O misticismo de Einstein e a Física como religião

Não existe Ciência sem Filosofia. A epistemologia, i.e. uma visão sobre como o conhecimento é obtido ou, em alguns casos, até uma negação da ideia de conhecimento, é uma parte essencial de qualquer sistema filosófico. As ciências particulares consistem na aplicação dos princípios gerais do conhecimento de uma filosofia a um contexto específico, por exemplo, à influência da ação humana nas ciências sociais, ou à natureza de certos existentes nas ciências naturais, de forma a criar uma metodologia. A partir disso, é possível observar a realidade, abstrair princípios que explicam o seu funcionamento e, por fim, fazer previsões sobre os eventos que presenciamos.

No campo das ciências humanas como a Economia, a Sociologia e a Política é mais comum associar teorias ao seu respectivo corpo filosófico, como a economia marxista, frequentemente associada à filosofia e visão de mundo baseadas no materialismo histórico dialético de Marx, ou às teorias de direito natural, frequentemente associadas à visão de mundo cristã. Isso possivelmente se deve à natureza não-automática do ser humano, e à necessidade de explorar a fundo os valores envolvidos numa ação – ação essa que, supostamente, abre espaço para uma maior subjetividade. Apesar de algumas ciências naturais, como a Ecologia, possuírem um claro componente ideológico, a atitude mais comum em ciências como a Física ou a Química é a de se ater aos fatos, razão pela qual elas são frequentemente chamadas de “ciências exatas”, – ignorando o papel da filosofia na descoberta/interpretação dos fatos. Por causa dessa atitude, diversos erros frequentemente identificados nas ciências humanas acabam passando em branco, por exemplo, quando o assunto é a Física.

A ascensão da filosofia kantiana a partir do século XVIII transformou paulatinamente, de forma negativa, a metodologia usada para explicar os fenômenos naturais. Em menos de 300 anos de mudança filosófica, a metodologia racional de físicos clássicos como Isaac Newton (1643 – 1727) e James Clerk Maxwell (1831 – 1879), que apresentava definições objetivas e premissas baseadas na experimentação empírica, foi gradualmente substituída por diversas correntes irracionais de pensamento que compartilham a relativização de conceitos, a adoção de premissas arbitrárias e a substituição do método científico pela estatística e matemática puras.

No decorrer desse processo de degeneração científica, é possível identificar duas tendências distintas. Por um lado, a dicotomia analítico-sintética do pensamento de Immanuel Kant (1724 – 1804) possibilitou a negação das ideias de conhecimento, objetividade e identidade que culminaram na interpretação de Copenhagen[1] na Física Quântica. Por outro lado, a ideia de “lógica pura” de Kant originou escolas de pensamento racionalistas, isto é, correntes teóricas que negavam o empirismo em prol das criações da mente humana, visando substituir a experimentação científica pela dedução lógica oriunda de axiomas a priori.

O objetivo desse artigo é analisar a tendência racionalista na Física moderna. Para isso, apresentaremos as ideias fundamentais da Física Clássica, exemplificadas pelas obras de Isaac Newton e Galileu Galilei (1564 – 1542), de forma a estabelecer o que constitui uma física racional e objetiva. Contrastaremos a forma de pensar dos clássicos com a física relativista e arbitrária de Albert Einstein (1879–1955), mostrando como o autor perverte o método científico numa busca irracional pela unificação teórica baseada na  matemática. Por último, analisaremos como essa tendência culmina na rejeição completa da experimentação, e na ideia da unificação matemática como um fim em si mesma, característica das Teorias das Cordas de autores como Edward Witten (1951) e David Gross (1941).

O objetivo deste texto não é se aprofundar nas especificidades das teorias em questão, mas mostrar suas ideias básicas para o leitor comum, tornando explícito o papel da filosofia adotada por cada uma delas. Como adendo, apresentaremos a base de teorias concorrentes de potencial preditivo semelhante àquelas sendo criticadas, de forma a esclarecer que o diferencial entre elas, e a razão pela qual elas se tornaram hegemônicas, reside na epistemologia adotada, e não apenas em sua utilidade prática.

A Física Clássica de Newton e Galileu

Os trabalhos de Isaac Newton e Galileu Galilei são exemplos clássicos do período conhecido como Revolução Científica. O comércio das cidades-estados italianas com o mundo islâmico – que já vivia o fim da Era Dourada iniciada pelo Califado Abássida – trouxe consigo uma renovada popularidade das ideias gregas clássicas sobre filosofia e ciências naturais a uma Europa dominada pelo totalitarismo religioso. Os trabalhos de ambos foram essenciais para a definição do método científico, baseado na experimentação empírica e integração lógica.

Em seu Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, Galileu não compara apenas o sistema astronômico geocêntrico de Ptolomeu ao sistema heliocêntrico de Copérnico, mas também as visões distintas que dão origem a ambos. No cerne de sua obra sobre Astronomia estava uma discussão sobre método e epistemologia, na qual a fé, o apriorismo e o uso das escrituras sagradas eram contrapostos à razão, à lógica e à observação da realidade. Apesar da escrita leve e apologética, buscando evitar a perseguição da Igreja, Galileu estabelece a integração lógica e sistemática de observações controladas como método apropriado para alcançar a verdade, descartando para tal o estudo da tradição.

