Reflexão sobre os termos ‘raça’, ‘cultura’ e ‘indivíduo’

De ataques racistas contra pessoas inocentes de ascendência asiática a jornalistas desonestos que dão chiliques ao ouvir falar do “vírus chinês”, muitas pessoas têm dificuldade para diferenciar um indivíduo de um coletivo. Tendo isso em mente – e tentando evitar mais uma reflexão diretamente relacionada com a epidemia – decidi escrever um pouco sobre a diferença entre raça, cultura e indivíduo.

Raça se refere às semelhanças genéticas dos membros de um grupo, no contexto de uma ancestralidade comum. Os seres humanos evoluíram – e ainda evoluem – em resposta ao ambiente. Ao longo da história, várias populações ficaram isoladas por longos períodos de tempo, submetidas a diferentes fatores seletivos naturais e sociais. Essas pressões evolutivas têm influência sobre a vida do indivíduo até hoje, como em seu porte físico, na sua propensão a doenças específicas e em seus traços comportamentais. A atitude de grande parte da academia contemporânea, que se esforça deliberadamente para ignorar esse fato, é vergonhosa.

Mas se raça é um fator real, e influencia até mesmo o comportamento humano, não deveríamos levar isso em conta ao emitir julgamentos morais sobre um indivíduo? A resposta é um “não” inequívoco.

A ética lida com a escolha humana. Aspectos não escolhidos, como a altura de um indivíduo ou sua propensão à anemia, não tem qualquer caráter moral. Até mesmo traços comportamentais hereditários – o mais controverso de todos os temas que dizem respeito à raça – não são determinísticos. Alguém que possui uma maior propensão ao alcoolismo, por exemplo, apenas sentirá mais prazer físico ao consumir álcool: não estará fadado ao alcoolismo, pois, como qualquer outra pessoa, é capaz de identificar sua própria natureza, e agir de acordo. O essencial, no contexto do comportamento humano, é sua natureza volicional, que não é específica a uma raça, sexo ou qualquer outro subgrupo.

Se o objeto de estudo da ética é a escolha humana, o mesmo raciocínio é válido em relação à cultura de um indivíduo? Afinal, não decidimos em que sociedade nascemos, e não temos escolha quanto à forma como somos educados.

Cultura se refere aos valores compartilhados por um grupo. De certa forma, a cultura também é herdada – mas é herdada por escolha. Nascemos e crescemos imersos em uma cultura, mas, na idade adulta, podemos refletir racionalmente sobre seus valores, escolhendo adotá-los ou não. Um descendente de chineses não tem nenhuma escolha com relação a seus traços físicos, mas tem controle total sobre os valores que adota, inclusive, os valores essenciais à cultura de seus antepassados. É importante notar que alguém que decide se mudar para outro país, provavelmente, rejeita ao menos parcialmente sua cultura natal.

Julgar uma raça faz tão pouco sentido quanto julgar a chuva. Assim como a chuva, uma raça simplesmente é. Julgar uma cultura é tão razoável, e necessário, quanto julgar um indivíduo. Um indivíduo tem responsabilidade pelos valores que adota, e pelas ações que toma. Uma cultura tem valores fundamentais, e julgar uma cultura é julgar os indivíduos na medida em que adotam esses valores.

A situação atual, cheia de declarações como “isso é culpa da China”, ou “a China é má” é complicada, pois seu significado depende totalmente do contexto em que são professadas. Sempre existiram pessoas ignorantes que se aproveitam de situações como a atual para descarregar sua frustração acumulada contra um grupo arbitrário. Para elas, “China” é simplesmente um termo que engloba toda e qualquer pessoa de ascendência asiática, um alvo arbitrário para seu ódio irracional.

Mais comuns, porém, que os casos de racismo, são casos em que essas declarações se referem à cultura chinesa. Nesse contexto, não devem ser entendidas como frases preconceituosas, cujo propósito é destilar o ódio contra um grupo arbitrário, mas como uma identificação do caráter moral da cultura chinesa – um julgamento sobre seus valores fundamentais, e o governo que originaram. É importante ressaltar, especialmente em tempos de crise e irracionalidade, que eles são, de fato, valores inquestionavelmente maus, assim como os indivíduos que os adotame que nenhuma pessoa é forçada a adotá-los, sejam quais forem seus genes.

Para uma análise mais aprofundada sobre a cultura chinesa, e como ela representa uma ameaça à liberdade do mundo ocidental, ver O Elefante Chinês na Sala.

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Revisado por Matheus Pacini.

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