CAPITALISMO E CULTURA

Embora a cultura, de muitas formas, tenha se degenerado a um nível ainda mais inferior do que ocupava na década de 1970, houve uma melhora político-econômica desde então, tanto nos Estados Unidos, como no exterior. Isso me fez pensar: pode um movimento gradual e incremental em direção ao livre mercado levar ao laissez-faire ou a algo próximo a isso – mesmo se levar 40 ou 50 anos? Afinal, a lição de que a liberdade é prática e moral está contida em, e é reforçada por cada passo do processo incremental.

Um minuto de reflexão me fez perceber que, infelizmente, a resposta é: não.

Em primeiro lugar, as “lições” do valor da liberdade, para serem compreendidas, ainda requerem uma abordagem conceptual, isto é, uma mente que pensa em princípios. Não vejo evidência de tal mente entre os intelectuais da atualidade. Muito pelo contrário.

Além disso, o que se considera um valor depende do padrão ético e moral de cada um. O padrão de valor altruísta é, segundo meu julgamento, inabalável em nossa cultura.

Considere o seguinte experimento mental. Imagine que amanhã você acorde e, magicamente, os Estados Unidos tornou-se uma utopia laissez-faire. Mas a filosofia da cultura permaneça a mesma.

Imagine, ademais, que ninguém se recorde da situação política anterior – as pessoas pensam que os Estados Unidos sempre foi assim; o estado político-econômico de coisas foi tomado como dado.

A questão é: o que aconteceria depois?

Dentro de uma semana, alguém na mídia ou no Congresso sugeriria que instaurássemos um pequeno – quase imperceptível – tributo só aos mais ricos de modo a financiar algum projeto altruísta – digamos, um programa de reciclagem para facilitar a transição daqueles que têm de se adequar aos novos empregos “tecnológicos”. Ele argumentaria que “essas pessoas são os pobres merecedores, que só precisam de um pequeno auxílio para enfrentar os desafios de nossa geração; e o único custo é que alguns bilionários terão de comprar menos joias de diamante”. Quem objetaria? Em que base?

Em uma semana, ocorre algum desastre natural, digamos, deslizamentos na Califórnia. “A sociedade tem de ajudar”, seria o clamor. Alívio de desastre seria oferecido, retirado dos impostos.

Em duas semanas, alguém observaria que a ópera não pode sobreviver por conta própria, e precisa de subsídio governamental.

Em três semanas, o preço de algo subiria mais do que tinha até o momento (gasolina, leite, açúcar – não importa). Bem, a solução é óbvia: que o governo estabeleça um teto para tal preço.

Cada uma dessas intervenções cria seus próprios problemas, além de nos afastar do laissez-faire. Em suma, é um processo de retroalimentação. Afinal, os Estados Unidos tinha um quase laissezfaire antes da Guerra Civil. As causas intelectuais de seu abandono progressivo teriam o mesmo efeito hoje, mesmo se, de alguma forma, acordássemos na utopia política amanhã.

De certa forma, isso é o que há de errado com o libertarianismo. O libertarianismo tem como premissa a ideia de que o valor do capitalismo é autoevidente. Os libertários assumem que se as pessoas conseguissem ver o que acontece sob o laissez-faire, elas o apoiariam sem hesitação. Bem, eles não o fizeram em 1886, por que o fariam em 2006? Ou 2036?

Nós podemos melhorar um pouco politicamente, e isso não é algo a ser desprezado: cada passo na direção correta melhora a nossa vida diária e compra tempo na batalha intelectual. Mas nós não podemos sonhar com o ideal. E mesmo se pudéssemos, tal realidade não se sustentaria por um mês.

Não haverá nenhuma melhoria político-econômica real e duradoura até que princípios metafísicos, epistemológicos e morais que sustentam o capitalismo estejam firmados e compreendidos de forma concreta pelo menos por uma minoria respeitável de intelectuais.

Um valor é o que um indivíduo age para adquirir ou manter. O valor da liberdade não pode nem ser ganho nem mantido sem uma base filosófica adequada.
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Tradução de Matheus Pacini

Publicado originalmente em Capitalism Magazine

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