A epistemologia naturalista e racional de Galileu deu origem a uma metodologia quantitativa. Enquanto a maioria dos trabalhos científicos da época era qualitativa, limitando-se a descrever fatos observados e apresentá-los dentro do contexto histórico apropriado, Galileu buscava a causa por trás desses fatos, e os princípios que regiam o seu comportamento. O registro e o poder de prever eventos não é suficiente – a meta é o entendimento.

O período de racionalidade iniciado por Galileu tem seu ápice no século seguinte, com o trabalho de Isaac Newton. Famoso por contribuições geniais tanto na Matemática quanto em diversos ramos da Física, o trabalho mais importante de Newton – e o fundamento de todas as suas outras realizações – é no campo da Filosofia. Em seu Philosophiae naturalis principia mathematica, o autor estabelece princípios básicos[2] que devem guiar o trabalho do cientista, aplicando, de forma específica, as regras gerais da lógica às ciências naturais.

Em sua filosofia, Newton não apenas adota a navalha de Occam, segundo a qual não se deve admitir mais causas do que o necessário para um evento, embora estabeleça a possibilidade da indução a partir de regularidades observadas, rejeitada posteriormente por autores como David Hume e Immanuel Kant. O autor também trata da dedução, estabelecendo a necessidade de aceitar as conclusões lógicas do que é percebido, bem como sua limitação pela experiência empírica. Por causa de sua metodologia, Newton utiliza conceitos claros e bem-definidos de partícula, onda, campo, matéria, energia, tempo e espaço – seu grande diferencial frente às teorias subjetivistas contemporâneas.

Apesar de seu intrinsicismo[3], evidenciado por diversas menções a Deus e seu papel na criação do universo, Newton diferencia claramente entidades e existentes. Um existente é qualquer coisa que exista, seja um existente físico, uma ação ou um atributo de algo, ao passo que uma entidade é um existente primário, concreto, que existe de forma independente. De forma mais concreta, a cor vermelha, o movimento em linha reta e a interação entre dois objetos são existentes, mas não entidades, pois existem como aspectos de alguma outra coisa. Não é possível ver “o vermelho”, apenas coisas que têm a cor vermelha, da mesma forma que não é possível “ver” um movimento retilíneo, apenas algo que se move em linha reta. Um cachorro, por outro lado, é uma entidade, pois existe de forma concreta, podendo ser percebido de forma direta pelos sentidos.

Por conta da sua diferenciação precisa entre existentes e entidades, Newton trata de partículas – que chama de corpúsculos – como pequenas entidades concretas que constituem os objetos que observamos no dia a dia, que, como qualquer entidade, possuem extensão, mobilidade e massa, dentre outras características. Por outro lado, ondas são uma forma de movimento das partículas – atributos de outros existentes, não entidades concretas com existência própria. Não existem ondas, pura e simplesmente, apenas partículas que se movimentam de forma ondular, e o conceito “onda” identifica essa forma de movimento.

Da mesma forma, o conceito “campo”, seja ele gravitacional, elétrico ou magnético, não identifica uma entidade, mas sim um existente. Não existem campos concretos, mas entidades que interagem entre si de forma específica e mensurável. O conceito de campo identifica essas interações, para que possam ser observadas e apropriadamente entendidas. Com esses conceitos adequadamente definidos, a diferença entre matéria e energia fica clara. Matéria é o conceito geral que engloba tudo aquilo que existe de forma concreta, a saber qualquer coisa que seja uma entidade, ao passo que energia é o conceito geral que engloba qualquer forma de movimento das entidades.

A precisão na definição dos conceitos utilizados por Galileu e Newton não termina nas ideias de matéria e energia, mas se aplica a conceitos ainda mais gerais. A Invariância de Galileu é a ideia de que o movimento é sempre percebido de forma relativa, isto é, que o percebemos quando uma entidade se move em relação a outra. Não faz sentido falar que uma entidade se move “para a esquerda” a 10 quilômetros por hora, mas que essa entidade se move na direção para a qual o observador aponta quando estica o seu braço esquerdo, a 10 km/h mais rápido do que o observador está se movendo. Esse conceito é chave para a ideia de inércia de Newton, que estabelece que as leis da mecânica por ele descobertas se aplicam a sistemas de referência inerciais, ou seja, a entidades que estejam se movimentando de forma igual. De forma mais concreta, uma pessoa que empurra uma caixa não faz uma caixa que estava parada se movimentar, mas faz uma caixa que estava se movimentando na mesma velocidade que ela se movimentar mais rápido em relação a ela, visto que ambas estavam seguindo o movimento da Terra.

A relatividade para Newton e Galileu era uma questão subjetiva, que explicava porque nós não percebemos diretamente o movimento da Terra no dia a dia. A subjetividade, porém, era entendida dentro de um contexto objetivo, e não como um axioma metafísico. Os movimentos relativos entre as entidades acontecem dentro de um espaço absoluto, e compartilham um tempo absoluto. O espaço, para a Física Clássica, é o conceito que identifica a relação entre os locais ocupados pelas entidades – dizer que existe um espaço de 10 metros entre uma parede e outra é dizer que uma entidade pode se movimentar entre o lugar ocupado por uma parede[4] e outra deslocando-se 10 vezes a extensão de um metro, numa direção específica. O conceito de espaço inclui o conceito de dimensão, visto que é possível se movimentar em diferentes ângulos relativos ao ponto de referência utilizado.

