Resenha do filme – “Batman: o Cavaleiro das Trevas”

Noutro dia, resolvi assistir ao filme Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge (2012). Acredito que os personagens são bem desenhados e claramente definidos por Nolan, especialmente os bandidos – Bane, por exemplo, que ele tira da prisão de Gotham City. O conflito interno entre Bruce Wayne/Batman também vale a pena, já que ele começa como um homem que renuncia a tudo, inclusive seus negócios e sua cruzada por justiça, nem mesmo tendo forças para capturar uma ladra de joias que entra em seu quarto para roubar um colar de pérolas.

Desde o início, Batman tenta reconstruir seu amor pela justiça para combater o vilão mais forte que já enfrentou, Bane, que não só tem grande força física, mas busca destruir Gotham City com base no princípio igualitarista de que nenhum homem poderia ser melhor que outro. Consequentemente, Bane libera os criminosos violentos para destruir a hierarquia social de Gotham, inclusive submetendo líderes políticos e empresários a julgamento por ocuparem essas posições e por tirar a riqueza do povo. Bane repete isso, sem cessar. Minha decepção com o filme (e, na verdade, com toda a Trilogia Batman) é que nem Bruce Wayne nem o Batman respondem. Aqui ocorre uma disputa entre simbolismo versus substância.

Reconheço que, ao longo da história, o Batman representa um homem da justiça – um vingador mascarado contra o mal que tenta dominar Gotham City e é demais para o poder da polícia. Na trilogia, Batman combate o ambientalismo, o niilismo e o igualitarismo, na medida em que essas ideologias – se levadas ao extremo – levarão à destruição total de Gotham. Por certo, o simbolismo de um homem dedicado à justiça, que luta contra essas ideologias malignas, deve ser apreciado. É encorajador o próprio fato de um escritor de Hollywood considerar essas ideologias como malignas, procurando apresentar a batalha de forma justa.

No entanto, essas são ideologias propostas por filósofos como Platão e Kant, que colocam a justiça e as preocupações do homem em outra dimensão que não tem relação com a realidade. Na verdade, é precisamente porque elas têm pouco ou nada a ver com a realidade que se tornam tão atraentes para alguns, que preferem não pensar na vida real e que fantasiam que, em um mundo melhor, as plantas e os animais seriam superiores ao homem, que tudo não é nada e deve ser destruído, ou que o homem de talento e habilidade não deve ter permissão para conquistar uma vida melhor. Mas Batman não tem nada a dizer contra essas ideologias! Está disposto a lutar contra seus “filhos” até a morte, mas não tem palavras contra suas posições intelectuais. Se assumir uma postura intelectual é uma forma de substância, então Batman não apresenta nenhuma substância contra os males que ele e Gotham City enfrentam.

Uma razão pela qual essas ideologias estão se espalhando pelo mundo – destruindo o capitalismo e os Estados Unidos no processo – é que ninguém se propôs a desafiá-las intelectualmente, mostrando com lógica e fatos que a posição daqueles que lutam contra a felicidade do homem na Terra é má, oferecendo uma alternativa melhor. Os objetivistas podem fundamentar sua ideologia nos fatos e sustentá-la com a razão; mas poucos conseguem.

E os objetivistas também sabem que a batalha primária contra aqueles que odeiam o homem não requer um combate físico, mas uma ideologia que coloque o mal na defensiva. É porque essas ideologias malignas não foram confrontadas intelectualmente que são tão virulentas e parecem imparáveis. Nesse sentido, é bom que um símbolo de justiça tenha sido exibido para combatê-las na Trilogia do Batman, mas será preciso muito mais do que o Batmóvel para a vitória final. Eu sinceramente duvido que qualquer ambientalista, niilista ou igualitário seja convencido por essa trilogia a verificar suas premissas e buscar uma ideologia melhor, ou ser covarde e não assumir suas posições explícitas porque Batman é contrário a elas. Portanto, embora eu possa dizer que a trilogia foi boa, na medida em que mesmo a justiça simbólica pode encorajar aqueles que estão do lado certo das questões, não foi boa o suficiente para mudar as tendências.

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Justiça é o reconhecimento do fato de que não se pode falsear o caráter dos homens assim como não se pode falsear o caráter da natureza; de que é necessário julgar todos os homens de modo tão consciencioso quanto se julgam objetos inanimados, com o mesmo respeito pela verdade, a mesma visão incorruptível, pelo mesmo processo de identificação puro e racional; de que todo homem deve ser julgado por aquilo que é e tratado como tal; de que, do mesmo modo como não se paga mais por um pedaço de escória enferrujada do que por um de metal reluzente, assim também não se dá mais valor a um canalha do que a um herói; de que o seu julgamento moral é a moeda que paga os homens por suas virtudes e seus vícios, e esse pagamento exige de vocês uma honra tão escrupulosa quanto a que demonstram nas suas transações financeiras; de que não desprezar os vícios dos homens é um ato de falsificação moral, e não admirar as virtudes humanas é um ato de peculato; de que colocar qualquer outro interesse acima da justiça é desvalorizar a sua moeda moral e fraudar o bem em prol do mal, visto que somente o bem pode sair perdendo quando a justiça é fraudada, e somente o mal pode lucrar – e que o fundo do buraco no fim daquele caminho, o ato de falência moral, é punir os homens por suas virtudes e recompensá-los por seus vícios, que essa é a entrega à depravação total, a missa negra do culto à morte, a dedicação da consciência à destruição da existência.“ (RAND, Ayn. A revolta de Atlas. pp. 1171-2)

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Adicionado em 17/08/2012

Às vezes, quando se trata de filmes modernos, não consigo apreciá-los completamente sem reescrevê-los em minha própria mente, usando os mesmos elementos apresentados, mas tornando-os mais explícitos. É como se a versão original fosse apenas um esboço (e talvez até um bom esboço), porém faltam detalhes dos quais eu precisaria para considerá-la uma obra de arte.

Existem dois códigos de justiça em conflito no filme: Bane, que representa a justiça marxista (a riqueza é roubada, e os ricos tiveram que roubar do povo, logo a justiça está em restaurar o equilíbrio) versus o Batman (a ideia de que a riqueza é criada, é de propriedade do produtor e esses devem ser protegidos de criminosos). Neste contexto, a Mulher-Gato é uma figura transitória: não concorda totalmente com Bane, mas resiste ao Batman porque ela é fracassada, acreditando que só pode progredir roubando dos ricos.

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Originalmente publicado em Applied Philosophy Online.

Traduzido por Felipe Prestes.

Revisado por Matheus Pacini.

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