Como o uso da força prejudica o funcionamento da economia?

Existem apenas duas maneiras pelas quais os homens podem lidar entre si: razão e força. A razão inclui invenções, design, empreendedorismo, finanças, empréstimos e dívidas, construção, produção, fabricação, mineração, agricultura, comércio, marketing, distribuição, vendas e contratos.

A força é quando alguém usa uma arma. Ela é utilizada para suprimir a razão da vítima aos caprichos de seu portador. Criminosos usam a força para roubar e ferir pessoas. Mas criminosos são apenas players secundários. O principal usuário da força é o governo.

A economia é o estudo das pessoas usando a razão para guiar suas atitudes, como listado acima. A força é a negação da economia. Há diversas formas de confirmar esse fato.

Como a força nega a economia?

A primeira é que a força ataca a mente. Quem age sob compulsão, sob a mira de uma arma, pelo menos parcialmente, é privado do uso da razão. Ele pode estar ciente do que pensa ser melhor, porém esse curso de ação resultará em uma bala. Então, ele considera (na maioria das vezes) a segunda melhor opção. Com frequência, quem está sob coação também sofre algum grau de paralisia mental: após longos períodos de tempo, a mente tenta fugir da área de compulsão, como uma gota de água no ferro quente.

A segunda é que a força não é criativa: é destrutiva. Enquanto as pessoas normalmente querem produzir, poupar, conservar, acumular capital e viver melhor, a força as pressiona a destruir, desperdiçar, comer a semente e empobrecer. É por isso que o uso da força é defendido por aqueles que buscam possuí-lo: fazer as pessoas agirem de forma antieconômica.

A terceira é que a força causa descoordenação econômica. Quando caem os spreads do mercado, significa aumento da coordenação. Pense na variação do preço dos ovos numa cidade próxima da fazenda, e numa cidade a 30 quilômetros de distância. Se as pessoas conseguem coordenar suas atividades de forma eficiente, não haverá grande variação de preço. Mas se você observar que o preço dos ovos na cidade for 100x maior, é provável que as pessoas estejam sendo proibidas de distribuir ovos.

Sempre que o governo faz uso da força para interferir nos mercados, ele promete resultados melhores. No entanto, normalmente ocorre o oposto. Em minha dissertação, provei que toda intervenção provoca spreads mais altos e, portanto, diminui a coordenação. O produtor de ovos ganha menos, e o consumidor da cidade paga mais. Todos perdem.

A quarta é que os efeitos consequentes geram retrocesso econômico. Os fazendeiros são arruinados, e a produção de ovos é diminuída. Os trabalhadores da cidade passam fome pela falta de ovos. Caminhões que foram comprados para distribuir ovos ficam ociosos, possivelmente abandonados para enferrujar, ou na melhor das hipóteses, utilizados para fins secundários.

A quinta é que o planejamento central proíbe o planejamento. Ao planejar, as pessoas usam a razão para estimar suas necessidades e as necessidades de seus clientes. Então, orçam recursos, mudam seus planos de ação, e tomam todas as medidas necessárias. O planejamento central ocorre quando um burocrata dita o que deve (e o que não deve) ser feito. As pessoas devem obedecer, pois o burocrata tem uma arma.

A força é a negação da economia, da mesma forma que o veneno ou o fogo destroem a vida. Pode-se estudar o efeito do fogo na pele, buscando novos tratamentos para queimaduras. Mas é possível queimar seres vivos chamando isso de “biologia”.

E não se pode forçar as pessoas a desequilibrar o equilíbrio de suas atividades produtivas, chamando isso de “economia”.

O que aconteceu com o padrão-ouro?

Isso nos leva a um artigo publicado em 16 de dezembro na revista The Economist, cujo título é “Como a economia americana se sairia sob o padrão-ouro?” De certa forma, é interessante. O mundo começou a abandonar esse padrão nas vésperas da I Guerra Mundial (1914-1918). Os Estados Unidos criaram um banco central para começar a interferir (pelo uso da força) em 1913. Em 1933, acabou o padrão-ouro internamente, preservando o resgate apenas para governos estrangeiros. E o sistema como um todo acabou em 1971.

Será que a revista propôs um argumento novo, diferente do utilizado para racionalizar a adulteração do padrão-ouro em 1913, não usado para justificar transformar o dólar numa moeda irredimível para os americanos em 1933, e não usado para afundar o mundo num regime de moedas irredimíveis em 1971?

Não exatamente.

A The Economist simplesmente declara que “seriam necessárias premissas hercúleas para o padrão-ouro superar o regime atual…”

Apesar dessa pretensão para olhar para trás até a I Guerra Mundial, a The Economist parece não conhecer o padrão-ouro no pré-guerra. Não havia FED. Entretanto, o artigo afirma alegremente que um hipotético padrão-ouro hoje, “…exigiria que o FED estipulasse taxas de juros para manter um preço fixo em dólar do ouro…”

Ack-tchu-yh-lee, não seria.

A premissa hercúlea da The Economist é que o governo sempre pressionará a economia por meio da fixação de taxas de juros. Sob essa premissa, o único debate é o método que o controlador da economia deve usar para determinar a taxa de juros.

Uma lição dos soviéticos

Economistas sabiam de algo anos antes da União Soviética provar dez milhões de vezes. Se você tentar planejar centralmente a produção de milho, as pessoas morrerão de desnutrição. Milho é um produto simples, com ciclo anual. Você só põe a semente no chão, espera chuva e sol, e colhe. Os soviéticos mataram dezenas de milhões de pessoas porque não conseguiam planejar centralmente a produção de milho.

Depois da mortandade em massa causada pelo experimento soviético de planejamento central, mesmo não economistas sabiam que o planejamento central do milho é mortal.

Ignorando essa lição da história, se não da economia, a The Economist ainda acredita que podemos planejar o crédito de forma centralizada. Crédito é muito mais complicado, e afeta a produção geral da economia. Ao contrário do milho, o ciclo do crédito não é fixado em um ano. O seu ciclo é variável, de anos a décadas.

Planejando o ouro de forma centralizada

Então eu devo dizer à The Economist que o padrão-ouro não é uma versão alternativa do esquema de fixação de preços do FED.

Não existe um preço certo do ouro – mesmo que existisse, um planejador central não saberia. O preço certo flutua livremente. E mais importante, o mecanismo de fixação de preços no livre mercado é diferente do estabelecido por um planejador central. E tem impactos diferentes na economia, que alimentam vários outros processos e decisões. Então mesmo que o FED pudesse de alguma forma adivinhar o preço do ouro em tempo real, e de alguma forma ajustar as taxas de juros em tempo real para manter esse preço, isso causaria muitos problemas em toda a economia.

A The Economist está certa em uma coisa: qualquer que seja o preço certo para definir o preço do ouro, esse processo não é o instrumento contundente de políticas de taxas de juros do FED.

As moedas irredimíveis estão falhando, como podemos ver com o colapso final de suas taxas de juros. Faz pouca diferença qual política monetária os bancos centrais tentarem adotar. Eles venceram sua guerra contra os juros. Acabou. Os juros não podem ser ressuscitados agora. Por esse motivo, o mundo deve se mover em direção a um novo padrão-ouro.

Encerro com algumas questões para a The Economist. Vocês querem se apegar às moedas fiduciárias decadentes e ao modelo de planejamento central? Ou vocês querem explorar como um vibrante livre mercado em moeda e crédito pode e deve ser?

Vocês estão interessados em economia, ou dirigismo central?

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Publicado originalmente em Monetary Metals.

Revisado por Matheus Pacini.

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