Tempo, por outro lado, é o conceito que identifica a relação entre a duração de diferentes movimentos. Dizer que um indivíduo tem 10 anos de vida equivale a dizer que, entre o momento atual e o momento de seu nascimento, a Terra se moveu 10 vezes ao redor do Sol. Ao contrário do espaço, o conceito de tempo não inclui a ideia de dimensão, visto que o conceito não identifica direções distintas de movimento, mas a relação entre as suas durações.

Todos os conceitos utilizados por Newton e Galileu são abstrações a partir do comportamento das entidades que podemos observar. A matemática é vista como um instrumento de representação daquilo que é observado, e não como uma forma de provar uma ideia – apenas a observação é o instrumento de prova. Séculos após a morte de Newton, porém, mudanças na filosofia passaram a permitir que os físicos ignorem essas regras fundamentais de metodologia.

O Positivismo e a Relatividade de Einstein

Com o passar do tempo, os princípios descobertos e as equações formuladas por Newton se mostraram insuficientes para explicar fenômenos como a eletricidade e o magnetismo. Em meados do século XIX, James Clerk Maxwell, também um físico clássico, conseguiu demonstrar como a eletricidade e o magnetismo eram manifestações diferentes de um mesmo fenômeno, e postulou uma série de equações que previam adequadamente o comportamento dos campos eletromagnéticos, demonstrando como os campos se comportam como se constituídos por ondas que se movimentam na velocidade da luz. As equações de Maxwell, porém, não retratavam o movimento da luz de forma relativa aos movimentos do objeto que emitia e do que percebia a luz, como na relatividade de Galileu, mas como movimentos com uma velocidade absoluta, independente da velocidade desses objetos. Sua teoria também tratava as ondas de luz como movimentos de uma substância invisível que permeava toda a existência: o éter luminífero, entidade abandonada devido a repetidas falhas na busca por demonstrar a sua existência.

Em um ambiente filosófico adequado, a incompatibilidade entre as teorias de Newton e Maxwell  seria resolvida através da aplicação de uma metodologia semelhante à dos dois físicos, com a observação empírica como método de validação, a matemática como forma de representação de abstrações, e a lógica aristotélica como método de integração das informações obtidas. Seguindo esse método, talvez futuros físicos conseguissem unificar as duas teorias, ou talvez constatassem que elas tratam de existentes essencialmente diferentes, e que a unificação não é possível – de qualquer forma, a realidade dita as regras. Nos séculos 18 e 19, porém, a filosofia de Immanuel Kant havia se tornado praticamente hegemônica, e neokantianos – em especial, os positivistas lógicos dos quais tratamos nesse artigo – dominavam a academia.

Albert Einstein foi profundamente influenciado por positivistas lógicos como Moritz Schlick (1882 – 1936) e Hans Reichenbach (1891 – 1953), que partiam da negação da validade dos sentidos, bem como da ideia de verdade, para afirmar que a ciência era essencialmente um processo social de tentativa e erro, baseado em convenções necessárias, mas fundamentalmente arbitrárias. Einstein discordava veementemente do caráter social atribuído ao processo científico por Schlick e Reichenbach, considerando a ciência uma “criação livre do espírito humano”[5] – algo profundamente individual, e não coletivo. As discordâncias entre os autores se resumem, porém, a uma contraposição da primazia da consciência individual, segundo a qual o indivíduo cria a sua própria realidade, e a primazia da consciência coletiva, segundo a qual a realidade é fruto do consenso entre os indivíduos. A ideia de que a existência é absoluta, e cabe aos indivíduos descobri-la não era levada a sério por nenhum deles.

Apesar das discordâncias superficiais, Einstein compartilhava com os positivistas a aceitação tácita da dicotomia analítico-sintética[6], e a ideia consequente de que há um abismo intransponível entre filosofia, teoria científica e experimentação. A ideia clássica de que a filosofia era a base intelectual através da qual se pode realizar experimentos para formular teorias que correspondam à realidade é substituída, no pensamento de Einstein, pela ideia de que todos os ramos da ciência são separados e, em última instância, incompatíveis – assim como a filosofia, vista como um campo específico da ciência – e que toda a ciência corresponde apenas de forma contingente àquilo que é observado.

Einstein discordava dos positivistas lógicos em um outro aspecto essencial. Enquanto os positivistas partiam da incapacidade humana para pregar a rejeição de corpos teóricos integrados e sistemáticos, o físico a via como uma justificativa para abandonar critérios empíricos rígidos, considerando critérios estéticos matemáticos como suficientes para estabelecer uma teoria. Em outras palavras, se não é possível alcançar a verdade por meio da experiência provida pelos sentidos, considerados essencialmente falhos, resta apenas a lógica pura como meio de perceber a realidade. Essa forma de pensar manifesta-se de duas formas essenciais nas teorias da relatividade de Einstein: a formação arbitrária e instrumental de conceitos e o uso da matemática como instrumento de validação científica.

