Felicidade por um padrão adequado

Muitas pessoas parecem vacilar entre “fazer o que é certo” e “buscar sua felicidade”, o que, devido em grande parte à sua educação religiosa, impõe um dilema. “Fazer o que é certo” geralmente implica cumprir um dever ou seguir princípios que não estão ligados a viver uma vida feliz na Terra. Uma vida feliz é considerada “egoísta” e deve ser evitada, segundo a maioria das moralidades. Então, para buscar sua felicidade, muitas pessoas deixam a moralidade de lado e fazem apenas o que sentem vontade, em um esforço para satisfazerem a si mesmas. O problema é que nenhuma das duas opções é a favor de uma vida feliz – a moralidade religiosa, porque manda evitar a felicidade na Terra e não seguir os sentimentos já que, normalmente, isso não gera bons resultados. A maioria das moralidades considera o sofrimento como uma virtude, e, como nenhum homem razoável vai querer sofrer por toda a vida, de vez em quando trapaceia e faz o que quer.

No entanto, os sentimentos (ou emoções) de uma pessoa não são ferramentas de cognição (pensamento), nem são pré-programados para fazer coisas que, de fato, são boas para ela. Considere, por exemplo, um vício em drogas (digamos, cocaína): ela pode fazer com que você se sinta bem enquanto estiver fazendo efeito, mas à custa de desconectar sua mente da realidade. O problema é que a realidade continua a existir, e acreditar que pode pular do telhado enquanto estiver chapado não vai ser bom para sua vida. Então, se uma moralidade do dever deixa a pessoa infeliz, e se seguir sentimentos pode ser perigoso para sua saúde, qual é a alternativa para realmente buscar uma felicidade que seja moral e boa para você?[1]*

Ayn Rand encontrou uma solução ao criar um padrão moral baseado na natureza factual do homem. Não segue o dever nem os sentimentos, mas decide previamente, antes de agir, o que é de seu interesse, levando em conta todos os fatos relevantes. E como a felicidade é o resultado de viver de forma satisfatória, agir de acordo com o que é bom para si mesmo levará a uma felicidade baseada na natureza do homem – será bom para a pessoa, e ela experimentará a alegria da realização de viver com sucesso uma vida baseada em fatos. Um exemplo é fazer refeições nutritivas: elas fazem bem, por isso, é moral comer bem. E comendo bem, atinge-se um bem-estar geral em nível biológico. Em um nível mais consciente, é moral pensar sobre os fatos relativos à vida – os fatos que influenciam a vida – e pensar bem antes de agir em relação a eles. Pensar é um processo que traz alegria; a capacidade de raciocinar é um aspecto natural de ser humano, e o homem racional tem prazer psicológico quando pensa. Consequentemente, o homem faz coisas na vida – fisicamente (biologicamente) e em sintonia com sua consciência – que levam a um estado satisfatório de alegria em atingir objetivos que são benéficos para si.

Os heróis dos dois romances mais famosos de Ayn Rand – A nascente e A revolta de Atlas – contêm muitos exemplos como esse, de personagens morais adquirindo valores através da ação racional, que sustentam suas vidas individuais, mostrando o que significa ser moral por um padrão racional – e desfrutando muito suas vidas ao longo do processo. Howard Roark constrói uma carreira brilhante e intransigente; e John Galt conquista a liberdade de viver sua própria vida em um mundo ensandecido com filosofia irracional que busca escravizá-lo. A luta deles não foi fácil, porém, seguindo os princípios de uma moralidade baseada em fatos e centrada no homem, conseguiram ser bem-sucedidos a longo prazo, pois trouxeram os fatos para seu lado usando a razão como guia. O mesmo pode acontecer na vida de qualquer homem, desde que ele seja racional e aja de acordo com os fatos conforme o que eles significam para sua vida por um padrão racional. Agindo pelos objetivos que são, de fato, benéficos para sua vida em todos os níveis, sua felicidade pode ser alcançada em um estado moral de viver bem. Como Tara Smith explicou em seu livro sobre egoísmo (Viable Values, sem tradução para o português), ser moral por um padrão racional significa conquistar uma vida para viver e ser feliz por isso – a vida se torna mais alegre porque não existe luta contra a realidade da natureza do homem ou da realidade em geral, alcançando uma harmonia entre ambas.

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Publicado originalmente em Applied Philosophy Online.

Traduzido por Matheus Pacini.

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[1] Parece haver alguma confusão sobre a questão das emoções, mesmo entre os estudantes do Objetivismo. As emoções não surgem por um processo de pensamento que leva em conta os fatos usando a razão, julga-os por um padrão centrado no homem, resultando em sentir uma emoção. Se fosse assim, seguir as emoções não seria um problema. No entanto, as emoções surgem devido a um processo subconsciente que toma as premissas de valor da pessoa e cria uma resposta automática com base nelas. No entanto, as premissas de valor de alguém não são automaticamente a favor da vida do homem. Geralmente, são aceitas devido ao que você aprende como certo ou errado, ao que absorve da cultura em geral ou às premissas de valor que descobre sozinho. O problema é que, sem um padrão racional explícito adequado, as emoções surgem devido a uma confusão de premissas de valor conflitantes. Algumas dessas premissas aceitas subconscientemente podem ser favoráveis à sua vida – você fica feliz por conseguir um novo emprego que ama – mas muitas delas serão antivida – seu padre o convenceu a não se casar com aquela garota que gosta de sexo e aproveitar a própria vida, e você fica feliz com esse conselho. De forma semelhante, é possível aceitar a ideia de que geeks são bobos e costumam ser ridículos em público por causa das séries de TV modernas e da pressão dos colegas do ensino médio, embora isso amorteça seu entusiasmo em descobrir as coisas por si mesmo e em rejeitar a razão como guia para uma vida feliz, sentindo-se bem por isso o tempo todo. É sobre o que se refere às emoções, a aceitar as emoções como guia, que Ayn Rand advertiu que devemos verificar as premissas para descobrir se elas são favoráveis à vida ou contra ela. É um conselho muito sábio, que deve ser levado a sério, como forma de viver alegremente a própria vida como o propósito adequado para alcançar a felicidade e o sucesso.

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