Empatia e um conceito amplamente mal-entendido. Entendê-lo adequadamente é o primeiro passo para transformar seus relacionamentos com outras pessoas e com si próprio.
Empatia não e o mesmo que compaixão.
Compaixão é o que você sente em relação à outra pessoa. Você sente compaixão quando sente o mesmo que outra pessoa.
Por exemplo, suponha que a mãe de seu amigo morre, e você fica triste. Você sentiu com ele. Claro, esse exemplo presume que seu amigo está de luto. Se seu amigo se sente culpado, você só teria compaixão por ele se também se sentisse assim.
Da mesma forma, se sua colega leva uma bronca na frente da equipe, sua compaixão dependerá de como ela se sente. Se ela está brava, tal como você ficaria, então você sente compaixão por ela. Mas suponha que ela tenha ficado indiferente ao ataque: se você ficou com raiva por ela, você não sentiu compaixão por ela.
Quando você sente compaixão por alguém, você compartilha o drama dessa pessoa. Se ela está decepcionada, você também esta. Se ela está feliz, você também. Vocês compartilham a mesma montanha-russa de emoções.
Essa pode ser uma experiência inebriante que cria uma ligação imediata. Entretanto, a compaixão, por ser baseada em sentimentos, não está diretamente sob seu controle.
Tao logo as emoções divirjam, a ligação é quebrada. Esse descompasso cria com frequência outra rodada de drama, mas dessa vez, envolvendo raiva entre os antagonistas.
Empatia é diferente.
Empatia é a consciência de um profundo valor racional que motiva os pensamentos, os sentimentos e as ações de uma pessoa em um determinado momento. É a consciência dos valores que estão em jogo para ela.
Você não precisa compartilhar os mesmos sentimentos para ser empático com alguém. Não precisa concordar a respeito do valor em jogo. Não precisa acreditar que o outro agiu racionalmente. Só precisa ter consciência do valor racional que é a causa raiz daquela motivação. Por um valor racional, quero dizer um valor que serve às necessidades vitais.
Você pode ficar perplexo com o fato de que uma resposta irracional pode se originar de um valor racional. Isso é possível porque toda motivação tem relação a uma cadeia causal que começa com as necessidades da vida. Em última análise, um valor racional está na raiz até mesmo de uma reação irracional: vá fundo o bastante e descobrirá.
Por exemplo, noutro dia me irritei com a forma como minha empregada secava as panelas. Essa foi uma reação totalmente desproporcional, que nada tinha a ver com as panelas ou a minha empregada. Acontece que eu estava precisando resolver um problema, e o barulho das panelas interrompeu o silêncio que pairava.
Ficar irritada com a forma como alguém secava uma panela não é racional. Mas não consegui entender o que estava acontecendo até que refiz a cadeia causal, encontrando a minha necessidade de silêncio. Assim, entendi que tive uma reação exagerada, me desculpei e consegui o silêncio de que precisava. Rastrear o valor que está em jogo e o que lhe faz retomar uma perspectiva racional.
Moralistas frequentemente confundem ser empático com psicologizar. Consideram essa uma forma de amenizar comportamentos irracionais através de alguma motivação racional. Mas esse não e o propósito de ser empático consigo mesmo ou com os outros.
O propósito é revelar uma sólida base racional para seguir adiante. Nessas circunstâncias, quando você identifica um valor racional importante – especialmente, se está obscurecido por motivações irracionais – a situação muda radicalmente: você abre espaço para o valor racional e coloca o foco na forma de alcançá-lo. Reconhece a motivação irracional pelo que ela é – uma perspectiva distorcida.
Por isso é tão importante ser empático com outra pessoa durante uma conversa. Se você nomeia os valores racionais profundos que importam para ela, a perspectiva dela muda instantaneamente. Ela se focará nesse valor, concluindo que você a entendeu e, mais importante, que a respeita. Se ela estiver estressada, reagindo emocionalmente, o fato de você mencionar valores racionais irá ajudá-la a confiar em si mesmo e focar no que realmente importa.
Ser empático consigo mesmo quando está estressado é essencial para uma abordagem construtiva. A autocrítica pode desencadear um ciclo vicioso de baixa autoestima que sabota tudo ao redor. Por outro lado, identificar os valores que estão em jogo estabelece um ciclo virtuoso que dissolve crenças obsoletas e nutre a motivação para perseguir metas mais desafiadoras.
Aprendi a diferença entre empatia e compaixão com Marshall Rosenberg. Mas, como sempre, essa distinção é exclusivamente minha, já que combinei as ideias dele com a ética objetivista. Algumas pessoas rejeitam essa análise, pois o vocábulo empatia não é definido assim no dicionário. De fato, não é.
A definição de empatia no dicionário é tipicamente indistinguível da definição de compaixão. Mas precisamos definir um conceito para essa resposta objetiva à emoção. A emoção é um alerta para os valores que parecem estar em jogo.
Sendo assim, não se deve julgar, nem engolir as emoções. Em vez disso, elas precisam ser investigadas objetivamente, a fim de descobrir os valores subjacentes. Esses valores podem então ser contabilizados em uma avaliação racional sobre o que deve ser feito.
Se você deseja estimular nos outros um comportamento racional, aprenda a ser empático, não compassivo quando eles estiverem estressados.
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Publicado originalmente em Thinking Directions.
Traduzido por Hellen Rose.
Revisado por Matheus Pacini.
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