A revolta de Atlas é sobre ter orgulho de seu trabalho, e o sucesso que resulta disso

Será que pescadores gostam de O velho e o mar de Hemingway? E generais, de Guerra e paz de Tolstói? Não faço ideia, mas aposto que ninguém busca conselhos sobre pesca ou guerra nesses romances. O objetivo de um romance não é dar conselhos sobre tarefas específicas, mas apresentar uma visão do homem e seu lugar no universo.

Em A revolta de Atlas, Ayn Rand mostra uma visão do homem totalmente diferente de tudo que já foi escrito. O homem ideal de Rand é o visionário, o gênio, o produtor. Os principais representantes desse ideal são empresários, retratados como heróis, e não vilões; criadores, e não parasitas.

Essa visão inspirou (e inspira) pessoas de sucesso de todas as camadas sociais. Elas adoram o livro não porque ensina a fazer roupas de ioga ou a administrar um serviço de táxi, mas porque oferece insights profundos sobre os princípios que levam ao sucesso (ou fracasso) em qualquer área, mostrando sua aplicação prática na vida dos personagens do romance.

O livro tem recebido críticas desde sua publicação, na década de 1950. O mais frustrante para nós que amamos a obra são as críticas daqueles que não entenderam seus pontos essenciais e, portanto, atacam “espantalhos”. Para eles, Rand acreditava na supremacia do mais forte, e que o valor de um homem é medido por quanto dinheiro tem em sua carteira. Escrevendo para o Business Insider, Max Nisen faz exatamente isso, porém, acrescenta algo. Em “‘Atlas Shrugged’ is Full of Terrible Business Advice, Nisen critica o livro por não ser uma versão melhorada de Sete hábitos de pessoas altamente eficazes (de Stephen Covey).

Obviamente, A revolta de Atlas não é um manual de administração. No entanto, é repleto de conselhos poderosos, caso você se disponha a entender o que Rand quis dizer. Seguem algumas das principais lições que tornam esse romance o favorito de tantas pessoas produtivas e bem-sucedidas.

Tenha orgulho do seu sucesso

Como muitos críticos de A revolta de Atlas, Nisen afirma que Rand deixou transparecer a ideia de que pessoas de sucesso são inerentemente superiores aos outros. Mas quem leu o romance sabe que existem personagens nobres que alcançaram sucesso financeiro relativamente modesto: Eddie Willers, amigo e aliado da magnata das ferrovias Dagny Taggart; Gwen Ives, secretária de confiança do industrialista Hank Rearden; Cherryl Brooks, balconista que se casa tragicamente com um vilão por pensar que é um herói; Jeff Allen, mendigo convencido que se esconde num trem da Taggart Transcontinental e é contratado por Dagny; ou mesmo Ama de Leite, jovem burocrata designado para monitorar a Metalúrgica Rearden que, no final, se torna aliado de Hank Rearden. Os heróis do romance não menosprezam esses personagens. Pelo contrário, os tratam como amigos e aliados. Claramente, Rand reconhece que o caráter moral advém das escolhas dos indivíduos, e não de sua riqueza ou status.

Portanto, Rand não condena ninguém por não ser rico e bem-sucedido; apenas condena os que desprezam quem é rico e bem-sucedido. “Sabe o que caracteriza o medíocre?”, diz um de seus personagens, “É o ressentimento dirigido às realizações dos outros”. Boa parte do romance mostra exatamente como o ressentimento pelas conquistas/realizações — que chamou de “ódio ao bom por ser bom” — está destruindo a sociedade.

Ela estava certa? Bem, Barack Obama acha que “você não construiu isso”. Ouvimos diariamente que devemos desprezar e taxar a riqueza do “1%”. Há muito ressentimento à nossa volta. Em 1957, ano da publicação de A revolta de Atlas, Rand já tinha notado isso e sabia que ele só prevaleceria caso o “bem-sucedido” se sentisse culpado por suas realizações. A resposta de Rand foi clara: orgulhe-se de seu sucesso e jamais se desculpe por isso.

