Resenha: “A nascente”

A nascente é um romance no qual Ayn Rand traduz todos os principais conceitos do Objetivismo, descrito como “uma filosofia para se viver na Terra” e que guarda muita relação com sua história de vida.

Nascida na Rússia em fevereiro de 1905, ela aprendeu a ler sozinha aos seis anos e, dois anos mais tarde, descobriu seu primeiro herói em uma revista francesa para crianças, captando, assim, a visão heroica que balizou seu modo de escrever por toda a carreira.

Sua forma de escrita é muito baseada em uma visão heroica dos personagens principais, os quais são o retrato do que seria o “homem ideal” na concepção da autora. Também é notório o esforço colocado na concepção de cada um dos personagens, que são imbuídos de características específicas, capazes de representar o “ideal” dela. Não à toa, Rand afirmou que criava seus personagens com a intenção de que fossem pessoas interessantes o suficiente para os leitores quererem conhecê-los de verdade.

A nascente é um romance que, por meio desses personagens, busca confrontar os valores e virtudes pré-fixados pela sociedade com os pilares do Objetivismo.

O romance principal é a história entre Howard Roark, personagem principal, e Dominique Francon, mas, ao decorrer da obra, vários outros personagens são apresentados como referências às crenças e princípios que norteiam ou contradizem o pensamento de Rand.

Howard Roark representa o homem ideal na visão da escritora. No início da obra, o personagem está abandonando sua graduação em Arquitetura por considerar não haver nada de fundamental a aprender com seus professores e por se recursar a estudar estilos arquitetônicos que não desejava aplicar em sua profissão. Ao mesmo tempo, Howard era um excelente aluno das matérias técnicas que lhe despertavam interesse.

Seu relacionamento com a arquitetura é complicado porque o personagem se recusava a limitar seu conhecimento àquilo que já havia sido desenvolvido e buscava enfrentar o status quo imposto pela sociedade, propondo novas visões e formas de fazer as coisas para que sua atuação profissional continuasse evoluindo. Roark é um personagem que incomoda todos os outros, principalmente porque ele não depende da aprovação de ninguém para seguir adiante e lutar por aquilo que acredita.

O segundo personagem apresentado na obra é Peter Keating, colega de faculdade de Howard que se formou com destaque e iniciou sua carreira em um famoso escritório de arquitetura. Peter é admirado pelos demais porque representa o padrão esperado do sucesso, no entanto, acaba sendo um personagem sem muita personalidade, que vive seguindo o padrão imposto pelos outros. Para atingir esses padrões, Peter é capaz de tudo, independentemente de ter que contrariar suas paixões e do mal que possa causar.

Keating é um personagem que vive exclusivamente para atender a vontade dos outros, não à toa abandonou duas de suas paixões, a pintura e Catherine Halsey, apenas para atingir um falso status social de maior requinte.

Catherine, por sua vez, é uma garota sincera cuja única paixão é seu amor por Peter Keating. A personagem vive com seu tio Ellsworth Toohey e é vítima da excessiva busca de poder deste, que a convence a desistir de todos os planos que diminuíssem sua subordinação. Toohey é quem convence Catherine a desistir do seu plano de fazer uma faculdade e é quem trabalha duro para convencer Peter a cortejar Dominique ao invés de Catherine.

Ellsworth Toohey é um escritor renomado, crítico de artes e manipulador das massas. Por não possuir talento para se destacar honestamente, Toohey exalta aquilo que é mais desprezível para que as pessoas não conheçam aquilo que verdadeiramente é brilhante.

Seus escritos defendem o altruísmo e o coletivismo, direcionando as pessoas a abandonarem seus próprios desejos e seguirem o império do senso comum, vivendo subordinados à visão dos outros, assim como fez com sua sobrinha. Toohey teme o homem livre, virtuoso e trabalha para destruí-lo. 

Outro personagem com traços virtuosos é Gail Wynand, um empresário de sucesso que construiu seu patrimônio do zero e é dono do jornal The Banner. Apesar de ter potencial para ser racional, independente e perseguir seus próprios objetivos, ele fracassa. Em razão da grande influência que seu jornal possui, o personagem acredita ter poder sobre as massas. No entanto, em determinado episódio, ao defender a causa de Howard Roark por acreditar nela e ser coerente com seus princípios, Gail enfrenta o status quo e vê que, na verdade, não tinha poder algum.

A nascente é recheada de outros personagens igualmente interessantes e consegue promover uma reflexão muito importante ao longo de mais de novecentas páginas.

Como traço marcante da escrita de Ayn Rand, há um embate entre um personagem heroico construído dentro dos valores ideais e um personagem desprezível representando aquilo que ela mais repudiava, e esse embate visa justamente defender a ideia central do livro: a de que os indivíduos só serão felizes quando viverem pelos seus próprios ideais e forem livres e independentes para perseguirem suas próprias vontades.

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