A base da teoria de Einstein é a rejeição de uma existência absoluta. Autores como Hendrick Lorentz (1853 – 1928) buscaram corrigir as inconsistências observadas nas teorias clássicas pelo método clássico, postulando a existência de entidades e buscando experimentos que provassem sua existência. Para Einstein, porém, o que importa não são os existentes reais, considerados inalcançáveis pela filosofia kantiana, mas os fenômenos percebidos pelo indivíduo. O autor parte dessa rejeição para formular a ideia de espaço-tempo, uma forma de pensar os fenômenos percebidos pela mente humana como eventos que acontecem em um ambiente de quatro dimensões: as três dimensões espaciais e o tempo, entendido como uma quarta dimensão. Ao passar da teoria restrita para a teoria geral da relatividade, Einstein força ainda mais as bases conceituais da ideia de espaço-tempo, atribuindo a gravidade a uma dobra na estrutura do espaço-tempo causada pela massa dos existentes.

Além do espaço-tempo, a conceptualização da luz é fundamental para as teorias da relatividade. Para Eistein, a luz é o fator constante que produz a ordem observada pelos sentidos. Segundo ele, a luz é composta por fótons, i.e. uma partícula sem massa que se comporta como onda, ou uma onda que se comporta como partícula. Para o autor, os conceitos de partícula e onda, separados, eram insuficientes para explicar o comportamento da luz, e não havia a necessidade de formular um novo conceito, pois, para ele, usá-los em conjunto provia os resultados desejados. Para Einstein:

“Parece que precisamos, às vezes, usar uma das teorias e, às vezes, a outra, ao passo que, em algumas vezes podemos usar qualquer uma delas. Nós estamos passando por um novo tipo de dificuldade. Nós temos duas imagens contraditórias da realidade; separadamente, nenhuma dela explica inteiramente o fenômeno da luz, mas juntas elas o fazem.”[7]

O autor também postulou, na base de sua teoria, que a luz era o existente mais rápido do universo, agindo em sua teoria como a constante universal responsável pelas regularidades na nossa percepção da existência. Einstein o fez, não com base em experimentos ou deduções a partir do que foi previamente observado, mas puramente por critérios estéticos matemáticos, afirmando que “não há método indutivo que possa levar aos conceitos fundamentais da Física”[8].

As contradições nos fundamentos das teorias da relatividade são inúmeras. O tempo não é, ou possui, dimensões. O tempo não passa “de um lado para o outro”, visto que ele é o conceito que identifica e compara a duração de movimentos e, por conta de sua própria natureza observável, não possui direção ou sentido. Integrar espaço e tempo é como tentar integrar aço e sanduíche de mortadela no conceito de aço-mortadela, e é o que Ayn Rand chama de abstração flutuante, i.e. um conceito que não pode ser reduzido à experiência perceptual, como o conceito cristão de Deus ou o Absoluto de Hegel. Curiosamente, o espaço-tempo padece do mesmo defeito que a ideia de éter luminífero rejeitada anteriormente, visto que é impossível observar a sua existência através de experimentos.

Paralelamente, a ideia de luz como fóton traz consigo uma contradição irresolúvel: uma partícula não pode ser uma onda, e vice-versa. Uma partícula é uma entidade, um existente concreto de natureza específica, que inclui massa, ao passo que uma onda é uma forma de movimento de entidades. A base dessa contradição é a visão de Einstein da matéria como uma forma de “energia estática”, propondo uma permutabilidade entre ambas. Como vimos anteriormente, porém, matéria é um conceito que engloba entidades, ao passo que energia é um conceito que engloba o movimento dessas entidades.

A conceptualização einsteiniana da luz e da energia é o que Ayn Rand chama de “conceito roubado”. Um conceito roubado é um conceito criado a partir de conceitos anteriores, mas ignorando a sua natureza original. Um exemplo comum é o conceito de “justiça social” que tenta integrar a ideia de justiça com a ideia de vontade popular, ignorando o fato de que “justiça” identifica a natureza de uma ação, independente das visões do coletivo. Uma partícula é uma entidade e, portanto, possui massa. Uma partícula sem massa é, portanto, uma contradição, e a adoção proposital de conceitos contraditórios é uma rejeição do axioma da Identidade[9].

Einstein percebia as contradições em seu corpo teórico, e demonstrava um considerável desconforto em relação a elas. Sua filosofia, porém, não só aceitava a existência de contradições, como também as considerava inevitáveis. Para o positivismo lógico, a teoria jamais corresponderá à realidade, e os critérios para se afirmar a “veracidade” de uma proposição são a sua coesão lógica e a sua utilidade preditiva. Ao contrário da maioria dos positivistas, Einstein não partia dessa negação para rejeitar a existência de teorias, mas para afirmar que a coesão e a simplicidade matemática eram critérios suficientes para estabelecer uma teoria científica. Uma afirmação não é útil e coesa porque é verdadeira, pois não existe verdade no sentindo clássico – ela é contingentemente verdadeira por ser útil, coesa e matematicamente simples.

A matemática, para Einstein, não era uma forma de representar aquilo que é observado e comprovado através de experimentos empíricos, mas é, em si mesma, uma forma de validação. Essa forma de pensar ignora o fato de que é possível chamar o “c”, na famosa equação E=mc² de “velocidade da visão de Alá” e o m de “relevância na dialética histórica existencial” e obter os mesmos resultados. Imagino que seja claro para o leitor que, apesar da utilidade prática de uma equação que se baseia na ideia de que Alá percebe a existência a uma velocidade específica, ela não possibilita o entendimento, objetivo essencial da Física.

