PERGUNTA V: O sentido da vida depende de uma vida após a morte?

RESPOSTA DE STEPHEN HICKS

A busca por uma vida significativa é algo intrínseco ao ser humano. Quando bebês, alegramo-nos ao explorar o mundo e desenvolver nossos sentidos – fala, audição, olfato, tato, visão – além de aprendermos a engatinhar e interagir socialmente com nossa família, amigos e animais de estimação. 

Quando crianças, nossa vida torna-se mais complicada; ainda assim, continuamos a crescer mentalmente e desenvolver resiliência emocional e poder corporal para enfrentar os desafios que aparecem em nosso caminho.

Esse processo natural continua na idade adulta até sermos capazes de abraçar a aventura da vida por inteiro – via compromissos assumidos com carreiras, relacionamentos românticos, paternidade, reflexões sobre arte e filosofia, viagens para lugares exóticos, estudo sobre culturas antigas e a descoberta da vastidão do universo.

Mas, ao longo do caminho, coisas ruins podem acontecer, prejudicando a nossa realização pessoal.

Uma delas é existencial – a experiência do fracasso na realização de um ou mais valores da vida – decepções amorosas, a morte de entes queridos, a infelicidade na carreira, a humilhação social, a dor da doença. Todas elas podem suprimir nossa sensação de que a vida tem sentido.

A outra é intelectual – a aceitação de crenças que minam nossa visão de que a vida natural possa ser satisfatória por si própria – isto é, erros cognitivos que podem explicitamente atacar a vida natural ou que o fazem implicitamente ao conduzir um indivíduo a frustrações ou fracassos.

Existe uma taxonomia independente que divide os cristãos em três categorias segundo a data com a qual mais se identificam: cristãos do Natal, cristãos da Sexta-feira Santa, e cristãos da Páscoa. O Natal diz respeito ao nascimento, à benevolência, e às recompensas da vida. A Sexta-feira Santa diz respeito ao sofrimento, ao sacrifício e à destruição. A Páscoa diz respeito às esperanças e medos do que acontecerá na hora da morte.

Este ponto pode ser aplicado a muitos tipos de religião. Algumas são mais pró-vida e projetadas para oferecer um sistema de suporte ritual e intelectual para uma boa vida na Terra. Outras focam mais na renúncia e sacrifício nessa vida, tendo o seu sistema de crenças a função de oferecer racionalização e motivação para tal comportamento. E outras ainda enfatizam que o real propósito desta vida somente será encontrado numa vida após a morte.

O nosso foco agora está no terceiro tipo: o sentido da vida pode ser encontrado nesta vida, em seus próprios termos? Ou em uma vida após a morte?

Minha visão é a de que a crença em uma vida após a morte serve a propósitos terrenos, entre os quais, por exemplo, motivar certo tipo de código moral ou ajudar um indivíduo a lidar com a realidade de sua mortalidade.

A versão de catolicismo de meu colega de debate, John Wright, parece ser guiada por uma agenda moral particular – por exemplo, quando ele diz: “Somente se a vida após a morte for real o sacrifício da vida ou do tempo de um indivíduo será algo racional”.

A versão de protestantismo de C. S. Lewis oferece uma variação do tema: “Eu vejo na prática que, quando você está com algum problema, no momento que você o considera como uma ‘punição’, torna-se mais fácil aguentá-lo. Se você considera este mundo como um lugar dedicado somente à nossa felicidade, você realmente o consideraria intolerável: pense nele como um lugar de treinamento e correção e não parecerá tão ruim”.

Note os conceitos-chave da moral em jogo: sacrifício, punição, correção. A vida não diz respeito à felicidade – contudo, não existe razão natural pela qual um indivíduo rejeitaria a felicidade e abraçaria o sacrifício e a punição. Logo, a crença em uma vida sobrenatural é necessária para fortalecer um código moral que demanda sacrifícios e punições no mundo natural.

