Pensar ou não pensar, eis a questão!

“A qualquer hora, envolvendo qualquer problema de sua vida, você é livre para pensar ou se evadir desse esforço.”

"Pensar ou não pensar, eis a questão! Diferentemente dos animais e das plantas, o ser humano não sobrevive na base de reações automáticas (instinto). Sua consciência é volitiva, isto é, depende de sua vontade e esforço. O primeiro estágio da consciência é a sensação, um estado de apreensão produzido pela ação de um estímulo sobre um órgão dos sentidos. O segundo estágio é a percepção, um grupo de sensações retidas e integradas automaticamente pelo cérebro. Por fim, temos o estágio conceitual/conceptual, onde os homens desenvolvem/integram o conhecimento através do uso da lógica. Esse estágio é o que nos distancia dos demais organismos vivos. Entretanto, não se trata de um processo automático, mas sim voluntário. O homem deve querer pensar, respeitando seu mais fiel instrumento epistemológico: a razão.

Como o ato de pensar não é um processo mecânico, e as conexões lógicas não são feitas por instinto (diferente, por exemplo, das funções do estômago, pulmões ou coração), o indivíduo depara com a escolha entre ser ou não consciente. Para tanto, o homem deve decidir focar ou não a sua mente. Da mesma forma que a faculdade da visão não é muito útil até estar focada – pois, do contrário, nada produz além de borrões, a mente também precisa estar focada. Isso exige esforço contínuo. Num extremo, temos o indivíduo que possui a mente ativa, pronta para entender, em luta constante para apreender os fatos com clareza, sem preguiça de buscar os dados e os denominadores comuns dos fatos concretos observados. Tal indivíduo não permite contradições, buscando a verdade com total honestidade intelectual. Noutro extremo, está o homem para quem tudo além do nível sensório-perceptual é um borrão, uma névoa. A mente se encontra entorpecida, tal como a de um bêbado pouco antes de desmaiar. Ela é passiva, errante, atordoada e vivencia estímulos ao acaso. Esse homem se encontra num estágio de completa letargia mental.

Se a escolha individual for pela anti-razão, na crença de que o conhecimento humano ou é impossível ou é uma dádiva concedida por alguma divindade, o homem será vítima de constante falta de foco de sua mente. Ele se sentirá cada vez mais cega, insegura e ansiosa. Após algum tempo, ele sentirá o foco como uma tensão nada natural, fazendo com que o processo de pensamento seja relativamente tortuoso e improdutivo. Tal homem ficará bastante tentada a ficar em um estado passivo. Num grau extremo, a letargia transforma-se em total evasão mental, quando ele revoga a própria consciência por vontade própria. Ele se recusa a pensar, fugindo da responsabilidade de julgamento. Diferentemente do letárgico que não se esforça, o evasivo esforça-se para não enxergar, na esperança de que o fato desaparecerá caso ele não o reconheça. Podemos dar como exemplo todos aqueles que cometeram suicídio coletivo sob o comando do reverendo Jim Jones. Cedo ou tarde, o caminho inevitável de quem adota a evasão mental como filosofia de vida é a autodestruição. “Deixar a vida me levar” costuma levar, sim, ao precipício.

Em resumo, o poder de escolha de um homem num processo de pensamento é manter ou não o vínculo entre sua mente e a realidade. Trata-se de uma questão de volição, onde o homem tem que escolher ser homem, um ser racional com livre-arbítrio. A alternativa é entregar-se ao acaso, sendo guiado por forças ocultas, sem a compreensão objetiva da realidade. Este indivíduo será uma presa fácil para oportunistas de plantão, seguindo como autômato o comando de algum líder, seja o vizinho, a maioria, o Papa, o presidente ou até o reverendo Jim Jones. Para evitar tal destino e assumir o controle de sua vida, o homem tem que escolher ser homem. Ele deve optar pelo foco constante de sua mente, num processo que exige esforço contínuo para o ato de pensar. Pensar ou não pensar, eis a verdadeira questão!

__________________________________________

Publicado originalmente em Philosophy: who needs it.

Traduzido por Matheus Pacini.

Curta a nossa página no Facebook.

Inscreva-se em nosso canal no YouTube.

__________________________________________

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Inscreva-se na nossa Newsletter