Como a realidade é absoluta, e a consciência é apenas a capacidade de percebê-la, uma teoria que adote a inexistência da realidade como premissa não pode manter seu poder preditivo por muito tempo. Devido às falhas sucessivas da teoria da relatividade na previsão do  movimento de estrelas e galáxias, a tentativa, de natureza mais política que intelectual, da academia para preservar o paradigma teórico hegemônico – e os cargos e bolsas relacionados a ele – deram origem a um novo instrumento intelectual espúrio: a matéria escura.

Matéria escura é um suposto tipo de entidade imperceptível até o momento, mas que exerce força gravitacional, e a sua existência é largamente aceita no meio acadêmico. A única evidência para a existência de matéria escura é que o movimento observado das galáxias não corresponde às previsões dos modelos baseados na teoria da relatividade. A teoria de Einstein, supostamente aceita pelo seu poder preditivo, precisa de uma leve correção para funcionar – a criação de uma entidade imperceptível, tal qual o éter de Maxwell ou os deuses da antiguidade, que corresponde a cerca de 85% da realidade.

Além da matéria escura, a energia escura é essencial para explicar a expansão constante do universo no paradigma einsteiniano. Para que o universo se expanda, tal como observamos, e não se torne estático ou contráctil, Einstein postulou uma “constante cosmológica”, algo como um artifício matemático para “fechar a conta”, que indica a existência de “energia negativa”. Como a energia identifica movimento, e não existe a possibilidade de um “movimento negativo”, o conceito de energia escura é mais uma evidência da falha de uma teoria que se propõe – pasmem! – a ser falha.

Se não é o rigor científico, as definições claras ou até mesmo o poder preditivo que faz com que a teoria de Einstein seja hegemônica até os dias de hoje, qual é o fator responsável pelo seu sucesso? A resposta é: a visão de mundo implícita na teoria. Com o declínio natural do pensamento religioso, as incertezas existenciais suprimidas pelos mitos que explicam a origem e o funcionamento do universo voltam à superfície. A necessidade de aplacar essa angústia com explicações absolutas e inquestionáveis sobre a natureza daquilo que existe é um tema recorrente na literatura psicológica, e é exatamente a base da teoria que eleva o racionalismo de Einstein a um patamar religioso: a Teoria-M.

Teoria-M: a Matemática como Religião

O racionalismo platônico adotado por Einstein, i.e. a ideia de que conceitos abstratos tem alguma forma de precedência sobre os existentes concretos que percebemos, sempre foi uma característica irracional omnipresente nas religiões monoteístas ocidentais. Com o avanço da Física Quântica[10], fruto de um tipo diferente de irracionalidade da qual trataremos em um artigo futuro, uma alternativa que contradiz as premissas racionalistas da relatividade de Einstein começa a ganhar força na academia.

De forma resumida, a Física Quântica adota o princípio da incerteza formulado por Werner Heisenberg (1901 – 1976), segundo o qual é impossível medir simultaneamente, com precisão, as variáveis complementares[11]de uma partícula, como a sua localização e a sua velocidade. Isso se deve ao fato de que, para medir uma das variáveis, é necessário interagir com a onda-partícula, alterando a outra variável. Os físicos quânticos enxergavam isso como uma lei metafísica, característica da existência, enquanto que Einstein via na incerteza apenas uma limitação contingente daquele que observa, propondo que seria possível, em teoria, deduzir as informações de uma onda-partícula observando sua interação natural com outras ondas-partículas, sem interagir diretamente com o objeto investigado.

As diferenças metodológicas e, consequentemente, matemáticas deram origem a uma famosa série de debates entre Albert Einstein e Niels Bohr (1885 – 1962) que, segundo o consenso acadêmico, foi vencida por Bohr. Apesar do fato de que a vitória em um conflito entre duas teorias essencialmente irracionais, como qualquer conflito religioso, é decidido de forma arbitrária pelo coletivo, o ambiente acadêmico tornou-se, na prática, dividido entre uma teoria que conseguia realizar previsões no nível subatômico, mas falhava no nível macroscópico, e uma teoria que fazia exatamente o inverso – ambas com metodologias contraditórias.

Insatisfeitos com esse estado caótico da Física, acadêmicos como Edward Witten, David Gross e John Henry Schwarz (1941) perceberam que era possível unificar as equações de ambas as escolas de pensamento, caso fosse possível adotar a crença em cordas unidimensionais que vibram em um número ilimitado de dimensões, dando origem a diversas teorias independentes no que ficou conhecido como a “primeira revolução das supercordas”. Essas teorias foram posteriormente unificadas por Witten, que percebeu que era possível tratá-las como limites específicos de uma mesma equação matemática, dando origem à Teoria-M, na “segunda revolução das supercordas”.

A Teoria-M padece das mesmas falhas epistemológicas e metodológicas da relatividade de Einstein, mas numa escala muito superior. Enquanto Einstein integrava indevidamente os conceitos de espaço e tempo como dimensões da mesma natureza, autores como Witten simplesmente assumem a existência de inúmeras dimensões, de 11 na Teoria-M a 26 na teoria das cordas heteróticas. Enquanto Einstein aceitava a contradição de dobras na estrutura do espaço-tempo para explicar fenômenos perceptíveis como a gravidade, os teoristas das supercordas ignoram completamente a percepção humana ao propor existentes que possuem apenas uma dimensão, mas que se movimentam em dezenas de dimensões. Isso é fruto de uma mudança fundamental na natureza epistemológica dos dois corpos teóricos.