A outra grande preocupação naturalista é, obviamente, a morte. Como um indivíduo processa o conhecimento tácito de que algum dia morrerá? Uma crença na vida após a morte, então, pode ser motivada, embora normalmente de duas formas muito diferentes:

  • Eu vou morrer, mas eu vivo a vida – e quero acreditar que será estendida.
  • Eu vou morrer, mas a minha vida tem sido um desapontamento ou desastre – e eu quero outra chance.

Ainda assim, não existe evidência de uma alma ou espírito que sobrevive à morte física, e não existe evidência de lugares como Valhalla, Hades, Céu ou Inferno. Frente a tal fato, precisamos encontrar uma forma filosoficamente saudável de reflexão sobre a morte sem recorrer a ficções.

Sócrates, Epícuro e outros argumentaram que a morte não deve ser temida, porque se a morte é final, então você não estará lá para sofrer ou mesmo estar ciente de sua morte. Fato.

Mas mesmo assim, nossa preocupação com a morte está frequentemente no agora, e não no depois. O fato que nos causa inquietude é a realização no agora que iremos algum dia estar mortos e como isso implica nossos valores atuais.

Por exemplo: eu amo os meus filhos, e como eu vivo agora sabendo que irei deixá-los? Ou: eu sou apaixonado por música e arte, e como aceito agora que tal maravilha acabará para mim? Ou: eu percebo que não posso reviver ou mesmo corrigir os eventos passados de minha vida, então como eu agora lido com desapontamentos ou desespero?

Pressupor uma vida após a morte, todavia, é sempre uma não resposta para todas as perguntas acima. Para perceber tal fato, suponha que perguntemos: o que supostamente torna a vida após a morte tão boa? De que um indivíduo desfruta?

Algumas religiões falam em adquirir asas e harpas e flutuar nas nuvens, mas – como Mark Twain destacou – por quanto tempo você estaria realmente disposto a escutar o som das harpas? Nós também sabemos o que acontece com o corpo físico na morte – decomposição – e um indivíduo não pode escutar música sem ouvidos ou cérebro.

Outras religiões prometem 72 virgens – mas, novamente, é difícil imaginar como um indivíduo desfrutaria da situação não tendo mais o equipamento apropriado.

Outras ainda prometem a imortalidade para as pessoas que têm dificuldades para pensar em algo útil para fazer no final de semana. Um ponto levantado pela meditação de Albert Camus sobre o Mito de Sísifo – que foi condenado a rolar uma pedra morro acima, repetidamente, por toda a eternidade – faz-nos passar longe de desejar a imortalidade.

O ponto é: pressupor uma vida após a morte na qual a valorização humana de alguma forma continua é frequentemente uma forma de dar uma resposta que, de fato, evita responder a questão.

Mas, pelo contrário, o mundo natural é, na verdade, real, e nele amor, paixão, beleza, aventura, e realização são tanto genuínos e possíveis. Então: como podemos encontrar sentido em uma vida finita e natural?

Primeiro, é necessário honestidade para encarar o mundo como ele é. Nós somos seres humanos com necessidades e capacidades humanas, e podemos escolher comprometer-nos com a realização de valores genuínos, tanto individual como socialmente.

Isto também demanda esforço. O fracasso é sempre uma possibilidade. E, sim, tudo chegará a um fim. Mas o fato de que as experiências da vida chegam a um fim não diminui o seu valor. Um pôr do sol pode durar somente alguns minutos. Fazer amor pode durar algumas horas. Celebrar o aniversário de seu filho, um dia. Esses são ainda momentos muitos reais e significativos.

E isso se aplica para todo o resto que pode colaborar para uma vida bem vivida, pois independentemente de quanto ela venha a durar, você vivencia a satisfação da autorreflexão sobre o que você realizou, além do conhecimento de que, por meio de sua vida, outros poderão alcançar sentido para as suas próprias.

A mortalidade significa somente que você necessita viver agora e não esperar para viver em um futuro ambíguo de preguiça, covardia e indecisão.

Uma vida repleta de trabalho criativo, família, amigos, arte, literatura, ciência, exploração – e uma taça ocasional de vinho enquanto você reflete sobre a maravilha disso. Para um ser humano, o que poderia ser melhor que isso?

