Uma crítica do romance “Cântico” a um mundo comunista

Cântico é um livro curto, de leitura leve e fácil, apesar da sua história pesada e que foge dos padrões com que estamos acostumados. Trata-se de um romance distópico que retrata uma sociedade onde a palavra “eu” foi suprimida. Toda vez que o protagonista se refere a si próprio, usa o pronome “nós”, o que gera estranheza até ser entendido.

Na obra, os nomes dos personagens são palavras genéricas seguidas por números, como, por exemplo, o do protagonista, “Igualdade 72521”. Cabia ao Estado nomear os indivíduos (assim como os nazistas nomeavam os judeus), bem como programar nascimentos e relacionamentos em uma “casa de acasalamento”.

Pela narrativa, podemos vislumbrar como seria um ambiente comunista-fascista, onde o coletivo é o que realmente importa, e conceitos como individualismo, liberdade ou propriedade privada não tinham vez. Nessa sociedade, o Estado definia tudo: com o que as pessoas deveriamtrabalhar, se deveriam ou não estudar, quando poderiam caminhar na rua, e que palavras poderiam utilizar.

Neste romance, o protagonista é um individuo curioso que, por um lado, quer aprender e não se conforma em ter que seguir todas regras irracionalmente impostas; e, por outro, sente-se inicialmente culpado por ter anseios próprios e por escolher fazer uso da sua capacidade de pensar. Apesar desse perfil, Igualdade é designado à função de varredor de rua, na qual não lhe seria permitido desenvolver suas habilidades e florescer, tudo em prol do bem coletivo.

Em certo momento, durante seu trabalho, o protagonista encontra um local abandonado e passa a utilizá-lo como um “laboratório” para realizar análises, experiências e até dissecações de animais mortos. Com isso, encontra resquícios de tecnologias que provavelmente tinham sido utilizadas nos tempos não mencionáveis (expressão utilizada para designar os anos anteriores ao da narrativa), mas que foram inutilizados por alguma razão. O protagonista, desafiando a posição que lhe fora imposta pelo Conselho, consegue criar uma lâmpada, objeto que revolucionaria para melhorar a situação de todos. Porém, para sua surpresa, sua descoberta não foi aclamada; ao contrário: Igualdade foi perseguido pelo Estado por ter criado algo sem permissão, de forma individual, e fora da sua alçada profissional. Sua invenção restou condenada, também porque ele estaria tirando o emprego dos fabricantes de velas.

Apesar de ser um romance distópico, este tipo de comparação frente à inovação pode parecer absurda, mas se faz muito presente nos dias atuais. Inclusive, aposto que você já ouviu algo nesse sentido quando da criação dos aplicativos de transportes, do banco digital, entre outros.

Diante dessa descoberta julgada inadequada pelos Eruditas, Igualdade 72521 se vê obrigadoa fugir de sua sociedade, em direção à Floresta Proibida. No decorrer do romance, Igualdade se apaixona por Liberdade 53000 e vivem um romance proibido. Depois de sua fuga, Liberdade 53000 adentra à Floresta Proibida em busca de seu amor. Eles se encontram, descobrem uma casa, nela passam a viver e a explorar os muitos manuscritos que lá estavam, empoeirados e em desuso há anos.

Igualdade 72521, agora autointitulado Prometeudescobre a existência e o significado de palavras que representam o indivíduo. Passa a usá-las sem limitações, e faz planos com Gaia (Liberdade 53000) para compartilhar conhecimento com seus amigos da antiga sociedade, com o objetivo de manter e expandir as descobertas de seus antepassados, a fim de iniciar uma nova história do homem.

O livro Cântico foi escrito em 1937 por Ayn Rand, escritora muito conhecida pelo seu combate ao coletivismo. Além de escritora, era dramaturga, roteirista e filósofa, responsável pela corrente filosófica denominada Objetivismo. No decorrer de sua vida, Rand escreveu grandes obras como A revolta de Atlas, A virtude do egoísmo, A nascente, entre outras.

Rand nasceu na Rússia de 1905, e sentiu na pele o que o comunismo causou à sua família. De uma situação confortável, passaram à precariedade quando o negócio de seu pai, farmacêutico, foi confiscado pelo governo sob o comando de Vladimir Lenin. Mudou-se para os Estados Unidos, onde permaneceu até a sua morte.

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Revisado por Matheus Pacini.

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