A metodologia de Einstein era essencialmente contraditória, com o seu racionalismo balanceado por uma dose de realismo filosófico. De forma concreta, Einstein acreditava na existência de uma realidade objetiva, mas considerava os sentidos como inerente falhos e, portanto, a razão “pura” da matemática como o único meio de se alcançar algum tipo de verdade. Os autores da Teoria-M, por outro lado, rejeitam, não o racionalismo, mas o realismo einsteiniano, considerando a existência como secundária aos conceitos matemáticos. Para eles, as leis da Física não são formas de representar a realidade, mas regras que levaram à criação da realidade.

A física moderna é frequentemente vendida como uma alternativa secular e racional à certeza ingênua do pensamento religioso, de natureza fundamentalmente diferente. Porém, analisando objetivamente o corpo teórico da Teoria-M, e das teorias de cordas em geral, fica claro que ela é uma alternativa racionalista, de natureza essencialmente semelhante aos mitos religiosos. A epistemologia das supercordas não é a epistemologia aristotélica, lógica e empírica responsável pelo progresso científico dos últimos séculos, mas o idealismo platônico segundo o qual as ideias têm precedência sobre a realidade – a busca pelo princípio único e superior que está permanentemente fora do alcance humano, que caracteriza tanto o pensamento religioso, quanto a sua versão secular hegeliana por trás das teorias marxistas, fascistas e progressivistas de dialética histórica.

O resultado dessa epistemologia mística na prática é o fato de que a Teoria-M converge com o modelo religioso de forma assombrosa. Por um lado, é uma teoria que se propõe a explicar tudo o que existe com base em um único princípio puro substituindo Deus pela matemática, o gênese pelo Big Bang, e a criação de todas as coisas através da Palavra pela criação de todas as ondas e partículas através da diferenciação da onda-partícula original – não com base no que é observado, mas como um objetivo bom em si mesmo. Por outro, ela rejeita a percepção humana como impura, substituindo a perfeição e a omnipotência divina incompreensíveis pela impossibilidade da mente humana, presa em seus preconceitos cronológicos e tridimensionais, de imaginar uma dúzia de dimensões.

Nesse ponto do artigo, é possível perceber o declínio racionalista que levou a física de uma ciência racional, preocupada em utilizar a matemática e a observação como um instrumento da mente humana para representar e entender a realidade, ao racionalismo moderado einsteiniano, que divorciou a mente da realidade, colocando ambas em patamar de igualdade, transformando a matemática em um instrumento superior à observação, culminando no racionalismo místico radical da Teoria-M, que ignora inteiramente a realidade observável, elevando a matemática pura ao patamar de palavra divina. No entanto, existem alternativas racionais[12] a essa forma de pensar? Existem modelos que expliquem fenômenos como a aparente interação instantânea entre entidades que observamos ao lidar com a luz, o magnetismo e a gravidade? Felizmente, a resposta é sim.

A Hipótese das Cordas e a Física Racional

Antes de expor teorias alternativas à física matemática racionalista, é necessário um lembrete sobre as limitações da ciência. O indivíduo que busque na ciência a certeza omnisciente proporcionada pela religião tem apenas duas alternativas possíveis: a decepção ou a corrupção. O indivíduo que se mantenha íntegro em sua metodologia científica encontrará sempre a frustração de um limite ao seu conhecimento, ao passo que o indivíduo que valore a certeza acima da verdade acabará por corromper o método científico para acomodar a sua vontade. O progresso científico é um processo cumulativo, e o conhecimento obtido gera algumas certezas mas, por sua própria natureza, cria novas dúvidas e questionamentos. Saber que objetos se atraem de forma proporcional à sua massa, por exemplo gera dúvidas quanto aos mecanismos responsáveis por essa atração. Com isso em mente, podemos prosseguir.

Ao buscar explicações racionais para a aparente dualidade onda-partícula, é possível encontrar diversas teorias interessantes, como a Teoria da Onda-Piloto de David Bohm (1917 – 1992) ou a Teoria das Ondas Elementares de Jeff Boyd, das quais trataremos mais a fundo em um artigo futuro. Teorias que saem do campo da estrutura sub-atômica das entidades e focam especificamente na natureza da interação à distância observada em campos gravitacionais e magnéticos são mais raras. A mais promissora é a Hipótese das Cordas[13], do argentino Guillermo “Bill” Gaede (1952).

Engenheiro, programador e ex-espião soviético que acabou por trabalhar com contraespionagem para a CIA, a história de vida de Gaede é interessante por si só. Seu trabalho no ramo da Física, todavia, é interessante por dois motivos. O primeiro é o seu foco no rigor científico, na metodologia racional e no uso apropriado de conceitos. O segundo é o modelo da natureza da matéria e da energia proposto por ele.

Parte essencial do trabalho de Bill Gaede é a negação de boa parte da física contemporânea. O físico, cujo trabalho está disponível gratuitamente online, explora em detalhes os erros de metodologia e epistemologia de diversas escolas de Física, detalhando as confusões nas definições conceituais – e em muitos casos, a rejeição da ideia de conceitos objetivos – a permutabilidade entre existentes e entidades, e a substituição da explicação de fenômenos empiricamente observados pela matematização racionalista. Com isso, Gaede dá ao leitor uma noção realista dos limites do nosso conhecimento atual, do estado da academia moderna, e dos efeitos da Filosofia nas ciências naturais, criticando de forma interessante, ainda que questionável, até mesmo físicos clássicos como Isaac Newton por estabelecer equações que se propõem a sistematizar algo como a gravidade sem estabelecer o mecanismo por trás do fenômeno observado.