RESPOSTA DE JOHN C. WRIGHT

A questão desta semana é se o sentido da vida depende da existência de vida após a morte.

Como a maioria das questões levantadas ao discutirmos o tópico “supranaturalismo versus naturalismo”, a questão contém em si outra questão mais profunda e escondida que deve ser respondida primeiro, a saber, qual é o sentido da vida?

Naturalmente, a própria questão depende de outras duas questões ainda mais profundas, a saber, (1) o que é vida? e (2) o que é sentido?

A resposta da segunda questão [qual é o sentido da vida?] depende do que significa ‘vida’. Na era moderna, existem dois grupos concorrentes que oferecem respostas contrárias, o teísta e o ateísta.

Se a vida humana for um presente de um criador divino, criada com um propósito, ela pode ter um sentindo inato, isto é, um ponto, uma direção, um propósito, uma mensagem viva que existe independentemente da nossa vontade.

Se a vida humana for basicamente a mesma que a vida de qualquer outro animal, exceto por um processo cego e não proposital de eugenia natural que acidentalmente se impôs sobre um determinado bando de macacos sem pelos, e que, ao fim e ao cabo, concedeu-nos não somente o desejo de buscar um sentido para a vida, mas também a habilidade para fazê-lo, isto foi, é claro, não intencional, causado por um ‘contratempo’ durante o processo genético de duplicação, e a existência desse desejo não tem nenhum significado intrínseco.

Não é nem cruel, nem benigno que o tipo de “contratempo de duplicação” tenha criado esse desejo na raça humana; é meramente um fato sem significado próprio, como o número de babatas em Dublin na primeira terça-feira de janeiro de 1961. Ttampouco a existência deste desejo prova que ele é provido de qualquer satisfação a ser encontrada na natureza.

Embora alguns possam argumentar que o processo cego de sobrevivência do mais apto deve haver descoberto alguma vantagem evolucionária nesse tipo de desejo, isso meramente significa, se assim fosse provado, que existe uma utilidade acidental nos fins não humanos favorecidos pela cega estatística darwiniana ao fato de que temos tal desejo, não que o desejo em si seja digno de ser perseguido, digno de ser evitado, digno de ser notado, digno de ser ignorado. Realmente, não tem qualquer sentido, exceto o significado que nós, e somente nós, concedemos à utilidade darwiniana da fecundidade e preservação dos genes egoístas que carregamos como parasitas benevolentes dentro de nós.

Por esta razão, sob essa perspectiva, a busca de sentido é uma ilusão tão sem sentido quanto à busca por uma lei superior à lei “feita pelo homem”, à busca da beleza além dos padrões de beleza “criados pelo homem”, ou à busca por leis de razão e lógica mais fundamentais do que aquelas que emergem de arbitrários padrões linguísticos humanos. É algo que não pode ser feito. É uma ilusão tão sem sentido quanto buscar a regularidade científica no fenômeno do cosmos tão inconstante quanto degradante.

Se for o caso, o sentido da vida é exatamente nada, à parte do que a força de vontade humana arbitrariamente impõe a si própria. Portanto, em um mundo ateísta, por definição, a vida humana pode ter um sentido arbitrário, mas não um sentido inato.

Esses termos necessitam de uma explicação, assim como é necessário uma resposta a nossa segunda questão. O que é ‘sentido’?

Uma resposta direta à segunda questão é dizer que a diferença entre um ruído qualquer e uma frase clara é a diferença entre sem significado e com significado. A diferença entre um comentário claramente compreensível e um comentário que um indivíduo não está preparado, disposto ou mesmo capaz de compreender é a diferença entre “com significado” e “sem significado”.

Todavia, devemos fazer duas distinções: primeiro, devemos distinguir sentido inato da mera ilusão; e segundo, devemos distinguir o sentido inato (sentido natural, intrínseco) do significado pessoal.

