços adequados, bom atendimento ao cliente, trabalho, inovação … Quando alguém se torna rico nesse processo, significa que ele é o proprietário de uma pequena parte da riqueza que entregou e que é desfrutada por outros. Isto é justiça.
Parece fantástico, não é?
Se aqueles que, de alguma forma, contribuíram para criar tais coisas se tornam bilionários, faz-se justiça, pois cada um recebe o que merece.
Invertendo a lógica
Benfeitores são Albert Schweitzer, Madre Teresa de Calcutá. Eles se sacrificaram!
Bill Gates é mais respeitado por sua fundação filantrópica do que por sua extraordinária criação de riqueza na Microsoft. Seguir o seu próprio interesse é claramente “egoísta”. O interessante é que Bill Gates continua seguindo seu próprio interesse!
A atual imposição e chantagem altruísta está levando algumas empresas e indivíduos (às vezes fazendo contribuições filantrópicas extraordinárias) a se desculpar pelo uso de suas mentes, declarando que seu esforço é dedicado a alcançar algum objetivo social-altruísta. Isso é visível em algumas declarações de empresários e em ações de marketing.
Depois de muitos anos estudando o assunto em livros, na Internet, na história e na realidade atual, hoje concordo com a filósofa Ayn ??Rand de que a motivação desta moral de origem mística não é a busca da verdade, nem o alívio do sofrimento, nem a eliminação da pobreza, mas sim o ódio da mente e da vida humana, da inteligência, da habilidade, do sucesso – ódio do bom, porque é bom.
O grande motivador subjacente é um sentimento destrutivo pouco reconhecido, chamado inveja.
O que obscurece a visão para perceber coisas tão óbvias? A constante manipulação, a falta de contato com outros pensadores, a atribuição incorreta de causas, a manutenção da ignorância.
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Revisado por Matheus Pacini.
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