Além da sua negação aos absurdos teóricos da física contemporânea, há também uma parte positiva do trabalho de Gaede, na qual ele propõe uma estrutura atômica que os fenômenos naturais sobre os quais os físicos se debruçam desde Newton. A Hipótese das Cordas de Gaede consiste na conceptualização do mundo subatômico como um emaranhado de cordas electro-magnéticas, que compõem os átomos e dão origem aos campos eletromagnéticos e gravitacionais que observamos no dia a dia.

A Hipótese das cordas propõe que as entidades são compostas por diversas cordas eletromagnéticas que interconectam todos os átomos que existem. Essas cordas, por sua vez, são compostas por dois fios, um elétrico e um magnético, retorcidos ao redor um do outro. Átomos, por sua vez, são emaranhados esféricos dessas cordas eletromagnéticas, com algumas cordas inteiras e uma maioria de fios elétricos isolados cruzando diametralmente o centro da esfera atômica, e fios magnéticos isolados se enroscando ao redor do átomo, formando uma espécie de novelo.

Um átomo, segundo Gaede, é composto, não pelas ondas-partículas contraditórias de Einstein, pelas vibrações das cordas sobrenaturais da Teoria-M ou pelas nuvens de probabilidade da Teoria Quântica[14], mas por prótons, nêutrons e elétrons entendidos como entidades concretas. Os prótons seriam nós entre os fios elétricos que cruzam diametralmente o átomo; os nêutrons seriam nós entre as cordas eletromagnéticas que cruzam diametralmente o átomo; e uma superfície eletromagnética composta, não por partículas, mas pelos diversos fios magnéticos emaranhados na camada externa do átomo. Esse modelo não apenas explica mistérios como as “emissões beta” – nas quais um nêutron misteriosamente expele um elétron, tornando-se um próton –  que agora podem ser entendidas como uma corda eletromagnética se separando em seus dois fios, como todos os fenômenos que a física moderna tenta explicar através da flexibilização relativista de conceitos.

O fenômeno da luz é entendido, não como uma série de partículas sem massa emitidas constantemente por existentes, ou como uma onda que se propaga em um meio misterioso, mas como a torção das cordas que conectam todos os átomos no universo, o que explica a natureza absoluta da velocidade da luz, que independe da velocidade relativa dos objetos observados. A conceptualização da luz como a torção de cordas microscópicas que conectam todos os átomos explica a sua velocidade, não como um limite matemático arbitrário do universo ou como a ação de uma partícula sem massa, mas de forma não contraditória como a interação entre existentes que ja estavam previamente conectados.

A conexão prévia entre os átomos também explica os diversos outros fenômenos de interação quase instantânea entre entidades. O magnetismo e a eletricidade podem, dessa forma, ser entendidos não como “campos” abstratos, mas como movimentos de fios concretos. A gravidade também pode ser entendida como a tensão entre existentes ligados por cordas, sem a necessidade de distorcer o conceito de espaço para entende-lo como algo “dobrável” e relativo.

Por conta de sua metodologia sólida, Gaede não propõe uma Teoria da Corda, pois entende que não foram feitos os experimentos necessários para excluir toda e qualquer alternativa ao seu modelo. A Hipótese da Corda, porém, diferentemente das alternativas contemporâneas exploradas ao longo desse artigo, provém da integração não-contraditória da informação provida pelos sentidos e, portanto, é um modelo plausível para explicar a natureza dos existentes. Em outras palavras, o modelo de Gaede não está acima de quaisquer dúvida, como se vangloriam os proponentes da Relatividade ou da Teoria-M, mas por ser racional, pode ser verdadeiro, diferentemente dos modelos hegemonicamente aceitos, cujas contradições epistemológicas garantem a certeza de sua incorreção.

A Física é a base das ciências naturais, e o seu estudo é essencial para o progresso humano. A Filosofia é a base de toda e qualquer ciência, e a aplicação de uma epistemologia sólida é fundamental para a busca do conhecimento. Por causa disso, é preciso se acostumar com a desconfortável ideia de que boa parte do nosso progresso científico é, na verdade, ilusório, e com isso buscar teorias e pesquisadores que estejam, de fato, comprometidos com a busca racional pelo conhecimento.

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Revisado por Matheus Pacini

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[1] A interpretação de Copenhagen da Teoria Quântica, também chamada de Espírito de Copenhagen, é o paradigma científico criado por Niels Bohr e Werner Heisenberg para explicar os resultados de experimentos práticos, como a difração da dupla-fenda, e mentais, como o gato de Schroedinger. A ideia fundamental é a de que a consciência é um aspecto essencial da existência, entendida como uma série de probabilidades que se torna real apenas quando observada.

