A questão do “valor” deve ser abordada primeiro na Filosofia, não na Economia. Essa questão faz parte do ramo filosófico da Ética, e já é discutida pelos filósofos há milênios. As duas visões mais populares sempre foram: i) a do valor intrínseco, que dizia que o valor era dado por um ser sobrenatural ou pela natureza das coisas (tendo como variante a teoria do valor-trabalho, por exemplo) e ii) a do valor subjetivo, que dizia que o valor era o que alguém quisesse que fosse.
Obviamente, essas visões apresentam uma falsa dicotomia. A falha da visão intrínseca é vista no exemplo de um homem que está se afogando, para quem a água não tem valor. A falha da visão subjetivista é vista no exemplo de um louco que tenta comer chumbo e beber petróleo.
Uma terceira visão, proposta por Ayn Rand, definiu valor como “aquilo que alguém age para obter e/ou manter”. Observou que os seres vivos são fundamentalmente diferentes dos não vivos: têm um atributo que pode deixar de existir, isto é, sua própria vida. A vida requer que todo ser vivo aja para obter e/ou manter valores. Mesmo uma planta deve crescer suas raízes em direção à água, e seu caule em direção à luz.
O homem se distingue de todos os outros animais porque pode fazer escolhas. Ao contrário dos animais, que agem por instinto, o homem pode escolher suas ações e seus valores. Os valores não são dados automaticamente como resultado de instintos, revelações ou qualquer outro processo fora da consciência. E o homem pode cometer erros. E alguns valores são “opcionais”: a preferência por sorvete de baunilha e não de chocolate, por exemplo.
A visão correta do “valor”, portanto, começa ao reconhecer que ele é determinado por um ato consciente. A natureza do homem diz que ele deve pensar e agir baseado em suas conclusões. Além disso, é necessário reconhecer que o valor não é arbitrário, nem um capricho que uma consciência atordoada ou disfuncional pode conceber. Há um poema chamado “Tempestade” que destaca um ponto, entre muitos outros, de que uma pessoa não é livre para sair pela janela do segundo andar.
Um valor, portanto, é baseado em um ato da consciência, como também na realidade. Existe o reconhecimento de que que algo na existência sustenta ou prolonga a vida de alguém.
Não se pode fazer a pergunta “de valor?” sem antes responder para quem e para quê.
E aqui entra a Economia, após a Filosofia fazer sua parte. Carl Menger foi o primeiro a aplicar essa abordagem ao valor, de que é o indivíduo que dá valor à unidade. Não faz sentido falar de sociedades, nações ou coletivos, nem de valor como algo intrínseco a um objeto inanimado, muito menos de valor como algo arbitrário, caprichoso, espúrio ou desconectado da realidade, vida ou razão.
É esse o significado de “subjetivo” para Menger: o indivíduo é o sujeito adequado da Economia, não a classe dos trabalhadores ou a nação dos britânicos. Entender esse conceito ajuda a explicar inúmeros fenômenos como, por exemplo, a redução da utilidade marginal.
Por que a utilidade marginal funciona assim? Por que todo mundo avalia a 11ª unidade como de menor valor que a 1ª? Porque as pessoas valorizam o trigo para sua alimentação. Porém, a necessidade de comer é finita e, tão logo satisfeita, busca-se satisfazer outras necessidades.
Penso que esse assunto é importante porque a Escola Austríaca diz respeito ao livre mercado e à defesa da liberdade. Os estatistas têm uma visão muito diferente (e desonesta) da Economia. Existe uma filosofia que leva e prova que o livre mercado e a liberdade não são apenas o caminho para a prosperidade, mas também o único sistema verdadeiramente moral.
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Publicado originalmente em Monetary Metals.
Traduzido por João Rodrigues.
Revisado por Matheus Pacini.
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