Qual é a lição de Steve Jobs e da Apple sobre cooperação e trocas voluntárias?

Em 1980, quando a Apple abriu seu capital, cada ação foi oferecida por US$ 22,00. Durante o pregão, acabou valorizada em 32%, alcançando quase US$30,00 naquele mesmo dia.

Hoje, se não tivessem sido divididas, o valor de cada uma daquelas ações seria de mais de US$530 milhões cada.

Ao ganho expressivo de mercado, deveríamos acrescentar o que a empresa pagou em dividendos aos seus acionistas ao longo desses 42 anos, o que não foi pouco.

Naquele ano, Steve Jobs, um dos maiores gênios que a humanidade já conheceu, explicou em uma palestra (que está disponível na Internet), o que representaria o computador para o ser humano e que desafios ele, Steve Jobs, teria que enfrentar para transformar aquele bem num instrumento de máxima eficiência.

Steve Jobs fez uma analogia, relacionando o que seria um computador para a mente humana com o que foi a bicicleta para o nosso corpo. O fundador da Apple citou um estudo que comparava a relação entre distância percorrida em quilômetros e o consumo de energia em calorias de diversas espécies de animais, inclusive o homem.

Segundo esse estudo, o condor era o mais eficiente animal entre todos os analisados, porque era o que gastava menos energia para se locomover em uma distância quilométrica. O homem ficava no terço inferior da lista, porque a relação entre distância percorrida e gasto calórico era muito pobre.

Steve Jobs mencionou também que alguém havia resolvido fazer esse mesmo estudo, porém com um homem usando uma bicicleta, fruto da engenhosidade humana. O resultado obtido fez com que o homem superasse o condor, deixando-o em segundo lugar, com um resultado bem inferior ao do ciclista.

Além dessa evidência científica sobre como os instrumentos podem fazer o ser humano superar suas limitações físicas naturais, Steve Jobs narrou suas próprias observações experimentais quando apresentava sua invenção magnífica, o computador da Apple, para diferentes públicos com diferentes habilidades e demandas para tal.

Steve Jobs observou que especialistas aproveitavam a sua invenção de formas que nem ele poderia imaginar. Fosse no campo da engenharia, da agricultura, da educação, das finanças, o computador se mostrou um bem universal que ampliava N vezes a eficiência na solução de problemas de acordo com a complexidade de cada especialidade para a qual ele servia.

Não foi apenas isso que o visionário empreendedor percebera. Notou que a dificuldade em lidar com o equipamento era inversamente proporcional à idade do público: crianças entre 10 e 12 anos tinham muito mais facilidade para se familiarizarem com o equipamento do que os adultos, que viam no instrumento em si um problema adicional a ser superado, a fim de se tornar um aliado na solução dos problemas originais, objetivo para o qual o computador havia sido criado.

Steve Jobs fez referência ao estudo da bicicleta e suas observações para dizer, lá nos idos de 1980, que seu maior desafio seria eliminar o fator problema inerente ao uso do computador como instrumento, fazendo com que se transformasse numa experiência sem demanda intelectual, mas também que fosse agradável para o usuário.

Os números econômicos e financeiros da Apple, e o impacto que ela teve para eliminar ou reduzir a pobreza no mundo, provam que Steve Jobs fez um diagnóstico preciso, como também conseguiu solucionar o problema de ineficiência na relação entre o beneficiário e o bem em questão, o próprio computador criado para solucionar problemas de uma maneira que, sem ele, a mente humana jamais conseguiria realizar.

Saber neutralizar os problemas tecnológicos intrínsecos que existem em tudo aquilo que é criado pelo homem, saber superar os paradoxos de toda invenção humana para que os problemas causados por essa criação não apenas não superem seus benefícios, como, idealmente, eles sejam eliminados de maneira que os usuários não tenham que enfrentá-los, tem sido uma dificuldade que para a humanidade quando se trata de resolver a questão da violência existente em qualquer sociedade.

Assim como é possível ao ser humano criar bicicletas ou computadores para beneficiar bilhões de pessoas, é possível produzir instituições para eliminar ou, pelo menos, diminuir a violência, a iniciação do uso da coerção, força ou fraude, do seio das sociedades.

O governo limitado à defesa dos direitos individuais, projeto ensaiado e colocado em prática pelos pais fundadores dos Estados Unidos da América, tinha como objetivo resolver o problema da violência através de um intrincado sistema de leis, regulamentos e financiamento que visava proteger os Steve Jobs da vida de serem explorados de forma vil pelos imorais que pilham para saciar suas necessidades usufruindo do butim.

No entanto, falhas no projeto, bugs e vírus na forma de políticos, burocratas e parasitas sociais transformaram esse instrumento de promoção das relações sociais pacíficas, baseadas na confiança, numa tecnologia que acabou por despender tanta energia, gerando tanto sofrimento, que a tornou em muitos casos um problema maior do que aquele para o qual foi criado para solucionar.

Steve Jobs conseguiu eliminar o problema que envolvia a operação do instrumento que criara para ajudar os indivíduos a solucionarem seus próprios problemas sem terem que enfrentar um novo.

Depois de 2500 anos de filosofia, de democracia, de república, de constitucionalismo, de parasitagem, de trevas, de iluminismo, de criação de valor, já temos conhecimento suficiente para criar um sistema político que consiga eliminar o mal da coerção da sociedade: basta os bons conseguirem vencer os maus, nem que seja pelo próprio uso da coerção que se quer eliminar, coisa que também já experimentamos e não foi muito tempo atrás.

Um bem universal como um computador da Apple ou um iPhone promove cooperação e trocas voluntárias que resultam em benefícios mútuos para os que se engajam livremente no processo de criação, manutenção e consumo de valor.

Para o governo ser implementado como um bem necessário, ele precisa ter essas mesmas características, acreditar que numa sociedade pacífica, baseada na confiança, apenas cooperação espontânea e trocas voluntárias são moralmente válidas; e que, para isso, é preciso que o governo se restrinja apenas à proteção dos direitos individuais inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade, à propriedade e à busca da felicidade, sendo o governo uma tecnologia amigável, eficaz na eliminação do problema da violência, sem que ele próprio se torne o problema para o qual foi criado como instrumento de solução.

Em sociedades onde o governo despende menos energia da sociedade, onde a regulação e a taxação são menores, sendo portanto o governo mais amigável e mais eficaz, o ser humano vive melhor, porque pode aproveitar sempre mais o seu potencial físico e mental para criar, manter e consumir valor de forma moralmente válida para os seres racionais que somos.

Foi esse princípio que fez da Apple, da Amazon, da Microsoft e tantas outras as líderes nos seus mercados. O Brasil como sociedade está no terço inferior da eficiência, porque ainda não inventamos a bicicleta aplicada à governança estatal para a eliminação da violência do nosso país. Pelo contrário, o equipamento que criamos nos impede de ter a mobilidade social que vemos em outros lugares e muitas vezes vemos que o equipamento que escolhemos nos move para trás e para baixo.

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Revisado por Matheus Pacini.

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