Se uma coruja pia, e o som subsequente relembra fortemente para um americano o som da questão “quem?”, esta suposta questão tem significado somente em seus ouvidos, e somente no momento de confusão antes que ele se vire e veja que se trata de uma coruja, e não de uma pessoa. As imagens vistas nas nuvens ou os borrões de tinta de Rorschach não têm significado propriamente dito. Elas são coisas que parecem, à primeira vista, ter qualquer sentido, mas as quais, quando submetidas a um exame, não têm. Aqui, então: quando falamos de sentido inato, nós não nos referimos à impressão subjetiva que impõe um sentido em um caos que, na verdade, não existe.

Novamente, está claro que se um homem se dirige a você em grego, suas palavras podem ser destituídas de sentido para você, mas não para alguém fluente naquela língua. Deste ponto de vista, o sentido é subjetivo, isto quer dizer, o receptor deve ter algum tipo de decodificador – experiência, sabedoria, ou conhecimento interno – como ferramenta para receber o significado do que está sendo dito e de forma que se possa então apreciar e entender isto. O Anel de Nibelungo de Wagner pode ser mais adequadamente compreendido por alguém familiar às convenções da ópera, às lendas de Norse (e à língua Alemã) e à música europeia do que seria, em contrapartida, para um ouvido destreinado, ou um olho iletrado. Da mesma forma, alguém que não tem a poesia em sua alma não pode receber o sentido do trabalho de Wagner, pela mesma razão que um eunuco não pode julgar um concurso de beleza. Ele não tem a antena necessária para receber essas ondas de rádio, por assim dizer. Tal eunuco pode certamente apreender através da sua razão que o trabalho de Wagner tem um sentido inato, mesmo se não for capaz de vivenciá-lo. Chamá-lo-emos de sentido / significado pessoal.

Por isso eu peço ao leitor que trace uma distinção entre o que é destituído de sentido (sem significado) e o que é insignificante. Pode ser sem sentido para um jovem casado que despreza o casamento todos os sinais e sonetos de amor, pois a linguagem do cupido não penetra o seu coração. Todavia, existe um sentido, por mais que ele não esteja preparado para recebê-lo. Quando se apaixonar, ele entenderá, uma vez que enxergará o significado. Mas por outro lado, não há possibilidade que ele entenda algo quando uma coruja pia, ou se a Boneca Emília lhe perguntar como foi o pôr do sol no planeta Naboo, muito calorento ou apenas um pouco?

A diferença entre sem significado e insignificante é a diferença entre uma questão sem resposta e uma questão sem sentido.

Mas aqui chegamos ao paradoxo profundamente implacável do ateísmo. Se a vida não tem sentido, então essa é a verdade. A razão demanda que vivamos de acordo com a verdade, pois todo o resto é autoilusão desprezível. Mas essa demanda é uma que, por definição, e pela própria natureza do caso, ninguém jamais poderá satisfazer. Não existe sentido a ser encontrado.

E é simplesmente uma questão de fato, a qual um indivíduo considera além de qualquer disputa, que o homem não pode viver sem sentido. Mesmo em sua tentativa de evitar o sentido, algum sentido é encontrado. Um homem pode cobrir sua consciência com insensibilidade, e tentar aprender a nunca desfrutar da beleza, e dizer nada além de mentiras e em nada acreditar, mas ele não pode fazê-lo de forma consistente e, muito menos, contínua.

Uma tentativa honesta de evitar todo e qualquer sentido à vida seria algo que dificilmente mesmo o mais devoto niilista beatnik ou sociopata poderia conseguir. Todos os seus atos teriam de ser motivados pela forma mais inferior de instinto irreflexivo, seus olhos e ouvidos teriam que rejeitar toda estrela ou flor, a fim de que ele não fosse silenciado pela beleza, nem visse uma criança em sua inocência, nem ouvisse uma risada ou uma simples nota de um alaúde, já que isso acabaria com seu fingimento num instante. E para que tal esforço seria feito? Ele não pode buscá-lo como um meio para um fim, porque a relação entre meios e fins é uma relação significativa, e os fins são significativos por si próprios. Ele não pode buscá-lo porque a razão o demanda, porque em um universo sem sentido, a razão nada demanda. Não existe filosofia, já que não existem palavras; não existem palavras porque não existem pensamentos; não existem pensamentos porque não existem ideias; não existem ideias porque não existe sentido.

