Está nos cinemas o filme Wonka, que conta a história de origem do famoso dono da fábrica de chocolate do icônico filme A Fantástica Fábrica de Chocolate. A obra é mais focada no público infantil, mas tem uma história interessante com diversos aprendizados e exemplos importantes não só para as crianças, mas principalmente para os adultos, e quero explorar exatamente isso: a faceta empreendedora do personagem principal, característica que, infelizmente, raramente vemos em filmes infantis.
No filme [alerta de spoiler], Willy Wonka é um imigrante recém-chegado na cidade onde sonha em abrir sua loja de chocolates: o menino passa por dificuldades, mas com a ajuda de seus amigos enfrenta um cartel e policiais corruptos para então finalmente ter a liberdade de construir a fábrica e loja de chocolate com que tanto sonhou. O personagem é um empreendedor e uma alma livre na sua essência: ele chegou num lugar novo cheio de incertezas com apenas um sonho, a motivação e a habilidade de fazer bons chocolates, atravessou um mar de desafios e atingiu o sucesso.
Assim como no livro Cântico de Ayn Rand, onde o personagem principal ousa ser inovador e pensar diferente para mudar o status quo estabelecido, Wonka busca vender seus chocolates diferentes por um preço mais baixo, e em ambas histórias os heróis são punidos pelo grupo poderoso que controla a força e a polícia. Tanto no livro de Ayn Rand como no filme estrelado por Timothée Chalamet, a escassez de iniciativa individual e a estabilidade justificada por um falso bem comum geram atraso para toda a sociedade.
Como qualquer projeto, Wonka não criou sua empresa sozinho, ele liderou seu grupo eclético de amigos, que contava inclusive com um famoso Oompa-Loompa, que além de terem se juntado ao sonho de criar uma fantástica fábrica de chocolate, identificaram o potencial da iniciativa ser um passo para conquistarem os seus próprios sonhos. Este é outro aspecto em que o filme acerta: existe, ao mesmo tempo, uma colaboração entre o grupo de heróis, mas também cada um tem sua própria definição de sucesso e trabalha para chegar lá, mostrando que, ao colaborar num ambiente livre, cada um consegue traçar a sua história e conquistar os seus objetivos.
Willy entende que o seu trabalho e seu empreendedorismo são a sua forma de se expressar como ser humano. Ao ser confrontado com a possibilidade de perder a liberdade de construir o seu sonho, o protagonista é assolado por uma falta de propósito, e, ao incentivar os seus amigos para reverter a situação, ele fala “se o mundo é assim, vamos mudá-lo”. São personagens assim, autoconfiantes, orgulhosos de sua habilidade, pensadores independentes e desafiadores do status quo que deveríamos ver mais nos filmes, principalmente nos filmes infantis.
Todo ser humano se expressa como um indivíduo, trabalhando e colaborando com outros para chegar no seu sonho e ajudando para que outros alcancem os seus. Entretanto, a liberdade de cada um buscar a sua felicidade e o seu objetivo é mais importante do que a própria conquista. No livro Cântico, quando o personagem tem a realização de que pode pensar e agir livremente em busca da sua visão, esse é o momento do triunfo, o momento de realização do seu propósito e quando o protagonista se transforma em herói. Ter a liberdade para trilhar o seu caminho é mais relevante do que o destino almejado. Wonka nos mostra que você não precisa salvar o mundo para ser herói, todos que enfrentam incertezas e desafios e trabalham honestamente para alcançar seus sonhos são heróis. Como diria a mãe de Willy no filme “tudo de bom no mundo começou com um sonho”.