Reflexões sobre o isolamento vertical

Isolamento vertical parece ser a única solução para a crise epidemiológica que vivemos.

Quarentenas são efetivas para evitar o contágio de populações ainda não contaminadas pelo vírus.

Desde a antiguidade, o isolamento de infectados serve para conter a disseminação de doenças infecciosas.

Há casos marcantes na história como os de Veneza e Dubrovnik (então Ragusa), no século XIV, que, apesar de serem centros comerciam que abasteciam as rotas para diversos mercados, viram-se obrigadas a impor quarentena para as embarcações que nelas atracavam para descarregar e carregar produtos.

Inúmeros outros casos mais recentes já comprovaram a eficiência desse simples procedimento que exige um esforço enorme das autoridades. Viajantes de áreas infectadas sempre foram segregados e colocados em quarentena até que passasse o perigo de transmitir a moléstia aos moradores locais.

Migrações em massa, como as do século XIX para os Estados Unidos, não se transformaram em grandes pandemias porque as viagens eram longas e as medidas de proteção de fronteira, rigorosas.

Mesmo assim, surtos ocorreram ao longo do tempo porque nem todos os que carregavam doenças transmissíveis tinham sua condição de saúde detectada.

Esse foi o caso da Gripe Espanhola, de 1918, que, em muitos casos, está servindo de modelo para as autoridades sanitárias que não podem esquecer as especificidades do caso atual, a saber, mortalidade reduzida e concentrada em um extrato da sociedade.

Neste mundo globalizado, onde em menos de 48 horas é possível interagirmos com um número incontável de pessoas oriundas de dois, três ou quatro países, parece complicado estabelecer quarentena, mas isso acaba sendo inevitável, já que é o que o senso comum determina.

O problema é que muitas doenças contagiosas não são detectadas e, quando medidas são tomadas, já é tarde. Pior ainda é quando autoridades do país contaminado nem tomam medidas cautelares nem informam o que está ocorrendo, impedindo que quem ainda não foi atingido possa desencadear medidas protetivas diversas.

Difícil, senão impossível, é estabelecer uma política preventiva de contágio quando o vírus já se encontra disseminado, inclusive sendo transmitido de forma invisível porque muitos dos infectados são assintomáticos.

Buscar soluções efetivas para proteger a população vulnerável e, ao mesmo tempo, impedir que tais soluções venham a destruir a economia e a capacidade produtiva daquela sociedade exigem, como nunca, objetividade e racionalidade.

É uma conta de divisão que sempre deixará restos: os mortos por conta do ataque viral, ou pela carestia que virá.

É por isso que afirmo que a crise epidemiológica não pode se transformar numa crise epistemológica.

Observem o gráfico:

Curva vermelha – Sem isolamento, quebra da capacidade de atendimento do sistema de saúde.

Curva preta – Isolamento total, quebra da capacidade de atendimento do sistema econômico e produtivo, agravado pela retomada do contágio e infecções após o fim da quarentena extrema.

Curva azul – Isolamento vertical, contaminação gradativa e continuada promovendo a imunização, a manutenção da atividade econômica e a minimização das mortes no grupo dos vulneráveis.

A pandemia do COVID-19 é extraordinária porque vemos governos e até cientistas desconsiderem o conhecimento adquirido em ética, política e economia.

Enquanto os problemas de saúde são localizados, os problemas éticos, políticos e econômicos são generalizados e podem ter um resultado catastrófico para o futuro da humanidade.

Paulo Guedes anunciou uma ajuda humanitária de R$ 700 bilhões de reais concedida por um governo deficitário, endividado e que já esgotou todos os meios para taxar a sociedade.

De onde sairão esses recursos? Da saúde que precisa urgentemente? Da previdência cujos beneficiários estão no grupo de risco? Ou dos privilégios e ganhos do funcionalismo público?

O governo está pagando para que desempregados, autônomos, micro e pequenos empresários fiquem em casa. E o resto da economia? Médias e grandes indústrias, além de cadeias de varejo, logo estarão em apuros. Nenhuma sociedade no mundo e na história conseguiu sair incólume com esse tipo de política socialista, baseada no coletivismo e na coerção indiscriminada.

Governos não criam valor, não criam bens, não produzem, não são donos da vida de ninguém.

Governos podem no máximo isolar infectados colocando-os em quarentena, daí a importância dos testes, bem como proteger os vulneráveis com isolamento e tratamento médico-hospitalar e farmacêutico.

