Leonard Peikoff e o significado de ‘arbitrário’

Arbitrário significa afirmar algo sem qualquer tipo de evidência, seja perceptual ou conceitual; tal afirmação não tem base nem na observação direta nem em qualquer tipo de argumento teórico. [Uma idéia arbitrária] seria uma afirmação pura que não passou por qualquer tentativa de ser validada pela, ou conectada à realidade.

Se um homem afirma tal ideia, mesmo que por erro, ignorância ou corrupção, ela se torna epistemologicamente invalidada, pois não apresenta relação alguma com a realidade ou com a cognição humana.

Vale lembrar que a consciência do homem não é automática, e muito menos automaticamente correta. Logo, para um homem ser capaz de afirmar que uma proposição é verdadeira – ou mesmo possível – ele deve seguir regras epistemológicas definidas e concebidas para guiar seu processo mental e manter suas conclusões alinhadas com a realidade. Em resumo, para o homem adquirir conhecimento, ele deve adotar métodos objetivos de validação – isto é, deve evitar o arbitrário…

Como uma afirmação arbitrária não possui conexão com os meios de conhecimento do homem, ou com sua compreensão da realidade, cognitivamente falando, tal afirmação deve ser tratada como se nada tivesse sido dito.

Permita-me elaborar. Uma afirmação arbitrária não possui nenhum status cognitivo. Segundo a filosofia objetivista, tal afirmação não deve ser considerada nem verdadeira nem falsa. Se for arbitrária, não merece nenhum tipo de avaliação epistemológica, devendo ser dispensada como se nunca tivesse sido dita. A verdade é estabelecida por referência a um conjunto de evidências e dentro de um contexto; o falso é considerado falso porque contradiz as evidências. O arbitrário, no entanto, não tem relação com evidências, fatos ou contextos. Seria o equivalente humano aos (sons repetidos por) um papagaio… Sons sem nenhuma ligação com realidade, sem conteúdo ou significado.

De certa forma, então, o arbitrário pode ser considerado pior do que o falso. O falso pelo menos tem algum tipo de relação (apesar de negativa) com a realidade; ele atingiu o campo da cognição humana, embora represente um erro – nesse sentido, todavia, está mais próximo da realidade do que o descaradamente arbitrário.

Desejo fazer uma ressalva que as palavras que expressam uma afirmação arbitrária podem talvez ser consideradas verdadeiras ou falsas num contexto cognitivo (se e quando não forem expressadas como arbitrárias), mas isso é irrelevante para a presente questão porque muda a situação epistemológica. Por exemplo, se um selvagem disser “dois mais dois é igual a quatro” como uma frase decorada que ele é incapaz de compreender de fato, então, dentro desse contexto, a frase é arbitrária e o selvagem não disse qualquer tipo de verdade ou falsidade (é similar ao exemplo do papagaio). Nesse tipo de situação, ela é somente uma emissão de sons; já dentro de um contexto cognitivo, onde a pessoa sabe o significado e a lógica por trás dela, o mesmo som pode ser usado para anunciar uma proposição verdadeira. Seria impreciso descrever essa situação dizendo “a mesma ideia é arbitrária em um caso, porém verdadeira noutro.” A descrição correta seria: em um caso, o palavreado não expressa ideia alguma, tratando-se apenas de um ruído desconectado da realidade; para o homem racional, palavras expressam ideias: são símbolos conceituais que denotam fatos.

Não é de sua responsabilidade refutar a afirmação arbitrária de alguém, procurando argumentos que provem a sua falsidade. É um grave erro de sua parte tentar qualquer tipo de refutação. O procedimento racional frente à uma afirmação arbitrária é simplesmente descartá-la de imediato, como inadmissível e indiscutível.[1]

Não há como fugir da lei de identidade, nem dentro do universo de um indivíduo, nem na ordem de sua própria consciência; se ele quiser adquirir conhecimento do primeiro, deve descobrir o método correto para usar o segundo; não há espaço para o arbitrário em nenhuma atividade do homem, muito menos em seu método de cognição – e assim como ele aprendeu a ser guiado por critérios objetivos para produzir suas ferramentas físicas (bens e serviços), também deve sê-lo para formar suas ferramentas de cognição, seus conceitos.[2]

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Tradução de Carmen U.

Revisado por Matheus Pacini.

Publicado originalmente em Ayn Rand Lexicon

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[1] PEIKOFF, Leonard. The Philosophy of Objectivism lecture series, Palestra nº6.

[2] RAND, Ayn. Introduction to Objectivist Epistemology. p. 87.

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