[2] Os quatro princípios científicos estabelecidos por Newton são a Navalha de Occam, a Causalidade, e a necessidade da Indução e da Dedução. A Navalha de Occam é a ideia de que não se deve admitir mais causas para um fenômeno natural do que o verdadeiro e necessário para explicar o observado, como a vontade divina, por exemplo. A Causalidade, nesse contexto, é a ideia de que é necessário, tanto quanto possível, atribuir causas aos fenômenos observados, e não apenas aceitar absolutos arbitrários. A Indução é proposta por Newton como a ideia de que as qualidades dos corpos que demonstrem não admitir remissão ou intensificação, e que forem observadas em todos os objetos estudados, devem ser consideradas qualidades universais de todos esses corpos. A necessidade da Dedução, para Newton, é conceptualizada como a ideia de que as consequências lógicas dos experimentos devem ser consideradas verdadeiras, apesar de quaisquer hipóteses contrárias, até que haja evidências para essas hipóteses, excluindo dúvidas irracionais.

[3] O intrinsicismo é posição filosófica que considera uma ideia como intrinsecamente verdadeira, por causa de uma característica arbitrária. Newton era cristão e, portanto, considerava a mitologia cristã como intrinsecamente verdadeira, e a moral cristã como intrinsecamente boa, simplesmente por estar escrita em um livro específico, e promovida por uma tradição específica. Ayn Rand contrapõe o intrinsicismo ao subjetivismo, i.e. a crença de que a realidade é fluida, e a verdade é uma questão de opinião subjetiva, mostrando como ambas são os dois lados da mesma moeda irracional.

[4] Como estamos lidando com teorias irracionais da Física, é necessário lembrar que esse exemplo diz respeito ou a um movimento entre o limite físico de uma parede e o limite físico da outra, ou a um movimento ao longo de uma distância igual àquela que separa o centro de uma parede ao centro da outra. Não é possível se movimentar entre o lugar fisicamente ocupado por uma parede e o lugar fisicamente ocupado por outra, pois dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço.

[5] Trecho do discurso de Albert Einstein ao receber seu prêmio Nobel em 1921

[6] A dicotomia analítico-sintética é a ideia de que as proposições se dividem entre analíticas ou sintéticas. Proposições analíticas são aquelas que tratam sobre a relação entre dois conceitos, e só podem ser consideradas verdadeiras ou falsas de acordo com a definição arbitrária utilizada para estes conceitos – elas analisam, portanto, apenas relações lógicas, e não a realidade. Proposições sintéticas são aquelas que se propõem a identificar um fato da realidade, e não podem ser consideradas verdadeiras pois os sentidos humanos são falhos e, portanto, incapazes de perceber a realidade. O Objetivismo rejeita a dicotomia analítico-sintética em todas as suas versões e variantes, assim como a ideia da incapacidade dos sentidos que está em sua base.

[7] EINSTEIN, Albert e INFELD, Leopold Infeld The Evolution of Physics: The Growth of Ideas from Early Concepts to Relativity and Quanta, (1938).

[8] Albert Einstein (1950). Essays in Physics.

[9] A metafísica objetivista parte de três axiomas primários autoevidentes. O axioma da existência, formulado como “a existência existe” é a proposição que identifica o fato de que algo existe, em contraste às ideias místicas que a realidade é uma ilusão. O axioma da consciência identifica o fato de que a consciência existe, e é a capacidade de perceber aquilo que existe. O axioma da identidade, formulado como “A = A” identifica o fato de que tudo o que existe tem uma natureza própria, e não contraditória.

[10] Física Quântica é um termo que pode ser usado para qualquer teoria que se proponha a explicar a natureza dos existentes em um nível subatômico a partir de quantidades discretas de energia, chamadas de quantas. No contexto desse artigo, porém, Física Quântica se refere especificamente às teorias que tem sua base na Interpretação de Copenhagen do experimento da dupla fenda, segundo a qual a realidade só existe quando, e enquanto, é observada por algo.

[11] A Física moderna adota a dualidade onda-partícula, segundo a qual os existentes que compõem as entidades que percebemos no nível subatômico não podem ser conceptualizadas como partículas ou ondas, mas precisam ser enxergadas como uma das duas dependendo da situação. Variáveis complementares são um par qualquer de variáveis no qual uma dependa da conceptualização qua onda (como a velocidade), enquanto outra dependa da conceptualização qua partícula (como a localização).

[12] É importante frisar o aspecto racional de possíveis alternativas, pois a Física Quantica permanece como uma alternativa comumente aceita à Teoria-M e à relatividade. Ela, porém, é apenas um exemplo do outro lado da moeda irracional na física, contrapondo o racionalísmo místico pelo ceticismo arbitrário, e a primazia das leis divinas pelo poder divino da mente individual.

[13] É importante diferenciar a Hipótese das Cordas das diversas Teorias de Cordas, ambas traduzidas com nomes semelhantes para o Português apesar de sua natureza distinta. As teorias das cordas, em inglês String Theory (algo como “teoria dos fios”), são as teorias racionalistas, analisadas na seção anterior, que buscam explicar a realidade por meio de cordas unidimensionais que vibram em dezenas de dimensões. A Hipótese das Cordas, em inglês Rope Hypothesis, é o modelo proposto por Gaede, no qual átomos são conectados por cordas eletromagnéticas.

[14] A Física Quântica, que não abordamos nesse artigo, trata o átomo como um núcleo positivo coberto por uma “nuvem de probabilidades” que se torna um eléctron real, em uma localização específica, quando é observado. Ayn Rand tem uma obra ampla sobre a ideia irracional de que a existência depende da observação por parte de uma consciência – falácia que chama de primazia da consciência.

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