definição

há um certo tipo de argumento que, de fato, não é um argumento, mas um meio de evitar o debate e extorquir a concordância de um oponente com noções não discutidas. é um método de contornar a lógica por meio da pressão psicológica.

[ele] consiste em ameaçar pôr em dúvida o caráter de um oponente por meio de seu argumento, pondo, assim, em dúvida, este, sem debate. Exemplo: “somente os imorais podem não conseguir ver que o argumento do candidato x é falso.” […] a falsidade do argumento é afirmada arbitrariamente e oferecida como prova de sua imoralidade.

na selva epistemológica de hoje, esse método é usado mais frequentemente que qualquer outro tipo de argumento irracional. Deve ser classificado como uma falácia lógica e pode ser designado como “argumento da intimidação”.

a característica essencial do argumento da intimidação é o seu apelo à incerteza moral e sua confiança no medo, culpa ou ignorância da vítima. é usado na forma de um ultimato que exige que a vítima renuncie a uma suposta ideia, sem discussão, sob a ameaça de ser considerada indigna do ponto de vista moral. O padrão é sempre o mesmo: “somente aqueles que são nocivos (desonestos, desumanos, insensíveis, ignorantes, etc) podem sustentar esta ideia.’'[1]

 

como é usado

o argumento da intimidação domina de duas formas as discussões atuais. Em discursos e impressos, floresce na forma de longas, envolventes e elaboradas estruturas de palavrório ininteligível que transmite claramente uma ameaça moral. (“apenas a pessoa de mente primitiva pode não conseguir perceber que a clareza é simplificação em demasia.”) mas na experiência diária particular, ele surge de forma não identificável, nas entrelinhas, na forma de sons inarticulados que exprimem implicações indeterminadas. Ele confia, não no que é dito, mas em como é dito — não no conteúdo, mas no tom de voz.

o tom é, geralmente, de incredulidade desdenhosa ou beligerante. “certamente você não é um defensor do capitalismo, não é?” e se isto não intimidar a provável vítima — que responderá, apropriadamente: “eu sou.” — o diálogo decorrente será mais ou menos assim: “ah, você não pode ser! Não mesmo!” “mesmo.” “mas todos sabem que o capitalismo está fora de moda!” “eu não.” “ah, não!” “já que eu não sei, você me diria, por favor, as razões para pensar que o capitalismo está fora de moda?” “ah, não seja ridículo!” “você me diria as razões?” “bem, realmente, se você não sabe, provavelmente eu não poderia lhe dizer!”

tudo isso é acompanhado por sobrancelhas levantadas, olhares fixos arregalados, dar de ombros, grunhidos, risinhos e o arsenal completo de sinais não verbais que dão indiretas funestas e comunicam vibrações emocionais de um único tipo: desaprovação.

se as vibrações falham, se os debatedores são desafiados, pode-se achar que estes não têm argumentos, evidências, provas, razões, nenhum motivo pra insistir — que sua agressividade barulhenta serve para esconder um vácuo — que o argumento da intimidação é uma confissão de impotência intelectual.[2]

 

em poucas palavras

[ele] consiste em introduzir julgamento moral em questões intelectuais, mas em substituir o julgamento moral pelo argumento intelectual. Avaliações morais estão implícitas na maioria das questões intelectuais; não é simplesmente admissível, mas imperativo, expressar um julgamento moral quando e onde apropriado; suprimir este julgamento é um ato de covardia moral. Um julgamento moral, porém, sempre deve seguir, e não preceder (ou substituir), as razões nas quais é baseado[3].

 

como resistir a esse argumento

existe apenas uma arma contra ele: certeza moral.

quando se entra numa batalha intelectual, importante ou não, pública ou privada, não se pode buscar, desejar ou esperar a aprovação do inimigo. Verdade ou falsidade deve ser a preocupação única de alguém e seu exclusivo critério de julgamento — não aprovação ou desaprovação de alguém; e, acima de tudo, não a aprovação daqueles cujos padrões são opostos aos que se tem.[4]

o exemplo que mais ilustra a resposta adequada ao argumento da intimidação foi dado, na história americana, pelo homem que, rejeitando os padrões morais do inimigo com total certeza de sua própria retidão, disse: “se for traição, tire todas as vantagens que puder.“[5]

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publicado originalmente em ayn rand lexicon

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[1] rand, ayn. a virtude do egoísmo. Trad. De on line-assessoria em idiomas. Porto alegre: ed. Ortiz/iee, 1991. P.173

[2] rand, ayn. a virtude do egoísmo. Trad. De on line-assessoria em idiomas. Porto alegre: ed. Ortiz/iee, 1991. P.175

[3] rand, ayn. a virtude do egoísmo. Trad. De on line-assessoria em idiomas. Porto alegre: ed. Ortiz/iee, 1991. P.178

[4] rand, ayn. a virtude do egoísmo. Trad. De on line-assessoria em idiomas. Porto alegre: ed. Ortiz/iee, 1991. P.178

[5] rand, ayn. a virtude do egoísmo. Trad. De on line-assessoria em idiomas. Porto alegre: ed. Ortiz/iee, 1991. P.178