Busque sua própria felicidade e conquiste-a

Outra crítica comum ao romance — que Nisen repete — é que a única motivação de seus personagens é o dinheiro. Essa é uma afirmação curiosa sobre um romance repleto de personagens que amam seu trabalho e trabalham muito para conquistar mais, muitas vezes a um alto custo. Hank Rearden gasta dez anos para criar uma nova liga metálica. Dagny abre mão de um cargo estável na Taggart Transcontinental para desenvolver uma nova ferrovia, a linha John Galt. O dinheiro é importante para esses personagens? Sim, é claro, mas ganhar dinheiro não é seu principal objetivo. Para Rand, o dinheiro não é um fim em si mesmo, apenas um meio. O verdadeiro fim — o objetivo desse trabalho duro — é alcançar a felicidade. E Rand acredita que isso é possível. Como diz John Galt: “O mundo que vocês desejavam pode ser conquistado: ele existe, é real, é possível, é seu.”

O dinheiro é o fruto da virtude

Falando de dinheiro, os críticos se equivocam sobre a visão de Rand sobre ele. No romance, Francisco d’Anconia, magnata do cobre, responde a acusação de que o dinheiro é a raiz de todo mal. Nisen escolhe a dedo um parágrafo em que d’Anconia afirma que o ouro é uma forma objetiva de dinheiro porque, diferentemente do papel-moeda, não pode ser manipulado pelo governo. Nisen cita alguns artigos que supostamente mostram que o padrão-ouro é ruim, e não bom. E cita até gráficos! Recomenda que os leitores assistam a um vídeo de Ben Bernanke, ex-presidente do Banco Central dos EUA, dizendo a mesma coisa.

Claro, se você se interessa por debates sobre o padrão-ouro, fique à vontade para assistir (na íntegra, em inglês) o ex-chefe de manipulação da moeda americana explicando brevemente por que o governo deve manipular a oferta monetária. Depois disso, você poderá ler as centenas de livros e artigos sobre política monetária das últimas oito décadas. Ayn Rand não tentou abordar questões monetárias em A revolta de Atlas. Não há gráficos no romance.

Em vez disso, Rand foca em questões fundamentais sobre o dinheiro, assim como foca em questões fundamentais em todos os outros temas. Ela pergunta: o que é o dinheiro e que papel desempenha em nossas vidas? Rand afirma que ele não é a raiz de todo mal, mas sim o resultado das ideias e trabalho duro que nos sustentam. O dinheiro, como Rand diz, “é criado pela melhor força que há dentro de você, sua chave mestra que lhe permite trocar seu esforço pelo dos melhores homens que há.” Se você valoriza sua mente, seu trabalho e sua vida, Rand conclui: você valorizará o dinheiro. E se o governo pode controlar e desvalorizar nosso dinheiro, então o governo pode controlar e desvalorizar nossas vidas.

Você já ouviu um economista dizer isso?

Negociar é uma virtude; o sacrifício, não

Nisen diz que os empresários de A revolta de Atlas desdenham seus clientes já que, em uma das cenas, Hank Rearden diz que prefere destruir seu metal a vendê-lo à força. Mas o argumento de Rand é que há uma grande diferença entre negociar, que é uma virtude, e se sacrificar, que é algo ruim. De fato, os heróis do romance tratam seus clientes de verdade — aqueles que querem negociar com eles, em vez de roubá-los — com grande respeito. Rearden, por exemplo, passa grande parte do romance descobrindo como produzir o suficiente de seu metal para satisfazer os clientes que ficam cada vez mais desesperados pelo material à medida que a economia colapsa. Mas um dos principais pontos do romance é que ninguém deve trabalhar para sua própria destruição. Hoje, vemos cada vez mais pedidos para que empresários sacrifiquem suas riquezas. Esse é um bom “conselho” de negócios?

O governo é um bem necessário

Por fim, Rand não encara o governo como um “inimigo direto”, como afirmam Nisen e outros críticos, mas como uma instituição essencial que protege os direitos dos quais indivíduos e empresas dependem. É claro, Rand ilustra o mal de um governo que se torna violador e não protetor de direitos. Se você acha que ela estava errada, olhe para nossa atual situação. Nosso governo em constante expansão é uma solução ou um problema para nossas aflições atuais?

O ponto principal é que A revolta de Atlas não é um tratado econômico ou um manual de administração, mas sim um genial romance sobre ideias que desafia o pensamento convencional em todas as questões importantes da vida — não apenas dinheiro, mas também trabalho, família, política e até sexo. Nele, há ótimos conselhos, mas não o tipo de conselho desejado por críticos como Nisen.

Mas se quiser entender melhor, aconselho-o a ler a obra.

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Publicado originalmente em Forbes.

Traduzido por Gabriel Poersch.

Revisado por Matheus Pacini.

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