Políticos não deveriam impor a diversidade intelectual nas universidades

As universidades deveriam estar profundamente envergonhadas pela situação ter chegado a esse ponto. O presidente dos Estados Unidos lança mão do poder financeiro.

Muitas [universidades] têm se tornado cada dia mais hostis à Primeira Emenda e à liberdade de expressão. Sob o pretexto de códigos de discurso, espaços seguros e gatilhos/microagressões, elas têm tentado restringir o livre pensamento, impor conformidade total e silenciar as vozes de diversos jovens. Tudo isso muda a partir de agora: estamos falando de muitos bilhões de dólares.

Mesmo assim, os políticos não deveriam impor a diversidade, em especial, no campo das ideias.

Com efeito, diversas pesquisas (por exemplo, aqui e aqui) mostram que os departamentos de Humanidades tendem à esquerda, frequentemente, à extrema-esquerda.

Então, uma resposta natural é o argumento puramente democrático que diz “sim, os políticos deveriam impor a diversidade: universidades financiadas pelo governo são pagas com receitas de impostos e, numa democracia, os políticos têm a responsabilidade (frente a seus constituintes) de assegurar que seus fundos serão gastos de forma apropriada. No entanto, faculdades com forte viés não conseguem entregar educação de qualidade, em especial, em questões controversas sobre as quais os estudantes precisam ouvir e pesar todos os argumentos. Portanto, é democraticamente apropriado que os políticos ou retirem o financiamento governamental ou intervenham para exigir a diversidade intelectual e a representação equilibrada no debate.

O outro lado do argumento diz: “não, mesmo universidades públicas deveriam ser instituições com administração independente, livres de pressão política. O ideal da educação liberal defende que a busca e a transferência de conhecimento requer liberdade intelectual para perseguir linhas de pensamento politicamente impopulares de pesquisa e publicação, bem como em sala de aula. Mas os governos são instituições de coerção, e qualquer policiamento de pensamento politicamente inspirado deve ser rejeitado totalmente em nome da liberdade acadêmica. Então, universidades financiadas pelo governo não deveriam ser vistas em termos puramente democráticos, mas – fazendo jus às suas raízes medievais – mais em termos feudais, como parte de uma estrutura política geral, mas com privilégios e direitos especiais não necessariamente concedidos a outros setores.

Mas, e se as universidades – ou parte significativa delas – forem capturadas por professores, administradores e/ou grupos de estudantes ativamente opostos à educação liberal? Isto é, e se elas se engajarem deliberadamente no ensino e na doutrinação? E se suprimirem a liberdade acadêmica das vozes discordantes? E se tolerarem o uso da força física ou se engajarem em atos de compulsão contra dissidentes e minorias intelectuais? Se o argumento em prol da liberdade econômica é parte do ideal da educação liberal, porém a universidade rejeita ou subverte tal ideal, então, os políticos que financiam universidades governamentais encaram um dilema.

Políticos devem escolher entre (1) fracassar em sua responsabilidade para com os pagadores de impostos, gastando o dinheiro deles em instituições educacionalmente irresponsáveis ou (2) usar seu poder político para interferir ou anular a autogovernança das universidades. O dilema é agravado pelo fato de o governo ser uma instituição de compulsão: ou ele usa a compulsão para fazer as pessoas pagarem seus impostos de modo a financiar as universidades, ou usa a compulsão para impor reformas às universidades (ou ambas as coisas).

A tensão entre educação liberal sob financiamento compulsório torna-se explícita.

Se os políticos escolherem a rota de impor reformas às universidades estatais, eles terão um número de opções:

  • Eliminar a estabilidade para acelerar o processo de substituição de professores.
  • Ao contratar novos professores, exija um tipo de ação afirmativa para a exposição de perspectivas minoritárias.
  • Ameaçar ou, de fato, retirar fundos a menos que reformas politicamente decididas sejam implementadas.
  • Vincular o financiamento político à responsabilidade educacional prática, incluindo equilíbrio ideológico, porém permitindo às universidades decidirem como fazê-lo.

Contudo, a história mostra que o controle político da educação é o pior resultado. Em sociedades politicamente autoritárias, uniformidade e medo substituem pensamento independente e debate. E, em sociedades politicamente democráticas, o controle político faz com que a educação se torne uma bola de futebol que vai e volta no campo, dependendo de quem vencer as eleições.

Preservar a autonomia das universidades deveria, portanto, ser uma prioridade. E isso significa que as reformas necessárias de diversidade têm de ser afetadas por outros grupos de interesse que se preocupam com a educação – estudantes, administradores, comitês, doadores, agências de acreditação, mídia, e, talvez mais importante, aqueles professores genuinamente comprometidos com a educação liberal.

Apesar das preocupantes tendências atuais, existem evidências encorajadoras de que a resistência à intolerância intelectual está em alta:

  • Estudantes “votando” com seus pés e evitando universidades mais politizadas, por exemplo, a queda no número de matrículas na Universidade de Missouri em resposta a eventos fora de controle no ano anterior.
  • Doadores que retiram fundos muito necessários frente ao aumento do viés educacional, como mostram os exemplos de Amherst, Yale e outras instituições.
  • Reportagens de publicações muito populares tais como o The Chronicle of Higher Education e o Inside Higher Education destacam o nível de gravidade dos problemas.
  • Grupos nacionais e internacionais de professores se unem a outros professores para revigorar o ideal da busca genuína de conhecimento presente na educação liberal.

Não existe uma resposta óbvia à questão de qual lado prevalecerá – liberalismo versus autoritarismo é uma batalha secular, travado em várias frentes. Mas enquanto ainda existe esperança de que as universidades possam se curar, deveria ser dada preferência ao princípio de manter a separação das esferas de liberdade intelectual e compulsão política.

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Traduzido por Matheus Pacini.

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