A tentação subjetivista

É tentador ancorar crenças individuais naquilo que é subjetivo – e que não está sujeito à contestação racional. Ignorar a realidade com argumentos subjetivos pode ser motivo de aplausos nas redes sociais. Contra más decisões, explicações astrológicas. Contra maus resultados, justificativas emocionais. Contra verdades difíceis, a empatia em sua forma desvirtuada – aquela que beira à omissão e à mentira.

Mesmo quem (com razão) defende a ciência, ao ser contrariado com explicações lógicas que lhe desagradam, acaba por utilizar argumentos subjetivos para não encarar as próprias contradições. Subjetivamente, torna-se possível justificar qualquer coisa, já que o que convence não é necessariamente a lógica dos fatos, mas a articulação do orador.

Em época de eleições municipais, então, a popularidade maior costuma ser de quem fala mais manso. E é fácil. O que não puder explicar, substitua por palavras bonitas e reafirmação de direitos. E, por falta de maturidade no raciocínio, a população cairá nas falácias subjetivas ano após ano, sem perceber. Quem irá questionar o provedor, se um direito lhe convém?

A causalidade evidencia que nada se produz sem esforço, mas o discurso dos “direitos” infindáveis é mais bonito. Falar de amor e empatia combina mais com o jingle do que falar de números. Ninguém quer reconhecer que reivindicar os frutos do trabalho alheio como um “direito” é, além de uma falha lógica, uma falha moral. Ou reconhecer que falar de empatia é o jeito mais fácil de falar de qualquer outra coisa sem precisar de embasamento.

Revisitando os argumentos dos piores ditadores da História, vê-se que foi majoritariamente por meio de argumentos subjetivos e boa oratória que foi possível vender como verdade as piores mentiras. Não surpreende. Sem uma visão objetivamente crítica, os eleitores continuam à mercê de qualquer mentira rasa a ser contada de forma convincente. É por meio da tentação subjetivista que o senso analítico infantil se perpetua no eleitorado.

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Publicado originalmente em Zero Hora.

Revisado por Matheus Pacini

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