O perigo do pragmatismo nos negócios

Se você acha que a melhor abordagem para os negócios é ser pragmático, pense novamente. O pragmatismo é amplamente considerado uma virtude nos negócios, embora, na verdade, seja uma abordagem perigosa, antitética à lucratividade de longo prazo. De fato, o pragmatismo tem uma conotação positiva: ele tem certo apelo entre os empresários porque eles o associam à praticidade e ao “fazer acontecer”, o que é um objetivo dos negócios. Enquanto ninguém conteste que “fazer acontecer” seja bom, primeiro, precisamos perguntar se ser pragmático realmente leva à lucratividade, e o que o sucesso de longo prazo de uma empresa, de fato, requer.

Apesar de sua conotação positiva, a essência do pragmatismo é o oportunismo: abandonar princípios – a sua integridade – para alcançar objetivos imediatos, tais como ganhar um contrato, fechar uma venda ou atrair investidores. O pragmatista raciocina: “o objetivo é maximizar lucros hoje, então, sejamos práticos. A concorrência é dura. Para ganhar um contrato, fechar uma venda ou atrair investidores, devo embelezar os fatos de modo a fazer com que minha proposta e minha empresa pareçam melhores que são, bem como oferecer alguns “incentivos” aos representantes de clientes prospectivos. Alcançar meu objetivo pode exigir dar um “jeitinho brasileiro”, mas isso é o que todo mundo faz”. Ao se engajar nesse tipo de racionalização de “fins justificam os meios” e “todo mundo faz”, o pragmatista se desfaz dos princípios dos quais depende o sucesso de seu negócio, a saber honestidade, justiça e independência.

O pragmatismo é imprático precisamente porque defende o oportunismo por cima dos princípios, os quais são ferramentas essenciais para “fazer acontecer” na lucratividade de longo prazo. Uma abordagem pragmática, sem princípios, pode “fazer acontecer” no curto prazo. Enganar clientes ou investidores potenciais ou ganhar um contrato imerecidamente com base em propinas é um ganho de curto prazo que, inevitavelmente, levará à perda no longo prazo. Peça a Bernie Madoff ou a qualquer outra pessoa que tentou sustentar um esquema de pirâmide (O “curto prazo” de Madoff durou um tempo relativamente longo em termos de ganhos financeiros, mas o preço que ele pagou em angústia mental autoadmitida por anos antes de ser pego exemplifica a ilusão de que abandonar princípios leva à realização).

Por que os princípios – verdades gerais e fundamentais induzidas da observação – triunfam sobre o pragmatismo nos negócios (e, na vida em geral)? O uso dos princípios triunfa sobre o pragmatismo na busca de lucratividade de longo prazo e outros valores porque é a única forma pela qual podemos projetar as consequências de longo prazo de nossas escolhas, e escolher as ações que levam ao valor de longo prazo. Em contraste, ser pragmático e agir sob o impulso do momento (por exemplo, fazer uma proposta irrealisticamente baixa para ganhar um contrato) pode lhe conceder um ganho de curto prazo (o contrato) mas uma perda de longo prazo (a saber, o cumprimento desse contrato, levando a mais engano e, eventualmente, ao fracasso, à perda de reputação e a perda do negócio originalmente obtido).

Por que usar uma abordagem de princípios é tão importante? A razão fundamental é que não sabemos automaticamente quais objetivos são necessários para alcançar o fim último de sucesso de longo prazo (lucratividade de longo prazo, ou sobrevivência e desenvolvimento). Nós tampouco sabemos automaticamente como alcançar tais objetivos. Como exemplo, considere a longa história de falências em contraste a sucessos, ou a razão pessoal erros/conquistas. O uso dos princípios é a única chance que seres falíveis têm para fazer escolhas complexas e concretas e alcançar os objetivos longe no futuro. Princípios em todas as áreas tornam isso possível ao nos permitir condensar uma quantidade enorme de informação de observações, integrando-a em relativamente poucas e fáceis afirmações. Como, por exemplo, “cultivar o solo antes de plantar”, “que a arte do anúncio não prejudique a mensagem”, “coma uma dieta balanceada” são princípios da agricultura, marketing e nutrição, respectivamente. Tudo isso nos permite projetar as consequências de longo prazo de nossas escolhas, possibilitando-nos fazer escolhas concretas.

O melhor guia para o nosso caminho de sobrevivência e florescimento são os princípios morais. Assim como todos os princípios, só os princípios morais baseados na observação dos fatos – os requerimentos da sobrevivência e florescimento humanos – são válidos, tais com a honestidade, a justiça e a independência. Ao projetar as consequências de longo prazo, a honestidade serve de guia contra fatos falsos (fazer uma proposta irrealista) de modo a obter um valor (um contrato). Da mesma forma, a justiça serve de guia para a avaliação objetiva das pessoas, incluindo a nós mesmos, e não obter ou conceder o imerecido (oferecer propinas para ganhar um contrato). O princípio da independência serve de guia em direção à realidade, provendo-nos a sapiência de não seguir os outros cegamente.

A afirmação “sejamos práticos” advém da evasão dos fatos – os requerimentos da sobrevivência e do sucesso de longo prazo. Quando isso é proposto, deve ser desafiado e rejeitado se significar o abandono de princípios – se a sobrevivência e o sucesso de longo prazo é o que, de fato, quisermos.

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Tradução de Matheus Pacini.

Publicado originalmente em Profitable and Moral

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