Reconheça suas emoções!

Nesse artigo, continuo minha batalha para esclarecer a relação entre razão e emoção. Gostaria de tratar de outra face desse conflito: o problema de emoções bizarras e intensas.

Primeiro a história, depois a explicação.

Alguns anos atrás, organizei um pequeno grupo de discussão em uma empresa para quem prestava consultoria. Muitos funcionários participavam das discussões, porém nenhum dos executivos da empresa: pelo contrário, criaram tantos entraves para a divulgação e a manutenção do grupo que, por fim, renunciei à sua gestão. Dediquei-me a corrigir alguns detalhes, a fim de passar o bastão para um sucessor: curiosamente, vi-me estressada pelos mesmos motivos que tinham me levado a renunciar.

Tentei recalibrar minhas emoções, sem muito sucesso. Realmente, não entendia por que estava tão chateada. Eu já tinha renunciado, que saco! Por que me preocupar com outros problemas? Poderia citar várias coisas que passavam pela minha cabeça, mas não entendia por que elas me perturbavam tanto. Chateada, tudo bem. Mas, revoltada?

Não conseguia tirar essa questão desimportante de minha cabeça. Toda vez que sentava para fazer algo produtivo, minha mente começava a divagar.

Eventualmente, percebi meu erro. Eu só precisava reconhecer a intensidade dos sentimentos, sem exigir uma explicação. Havia um ponto importante: a questão não era idiota, nem desimportante. Ela tinha algum profundo valor pessoal para mim, daí o estresse que me gerava.

Até então, não sabia o que era, mas precisava reconhecer que havia algo a ser identificado, pois nada parecia explicar o que eu estava sentindo.

Assim que falei: “sim, é uma questão importante para mim. Não sei por que, mas é”, pude me acalmar. Fiz uma nota mental e fiquei alerta a quaisquer informações sobre essa misteriosa emoção. Pude finalmente trabalhar de forma serena.

Então, como explicar essa situação?

Muitos dizem: “você não deveria julgar suas emoções.” Considero essa formulação confusa – logo, permitam-me explicar minha própria abordagem, usando uma analogia.

Emoções não passam de cartas de seu subconsciente. A emoção é o carteiro. É ilógico criticar o carteiro pelo conteúdo da carta. A carta é escrita por outra pessoa.

Como carteiro, o propósito fundamental de uma emoção é chamar a sua atenção para a carta. Até entregar a carta, o carteiro continuará a tocar a campainha. É seu trabalho entregá-la!

É por isso que eu não conseguia relaxar. Embora tivesse tentado reconhecer a emoção, não tinha feito certo. Não conseguia introspectar imediatamente a fonte desse sentimento tão intenso. Não estava recebendo a carta – e não conseguia identificar o pensamento subjacente que me fazia sentir isso.

E, ainda assim, falava a mim mesma que o pensamento subjacente era idiota, desimportante. Como poderia afirmar isso sem nem tê-lo identificado? Como poderia afirmar que era desimportante, quando a intensidade da emoção é uma medida de importância pessoal?

A lição que aprendi aqui é que você não precisa ser capaz de analisar totalmente uma emoção para ser capaz de acalmá-la. Você só precisa reconhecê-la (receber a carta e lê-la) – mesmo que se forma rápida, como fiz nesse caso.

E isso é bom – já que é exigir muito de si próprio fazer um diagnóstico imediato sobre a causa profunda de qualquer emoção.

Fica em aberto a questão de se a minha avaliação subconsciente foi ilógica ou não. Certamente ilógico era julgá-la como idiota e desimportante antes de identificá-la.

Essa é a concretização do seguinte fato: se você quiser “seguir a razão”, primeiro precisa entender a natureza de suas emoções. E estar disposto a reconhecê-las pelo que são. Elas não são oráculos da verdade: são só carteiros do subconsciente, que baterão na sua porta até você atender.

Reconhecer verdadeiramente uma emoção é a coisa lógica a fazer, não importa quão absurdo o pensamento subjacente possa parecer. Reconhecer que ela existe não significa concordar com ela, nem que é preciso agir sobre ela. Significa apenas reconhecer que o carteiro continuará a bater na porta até entregar a carta.

E significa reconhecer que, independentemente de o pensamento subjacente ser verdadeiro ou falso, foi classificado como importante por seu subconsciente – e, portanto, merece atenção.

Não me dedique a entender aquele incidente particular em profundidade. Mas ao refletir sobre ele, sensibilizou-me para alguns tipos de problemas, servindo-me para resolver problemas similares com pessoas realmente importantes para mim. Mas só pude fazê-lo porque não saltei à conclusão de que era idiota ter uma emoção intensa e bizarra.

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Publicado originalmente em Thinking Directions.

Revisado por Matheus Pacini.

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