Enfrentando a crise com filosofia

Hoje, o problema do mundo não é, essencialmente, econômico, mas sim, moral.

Há poucos anos, foi a Grécia, a Espanha e a Itália. Hoje, Venezuela e Brasil estão em séries dificuldades econômicas.

Ontem, foi a redução da nota da dívida. Hoje, pode ser a queda da bolsa. Amanhã, será a violência social.

Nossos políticos não veem perspectiva para o fim da crise porque não sabem para onde olhar. Ou, mais exatamente, não querem olhar, pois se olhassem e agissem de acordo, o problema se resolveria.

Parece um filme de terror. São milhões de reféns de uma terrível crise financeira e social, um monstro que segue sua marcha destrutiva, ameaçando um desastre econômico de proporções inimagináveis. Incrivelmente, ninguém parece realmente saber o porquê de estarmos nessa situação e, menos ainda, como sair dela.

Aqueles que “fingem” saber das coisas, os políticos, dedicam-se a dar tiros no escuro, brincando de controlar a economia via manipulação de impostos, subsídios, favores e decretos, rezando para que suas previsões otimistas se cumpram algum dia; eles estão, por assim dizer, organizando as cadeiras no convés do Titanic, enquanto esse afunda. Não importa que seja o FED, o BCE, o FMI, o G-20 e, muito menos, quais acordos proponham para “combater a crise”, ou mesmo que prometam que, dessa vez, será uma solução “definitiva”: eles não sabem a causa da crise e, portanto, não podem propor soluções.

O resto da população – o cidadão comum – tem pouca ideia de como vão as coisas. Confia cada vez menos nos políticos, e só quer que esses parem de falar e façam “algo” de uma vez – “algo” que não sabe o que é.

Para sair da crise, é preciso entender as suas causas. Felizmente, há vozes denunciando corretamente e sem medo a sua causa mais próxima: o socialismo, sob a forma do “estado de bem-estar”, ou seja, a instituição de roubo legalizado por parte do governo, que dá aval à intromissão do Estado na economia, criando desajustes na estrutura produtiva e as recessões consequentes.

Mas há uma questão mais profunda: “por que chegamos ao socialismo?” Como justificamos um sistema social que outorga ao Estado o poder para restringir as liberdades individuais, e que conduz a tais desastres econômicos? Para essas perguntas, a economia não tem resposta; é necessário recorrer à filosofia. Diz Ayn Rand, a filósofa mais influente do século XX, e autora de A Revolta de Atlas e A Nascente: “a economia é valiosa como complemento à filosofia; mas, igual que um corpo sem mente, ela é inútil e impossível se desvinculada da filosofia.”

O problema do mundo não é, essencialmente, econômico, mas sim, moral. A causa próxima, porém secundária, da crise foi o massivo intervencionismo governamental em todo o mundo. A causa primária, por trás do intervencionismo e, por conseguinte, da crise, foi a aceitação de uma moralidade destrutiva por parte das pessoas: a moralidade do altruísmo, o preceito de que o homem não tem direito a viver por si mesmo, senão que deve sacrificar-se pelos outros, para o bem-comum: que você é o guardião de seu irmão; que é o papel do Estado assegurar que você contribuirá com sua parte, recolhendo seus bens e sua liberdade em qualquer momento que o Estado julgar oportuno, por meio da coerção (força).

Todo sistema social deve ser definido e avaliado à luz de uma filosofia especifica. Uma filosofia baseada no misticismo e no altruísmo nos leva ao socialismo, ao coletivismo – aos desastres que estamos vivendo hoje. Uma filosofia baseada na razão e no individualismo nos leva ao capitalismo – sistema baseado nos direitos individuais, no livre comércio – e ao progresso.

Mas, o que fazer agora? Como enfrentar, na prática, essa situação, antes que ela leve À quebra definitiva? Da única forma possível: com filosofia.

“Quando um homem, uma empresa ou uma sociedade inteira estão próximos à falência, há dois caminhos possíveis a seguir: negar a realidade da situação, atuar de forma cega e frenética, tendo em vista só o calor do momento, isto é, não se atrever a ver além, desejar que ninguém diga a verdade, mas esperando desesperadamente que algo, de alguma maneira, o salve – ou identificar a situação, revisar as premissas, descobrir ativos ocultos e começar a reconstrução”.

Essa é a receita racional para lidar com a crise:

  1. Identifique a situação: entenda o que realmente aconteceu, aceite a realidade. A causa dos desequilíbrios econômicos não foram especuladores nem empresários, senão a crescente intervenção estatal em escala mundial – as taxas de juros artificialmente baixos, as políticas populistas de crédito e emprego, o gasto público arbitrário e ilimitado. Reconheça que o Estado nada produz, e que tentar forçar as pessoas a produzirem – por decreto, como estão fazendo os políticos hoje em dia – é como tentar fazer chover mediante rezas ou ameaças.
  2. Revise suas premissas: esse é a mudança principal, a mais importante e a mais difícil. É imprescindível mudar as premissas morais nas quais se baseia o nosso sistema social. É fundamental reconhecer que o paternalismo estatal é injusto; que cada indivíduo é um fim em si mesmo, não um meio para os fins dos outros; que a “necessidade” não confere direitos a quem a tem, nem obrigações aos outros; que o papel do governo não é iniciar a força contra cidadãos indefesos, senão única e exclusivamente proteger os direitos individuais; que o altruísmo é mau e é a raiz da crise; que o bom, o racional, o que permite ao homem sobreviver e fazer com que a sociedade em que vive prospere é a liberdade para buscar seu próprio interesse pessoal.
  3. Descubra seus ativos ocultos: qualquer país do ocidente tem ativos ocultos, ocultos por que as barreiras políticas não permitem que venham à tona e sejam utilizados adequadamente. Mais que recursos naturais, é a mente do cidadão, as mentes criativas que, se lhes fossem permitidas funcionar, gerariam riqueza, emprego para todos e uma era de prosperidade nunca vista antes; Temos que liberar esses ativos. Como demonstra a história, quanto mais livre é um país, mais ele progride, independentemente do que façam os seus vizinhos.
  4. Comece a reconstruir: Começar a reconstruir: a reconstrução terá de consistir em redução de impostos, eliminação dos entraves ao comércio e à indústria, diminuição drástica do gasto público e fim dos subsídios; será um projeto delicado a longo prazo que deverá ser implementado paulatinamente, mas com objetivo final claro desde o princípio: a separação absoluta do Estado da economia – da mesma forma e pelas mesmas razões que hoje desfrutamos da separação do Estado e da Igreja.

A realidade é o que é. As opções são claras. Tomar a decisão correta e atuar em consequência dela exigirá integridade, coragem e compromisso absoluto com a realidade e a razão. A inércia cultural é muito forte, mas a decisão de sair da crise – e o futuro que nos espera – depende de cada um de nós.

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Traduzido por Matheus Pacini

Publicado originalmente em Objetivismo.org

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