Como nenhuma tentativa honesta pode ser feita para viver de acordo com a natureza verdadeira de um universo sem sentido no qual estamos presos, permanecer vivo é um ato de desonestidade sem paralelo. Isto significa que você não acredita no que pensa, você não entende o que você mesmo diz. Realmente, isto significa que ninguém acredita no que diz com exceção daqueles tolos tão estúpidos ao ponto de perceber a vida como sem sentido ou aqueles tolos tão insensatos ou tão covardes para admiti-lo.

Mesmo alguns passos moderados e temporários por esse caminho tornam a sua vida miserável, ele próprio um peso para o mundo, sem mencionar o perigo para si e os outros, não mais que um desgraçado qualquer que se saiu um pouco melhor com relação a sua própria miséria. Neste ponto, certamente será levantada a objeção que em um universo ateísta um indivíduo pode viver feliz ao se dedicar a uma diversão ou distração, tal como o serviço militar, o sacerdócio, a paternidade, a filantropia, a composição de uma sinfonia ou a redação de um livro sobre filosofia. Ou mesmo ao obter renda através do trabalho honesto, roubando por meio de fraude ou roubos violentos, caçando seres humanos como animais em uma ilha deserta para as quais suas vítimas são atraídas, abduzindo virgens para servirem aos seus prazeres carnais em um tipo de harém, comendo um sanduíche de presunto, fumando, cortando sua própria pele com uma faca, cortando seu pênis, trocando seu nome para Catlin ou amarrando um cinto de dinamite na sua cintura, explodindo-se na emergência de um hospital infantil em Jerusalém.

Eu confio que o leitor atento notará a dificuldade com todos os itens dessa lista.

Em primeiro lugar, todas elas, em um universo ateísta, são vãs e sem sentido, meras distrações; pois família, espécie, nação e planeta serão consumidos pela entropia e dissolvidos pelo nada. Não existe nem beleza, nem verdade em um universo sem sentido, daí o fato de que sinfonias e filosofia ou devem ser informações sem sentido ou arbitrárias, ou meramente expressões de gosto pessoal.

Segundo, em um universo sem sentido, não existe diferença entre salvador e traficante de escravos, o homem que busca a riqueza e o homem-bomba que busca a morte. Todas essas coisas podem não ter sentido algum – pois não há nenhum a ser buscado – e podem somente servir para distrair a mente da terrível, sofrível, destruidora e implacável verdade final. Tudo isso é sem sentido.

Isso não é como o caso do homem que aprende latim para ler Virgílio, e assim adquire a habilidade para entender o significado que lá estava desde o início, meramente obscuro para ele. Isto é mais como o caso da tentativa de calcular o último número primo, ou tentar desenhar um triângulo de quatro lados. A pessoa que procura é como alguém que muda de estação de rádio, enquanto experimenta com sua própria vida, tentando uma devoção prazerosa ou útil atrás da outra, mas não encontra isto pois existe somente estática a ser ouvida, e não música.

A coisa buscada simplesmente não pode existir, exceto como uma ilusão criada por palavras sem significado, pensamentos sem relação.

A palavra ‘sentido’ por definição significa “sentido intencional”. Se não existe um Deus, então o surgimento da raça humana, todo o membro da raça, foi um evento não intencional, um acidente.

Se não existe ninguém escrevendo o livro, as palavras do livro não podem formar uma história, exceto por semelhança à nuvem que forma um rosto: somente em seus olhos, e somente pelo tempo que você conseguir se enganar. Se não há ninguém pronunciando a palavra, não é uma palavra, mas algo como o pio de uma coruja que foi confundido com uma palavra. Sim, um ateísta em um universo ateísta pode ter uma vida feliz por um curto período, isto é, durante o período no qual ele exitosamente persegue prazeres vazios e se ocupa com projetos vazios, cruzadas sem sentido, vento e vaidade. Ele pode devotar sua vida aos outros ou a si mesmo. Ambos os ídolos vão desapontar.

