Duas visões de Ocidente

Eu sou fã do Ocidente. Assim como muitos objetivistas, celebro as conquistas de Cristóvão Colombo, venero o compromisso do Ocidente com a liberdade de expressão, condeno os efeitos do multiculturalismo e quero defender a civilização ocidental da ameaça do totalitarismo islâmico. No ano passado, foi possível ver a sinistra ascensão da direita alternativa (alt-right) e seu posicionamento nacionalista. Os seus membros se definem como defensores da tradição e da cultura ocidentais. “Sou o último filho do ocidente”, afirma o personagem de uma animação pró-direita alternativa. Para muitos, a admiração objetivista pela cultura ocidental assemelha-se à defesa do Ocidente por essas pessoas. Do ponto de vista histórico, todavia, os ocidentais foram motivados por uma mistura de ideias e valores que mudaram ao longo do tempo. Nessa questão, eu diferencio as ideias e os valores prezados pelos objetivistas daqueles reverenciadas pela direita alternativa.

O ideal ocidental da direita alternativa pode ser descrito em três palavras: tradição, raça e religião. Como movimento, ele venera o fervor religioso, a lealdade ao coletivo, a homogeneidade racial e as hierarquias restritivas características da Idade Média: a visão da população europeia unida em guerra contra estrangeiros de raças e religiões diferentes o anima. As Cruzadas ocupam um lugar especial na mente de muitos de seus membros, pois eles acreditam que tal conflito representa uma luta que foi, ao mesmo tempo, racial e religiosa. Não é à toa que memes celebrando cavaleiros das cruzadas com o slogan “Deus quer isso” aparecem em muitas páginas da direita alternativa. Em suma, a tradição ocidental que eles promovem é a da era feudal pré-Iluminismo.

É claro que os membros desse movimento ignoram o Iluminismo – um dos melhores períodos da história do Ocidente – afinal, ele destruiu as hierarquias que tanto admiram. E, de fato, há um grande contraste entre o Ocidente pós-iluminista e o Ocidente da Idade Média. Em suas bases, o Iluminismo reconheceu a capacidade do homem de pensar por si próprio e buscou reordenar a sociedade de maneira racional. Como consequência, limitou o poder das hierarquias do Estado e da Igreja sobre os indivíduos. Os proponentes do Iluminismo adotaram a aplicação universal da razão para alcançar padrões de moralidade, verdades científicas e sistemas políticos reais e benéficos para toda a humanidade. O resultado foi um período em que a perseguição religiosa diminuiu e o progresso no conhecimento e na ciência humana levaram a descobertas tecnológicas que proporcionaram qualidade de vida às pessoas. Os fundadores dos Estados Unidos beberam da fonte iluminista – e os objetivistas, como eu, admiram os princípios que estão no cerne do Iluminismo.

Embora esteja claro que a direita alternativa venera um período da história ocidental motivado por ideias e valores que, como objetivista, rejeito, vale a pena examinar como as ideias históricas de seus membros influenciam na política que defendem hoje. Primeiro, o determinismo racial em relação à cultura é um pilar de suas crenças. Por sua visão, cultura e ideologia são produtos raciais. O estoque genético de uma população determina a visão de mundo de seus indivíduos: em que acreditarão, seus padrões morais, a natureza de sua sociedade política e todos os ornamentos de sua cultura. Como explica Sam Francis, um dos primeiros expoentes das visões agora defendidas pela direita alternativa:

A civilização que nós, como brancos, criamos na Europa e nos Estados Unidos não poderia ter se desenvolvido independentemente da genética de seus fundadores, nem há qualquer razão para acreditar que a civilidade possa ser transmitida com sucesso a um povo diferente.

 A direita alternativa acredita que as esculturas de Michelangelo não representam a expressão de seu talento único e de seu senso de vida, mas sim o reflexo da alma coletiva de seu povo. Por essa visão, um espírito coletivo ou racial é o que dá vida a todos os elementos de uma cultura. Ela afirma que todas as realizações culturais são assim, da Capela Sistina até as missões da Apollo.