Vou poupá-los de minhas ressalvas emocionais aos que faleceram pela idade ou comorbidades, sendo a COVID-19 a gota d’água indesejável.

Durante nossa existência, todos perdemos nossos entes queridos, pois a vida não é infinita. Um dia, nós mesmos faremos parte desse grupo que deixa saudades, seja por amizade ou parentesco.

Eu, como idoso e diabético, faço parte do grupo de risco – e estou fazendo o possível para me proteger sem deixar de produzir.

Para mim, é fácil falar porque meu trabalho pode ser feito remotamente. Dependo daqueles que não tem o mesmo risco que eu e podem trabalhar lá na frente.

Ninguém quer ver gente morrendo, mas morrer faz parte da vida e precisamos contar com isso na hora de decidir o que é preciso fazer para não agravar ainda mais a situação daqueles que precisam agir para viver. Viver inclusive para ajudar a salvar os que correm risco iminente de morrer por causa do vírus.

Médicos, enfermeiros, técnicos de saúde são a nossa força de defesa atuando no front dessa batalha. Nós, que integramos a força produtiva, somos a retaguarda. Garantimos aos combatentes todos os tipos de suprimentos de que necessitam para continuar na guerra até que vençamos a pandemia, salvando o máximo de vidas.

No entanto, é preciso lembrar que esse front não é o único. Existe todo um outro universo de pessoas que combatem as batalhas diárias. São indivíduos que não passaram nem passarão pelas portas dos hospitais mas precisam produzir para manterem a si, suas famílias, o governo e o combate contra a doença que está se travando nos leitos das UTIs.

Lembro quando, na Guerra do Sinai, o exército egípcio estava a ponto de derrotar as forças de defesa de Israel. O avanço egípcio parecia inevitável. A inteligência israelense conseguiu impedir que os egípcios vencessem com uma estratégia simples: na calada da noite, tomaram posições no Canal de Suez e cortaram o abastecimento de mantimentos e munição para os que estavam na frente de batalha. Não precisou muito tempo: em poucos dias, o exército do Egito se rendeu.

Não é possível manter 220 milhões de pessoas sem que a cadeia produtiva que a abastece com renda e bens seja impedida de funcionar.

Criar dinheiro do nada só irá agravar o problema porque inundar o mercado com moeda e crédito sem lastro, principalmente em momento de desabastecimento, fará explodir o imposto inflacionário que irá consumir o poder aquisitivo já quase inexistente de milhões de famílias, matando de fome, doenças e desesperança a população economicamente vulnerável.

Os que acreditam em Keynes ou outros ilusionistas farão com que a crise epidemiológica, que duraria doze semanas e ceifaria a vida de parte daqueles que estão, por sua idade e quadro clínico, pela hora da morte, transforme-se em uma crise econômica e humanitária sem precedentes.

O Brasil é uma sociedade que política e economicamente está debilitado. Podemos dizer os anos de socialdemocracia e lulopetismo provocaram comorbidades que nos deixaram vulneráveis a qualquer crise.

A causa dos nossos problemas sempre foi a ojeriza ao capitalismo e o apreço às fórmulas mágicas do estatismo – e do coletivismo que lhe serve de base.

Sabe-se que, sempre que os governantes tentam minimizar as crises através da intervenção autoritária, não apenas as agravam, aprofundando-as por mais tempo, enfraquecendo, às vezes, de forma irrecuperável, os mercados e agentes econômicos.

A crise de 1929 se tornou uma hecatombe econômica global porque as medidas adotadas pelo governo americano foram equivocadas. A tentativa de Herbert Hoover de manter produção, empregos e renda, sem deixar que os mercados se ajustassem livremente, causou o colapso da ordem espontânea e desencadeou falências e desemprego em escala mundial.

O estado de bem-estar social não tem vida própria. É preciso haver quem o sustente. Não é à toa que quem contribui para o seu funcionamento são empresários ou trabalhadores. Ao governo tem sido delegada a incumbência de administrá-lo. Sabemos das consequências.

Não haverá estado de bem-estar social sem que a força produtiva da sociedade fique livre da coerção estatal que a impede de produzir o que deseja com todo potencial.

Isolamento sim. Mas isolamento com quarentena, sem lockdown, para acabar com a crise epidemiológica, sem transformá-la no rompimento do tecido social, na instabilidade institucional, no colapso da ordem espontânea que faz os mercados funcionarem para criar, produzir e distribuir o necessário para acabar com a pandemia do coronavírus, e prevenir a da miséria.

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Revisado por Matheus Pacini.

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