Como só existe uma consequência possível no mundo ateísta da entropia, da decadência e da morte: o fracasso completo. Para o homem devoto aos prazeres vazios ou ocupado com filantropia barata ou ativismo social, as alternativas são: ou ele morrerá, ou fracassará, ou sua nação sucumbirá, sua esposa morrerá ou dele se divorciará ou deixará de satisfazê-lo, seus filhos morrerão ou irão embora, sua sinfonia será esquecida, seu livro de filosofia não será finalizado, e mesmo os cigarros, as prostitutas ou os jogos de gladiadores, as festas, orgias e automutilações que ele usa para se distrair lhe trarão cada vez menos prazer, e o vazio crescerá cada vez mais.

Seu único conforto é que se ele morrer jovem, essas coisas podem sobreviver algumas décadas a mais que ele.

Quem honestamente busca o sentido da vida vê que existe somente um sentido: somente o amor a torna tolerável.

No universo ateísta, o universo não nos ama. Claro que não! O universo sequer está preocupado em nos ignorar. Falar que o universo está ignorando a humanidade não é nada mais que um antropomorfismo injustificável. O universo nem mesmo tem a capacidade de ignorar, isto é, afastar sua atenção de nós como não merecedores, pois não tem ‘intenção’ de fazê-lo. O universo é nossa palavra para descrever uma massa de eventos desconexos que formam uma vasta máquina – não intencional, sem direção e morta – construída sem nenhum propósito, movendo-se pela inércia até ser parada pela entropia.

Não! Até mesmo chamá-lo de máquina é um antropomorfismo, pois as máquinas são ferramentas construídas com um objetivo. O caos é a ausência de propósito.

O universo ateísta é uma sequência sem sentido, de matéria sem sentido, distorcida por movimentos sem sentido.

Em um universo ateísta, não existe ninguém e nada a amar exceto outros homens, ou suas instituições, ou seus animais de estimação, ou algum outro objeto com valor sentimental. Tal amor é somente tão profundo quanto o sentimento: dura até a pessoa enjoar daquilo. Todos estes tipos de objetos de amor são mutáveis, volúveis, mortais e não confiáveis. No longo prazo, eles são indignos, e uma profunda e doente autoilusão, ironia e cinismo perpassam as vidas de qualquer pessoa que vive nesta atmosfera moral e mental.

Só o amor faz a vida valer a pena, e em um universo ateísta, a humanidade como um todo não tem pai, rei, não ama ninguém e não tem ninguém que a ame.

O homem não pode cessar sua busca pelo amor, pois é de sua natureza, e mesmo se pudesse, ele não deveria, pois viver uma vida sem amor é feio e errado. Conduzido a não buscar o amor, o homem encontra-se mais isolado que Robinson Crusoé. Não há ninguém para amá-lo de volta. Ele pode somente amar a si próprio. Por isso, o homem pode comprometer-se com atos que, ao final, são puras masturbações mentais, meras distrações, e a fruição do nada. A única razão pela qual essa visão do nada não enlouquece qualquer ateísta que a contempla é que ele não a leva a sério. O sol ainda brilha, ele tem trabalho a fazer, um jogo a jogar, um encontro, ou um sanduíche de presunto para matar a sua fome momentânea. Ninguém vive como homem em um caos sem sentido, nem tentaria. A hipocrisia é sua concha de proteção.

No universo teísta, o amor divino a tudo criou, e a tudo conquistou, e cada vida tem mais sentido do que poderíamos imaginar, mais do que ousamos imaginar, pois devemos viver mais que as estrelas e as galáxias por uma grande magnitude, na alegria infinita, de felicidade em felicidade.

No universo teísta, nada é sem sentido; nada pode ser sem sentido, porque tudo é uma mensagem do criador pelo meio da Criação em si para nós, suas criações. E esta mensagem é o amor.

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Publicado originalmente em Every Joe

Traduzido por Matheus Pacini

Revisado por Matheus Bernardino

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