Eu também aprecio muitas conquistas ocorridas no Ocidente. No entanto, a visão objetivista não se baseia no determinismo cultural para explicá-las. Elas são produtos de indivíduos (sozinhos ou em colaboração), e das escolhas que fizeram bem como das ideias em que acreditaram. E na medida em que tais realizações, como Davi de Michelangelo, nos inspiram a viver melhor ou, de fato, nos permitem viver uma vida melhor (como possibilitam os avanços da medicina, por exemplo), elas merecem nossa admiração. Mas as maiores conquistas históricas são frutos do trabalho de indivíduos que aplicaram o poder da razão para produzir algo novo e benéfico. O livre-arbítrio dos seres humanos é o que permite aos indivíduos a escolha de criar tais valores. Nenhum homem jamais teve um impulso genético instintivo para construir naves espaciais ou esculpir em mármore.

Em segundo lugar, o fato de a direita alternativa acreditar que cada raça e pessoa têm predisposição genética a certas culturas e crenças a leva a concluir que esses grupos entrarão necessariamente em conflito caso se aproximem. A política final que almejam é um estado etno – de raça homogênea onde os brancos vivam segregados de outros grupos raciais. Como Richard Spencer esclarece:

Nosso sonho é uma nova sociedade, um estado-etno que seria um ponto de encontro para todos os europeus. Seria uma nova sociedade baseada em ideias que diferem muito, por exemplo, da Declaração da Independência.

Em sua opinião, uma sociedade multirracial inevitavelmente levaria ao conflito. Jared Taylor, um pseudointelectual que é editor da publicação do American Renaissance, adverte que a diversidade é perigosa. Ele acredita que raças diferentes são incapazes de não praticar a violência entre si, uma vez que estão predispostas a viver e agir de maneiras muito distintas que, mais cedo ou mais tarde, colidirão.

Além disso, a direita alternativa acredita que a guerra é resultado necessário de uma população racialmente diversa. Esse pensamento dá origem a sua antipatia pela imigração. Para os seus membros, a migração de populações do Oriente Médio para a Europa não é problemática porque tais populações possuem ideias ruins e não valorizam direitos humanos, mas sim porque são racialmente distintas.

É possível analisar a crescente ameaça terrorista na França e concluir de forma racional que o problema reside unicamente na doutrina do Islã: mas a direita alternativa discorda. Como o Sr. Taylor deixa claro: “A verdade é que os árabes – sejam muçulmanos ou não – são incompatíveis com a França.” Esse problema, todavia, não se limita aos árabes. No mesmo artigo, Taylor aplica o mesmo princípio para os Estados Unidos, onde afirma que tumultos recentes levaram ao aumento da tensão racial. Taylor pergunta de forma retórica: “Não seria uma prova de que os negros – ao menos alguns em determinadas circunstâncias – são incompatíveis com os Estados Unidos?” Declarações como essas, carregadas de um fanatismo descarado, precisam ser esmiuçadas.

Ao contrário desse movimento, o Objetivismo promove os valores consagrados na Declaração da Independência, fornecendo uma estrutura filosófica robusta para defendê-los. O Objetivismo foca na tradição do Iluminismo, que afirma que todos os homens nascem iguais, e devem ser julgados com base em suas escolhas individuais. Ayn Rand deixou isso muito claro quando denunciou o racismo por ele rejeitar a independência do indivíduo. A celebração da mente humana pelo Objetivismo e o respeito pela produtividade independente da etnia do produtor, o leva a defender uma política imigratória unilateral. Em resumo “vida, liberdade e busca da felicidade” são para a visão iluminista, o que “tradição, religião e raça” são para seus eternos inimigos.

Portanto, que visão do Ocidente devemos reconhecer? Os defensores da cultura ocidental devem ser claros em sua resposta. Seria uma tragédia pessoal muito grave para mim se a visão do Ocidente, nascida das ideias iluministas, se perdesse no espectro de zumbis iluminados por uma tocha marchando sem pensar. Eu imagino um Ocidente em que cada homem é julgado de acordo com padrões racionais, como a capacidade de produzir valores e pensar racionalmente. Eu quero evitar a raça como um critério significativo na avaliação moral e impedir a Europa de retornar a era pré-iluminista, onde reinavam a lealdade pelo sangue e zelo religioso. Porque para o projeto do Iluminismo ter sucesso, o coletivismo e o racismo devem ser confrontados.

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Publicado originalmente em The Undercurrent.

Traduzido por Verônica Ferrari Cervi.

Revisado por Matheus Pacini.

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