“Para Ayn Rand, as ideias não eram um jogo de tabuleiro, mas sim a forma pela qual o homem pode compreender o mundo, ou seja, essenciais para a ação e sobrevivência humana.”[1]
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Se você se aproximasse de um indivíduo qualquer, fizesse uma lista das coisas que ele valoriza, e lhe dissesse seriamente: “tenho a intenção de destruí-las, deixando-lhe jogado na sarjeta”, ele se irritaria, sem dúvida. O que tornava Rand diferente do resto da humanidade é o fato de que ela podia “ouvir” a lista completa e a intenção de destruí-las numa afirmação popular entre nós: “a realidade é irreal.”
Em nossa era de pragmatismo e ceticismo, a maioria das pessoas despreza qualquer generalização sobre a realidade como mero papo furado, ou seja, como abstrações flutuantes, e só reage a declarações sobre coisas muito concretas. Com Ayn Rand, acontecia o contrário. Ela reagia de forma muito mais intensa às questões filosóficas que às coisas concretas, afinal, quanto mais abstrato o comentário maligno, mais território abarca e, portanto, maior era o potencial destrutivo que ela via nele.
Da mesma forma, se Ayn Rand escutasse uma ideia básica que considerava verdadeira – uma ideia que defendia a realidade e a razão, como muitos dos princípios de Aristóteles – ela respondia com respeito e admiração e, inclusive, gratidão. Para ela, as ideias não eram um jogo de tabuleiro, mas sim a forma pela qual o homem compreendia o mundo, ou seja, essenciais para a ação e a sobrevivência humanas. Para ela, então, as ideias verdadeiras eram um ativo valiosíssimo; as falsas, um desastre potencial.
Mas, assim como Ayn Rand não separava abstrações de concretos, tampouco permitia que os concretos permanecessem desligados das abstrações. Ou seja, ela repelia a política geral atual que é observar os acontecimentos cotidianos em um vazio para logo lamentar que a vida é ininteligível. A ação de um homem, dizia ela dizia, é produto do seu pensamento. Para serem entendidas, portanto, as ações de um homem têm que ser consideradas em relação às suas ideias. Fosse lendo um romance inspirador de Victor Hugo, presenciando algum horror procedente da educação progressiva, assistindo à odisseia emocionante dos Estados Unidos no espaço, analisando mais uma decisão catastrófica de Washington ou o comportamento aparentemente incompreensível de um amigo em quem tinha confiado – fosse o que fosse, ela sempre buscava sua explicação identificando as ideias em sua raiz, o pensamento.
Dado que a abstração, segundo a sua filosofia, é o meio à disposição do homem para compreender e lidar com as coisas concretas, elas as usava para esse fim. Nunca se contentou nem com teorias flutuantes, nem com notícias pontuais e ininteligíveis; sempre exigiu uma unidade crucial: de teoria e realidade, das ideias e fatos, dos conceitos e preceitos.
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Apresentação realizada por Dr. Peikoff no Ford Hall Forum de Boston no dia 12 de abril de 1987, e publicada no The Objectivist Forum em junho de 1987.
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Traduzido por Matheus Pacini.
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[1] Retirado de “My Thirty Years With Ayn Rand: An Intellectual Memoir”, por Leonard Peikoff, The Voice of Reason, Epílogo.