“A preocupação do criador é a conquista da natureza. A preocupação do parasita é a conquista dos homens.”

Em seu discurso culminante no tribunal, Howard Roark afirma: “A preocupação do criador é a conquista da natureza. A preocupação do parasita é a conquista dos homens.” Explique como essa citação se relaciona com o tema conforme dramatizado pelos personagens de Howard Roark, Peter Keating e Ellsworth Toohey.

Para alguns, a ideia de conquistar a natureza pode evocar uma sensação de destruição e arrogância humana. Com muita frequência, a natureza é defendida como um milagre divino do qual não se pode, nem se deve desfrutar. Ironicamente, ter uma postura humilde significa não fazer o esforço necessário para entender a lei da natureza, o que leva as pessoas a distorcerem a forma como lidam com a natureza devido à sua ignorância e evasão da realidade. Por outro lado, quem conhece bem a filosofia de Ayn Rand entenderia que a conquista da natureza não envolve rebelar-se contra ela. Em vez disso, significa honrar as leis da natureza, usar os elementos da natureza para promover a vida do homem e melhorar a natureza – essas são as preocupações de um criador. Ao longo de A nascente, Rand dá forma à sua filosofia, permitindo ao leitor experimentar um mundo onde suas ideias são plenamente realizadas.

Como uma pessoa produtiva vê a natureza é efetivamente captado na cena de abertura do romance. Roark é expulso da faculdade por transgredir a “tradição sagrada” (23) e projetar edifícios segundo suas próprias ideias. Por um breve instante, ele considera o princípio que guia o reitor e as adversidades futuras, mas, consciente da natureza ao seu redor, julga que essas preocupações artificiais têm pouca relevância para sua vida. No topo do penhasco, sozinho e nu, ele ri. Ele olha para baixo e vê a natureza como um recurso essencial para sua busca criativa, cujas obras preencherão sua necessidade espiritual de concretizar seus valores. Ele vê a natureza “esperando para ser partida, rachada, fragmentada, renovada; esperando a forma que suas mãos vão lhe dar” (16).

A indiferença de Roark às práticas sociais é tão profunda ao longo do livro que seus comportamentos são tão surpreendentes quanto satisfatórios. Uma qualidade que o distingue dos demais personagens é sua capacidade de lidar diretamente com a natureza. Para ele, a natureza não é transcendental nem insondável, mas parte da realidade que simplesmente existe e deve ser conquistada. A natureza é um dado metafisico, a totalidade da existência que se comporta de acordo com sua identidade factual. Roark mostra perfeita indiferença porque seu conhecimento e compreensão do mundo vêm diretamente de suas observações da natureza. Como ele se dedica às suas convicções para entender o mundo como ele é e aceitar a lei natural irrevogável, encara pequenas surpresas enquanto vive. Como arquiteto inovador, está focado em trabalhar com a natureza enquanto adere às suas leis para criar uma nova combinação de elementos naturais e superar a si mesmo.

Roark também se compromete com a natureza de seu ego. Enfrentar a natureza sozinho é sua única forma de derivar a verdade. Pensar de forma independente, formar valores e agir com base neles é sua forma de viver. Como afirma em seu discurso, a mente é a única ferramenta de sobrevivência do homem. Os animais dependem de atributos físicos para atender às suas necessidades, mas somente através de “um processo de pensamento” (679) um homem pode cultivar sua própria comida, usar o fogo, inventar o automóvel e buscar realizações criativas para prosperar na Terra. Mas a mente é individual, pois “não existe um cérebro coletivo” (679), logo cada homem deve viver de forma autônoma para seu trabalho e sua própria sobrevivência. Assim, sob nenhuma circunstância Roark sacrifica sua mente, nem mesmo quando se sente pressionado a comprometer seu projeto para satisfazer seus clientes no caso da comissão do Manhattan Bank. Seus projetos são seus princípios, que são como sua mente escolheu compreender a existência. Então, como ele é a sua mente, ele é seus edifícios. Para Roark, então, comprometer seu trabalho equivale a vender sua alma, uma parte essencial de sua existência. Fechar seu escritório certamente é preocupante, mas construir um prédio morto e corrupto (196) representa uma ameaça direta ao seu ser. Mesmo uma pequena alteração na fachada seria um ato de autossacrifício. Nesse sentido, Roark é um homem egoísta que vive de acordo com sua natureza, impulsionado apenas por seu próprio bem-estar e vida. Como criador, ele coloca seus próprios valores acima de todas as coisas e se orgulha de seu egoísmo.

Roark afirma que existem duas formas de sobrevivência: “pelo trabalho independente de sua própria mente ou como um parasita alimentado pela mente dos outros” (679). Roark é o criador que olha para a natureza, usa seu juízo independente para descobrir a verdade e aplica sua razão à natureza – só assim ele pode criar. Confiando em si mesmo e somente em si mesmo, produz estruturas que só podem existir por meio de sua mente e mãos. Assim, pode-se dizer que ele cria vida ao construir edifícios. Ele é o único personagem que conquista a natureza e que “vive” e não apenas “existe”. Ele triunfa porque vive como um homem deve viver em todos os aspectos. Os valores que incorpora são tudo o que um homem precisa para seguir a vida.

Peter Keating também é arquiteto, mas não um criador. Ele é o que Roark chama de “parasita” que entende a realidade através da mente dos outros e toma emprestado o trabalho deles. Conquistar os homens é a sua principal preocupação porque ele depende deles para sobreviver. Os fatos não importam; apenas o que os outros pensam é importante. Embora seja um arquiteto medíocre, ele se dedica a convencer os outros de sua grandeza. Planeja eliminar seus rivais dentro da empresa e viola os direitos dos outros para avançar em sua carreira. Para atender às expectativas sociais, ele copia os desenhos de Roark e atende ao gosto popular, mas seu sentimento vago de vergonha fica em segundo plano, pois o que importa é obter aprovação social. Ele obtém “autoestima” não por meio de seu trabalho, mas por meio de validação externa – daqueles que ele manipula para aceitar suas mentiras e afirmar sua grandeza. Essa é a maneira de sobreviver como um parasita que não tem senso de realidade e existe através dos outros.

O destino inevitável de um parasita é o de viver com medo constante de enfrentar a rejeição de seus hospedeiros. Impulsionado por uma sensação de insegurança, Keating se compromete com a autodestruição em tentativas frenéticas de se agarrar àquilo que o sustenta. Voluntariamente coloca o bem-estar dos outros acima do dele, permitindo que o desejo deles controle sua vida. Embora odeie arquitetura, satisfaz sua mãe tornando-se arquiteto. Da mesma forma, ele se casa com Dominique pela aprovação de Toohey. Embora externamente Keating alcance sucesso após sucesso, é impossível encontrar alegria em sua vida. Esse é um resultado natural, pois nada é real sobre ele: seu trabalho, sua felicidade, seu próprio ser são todas ilusões. Seus medos se concretizam quando o público deixa de reconhecê-lo e Toohey não escreve mais sobre ele. O choque de realidade vem quando ele nota que “o favor público deixou de ser um reconhecimento de mérito para se tornar um sinal de vergonha” (563). Após o caso Cortland, quando é exposto como uma fraude, sua vida desmorona porque ele sacrificou acriticamente tudo o que amava por uma vitória vazia e sem sentido. Keating encarna um parasita em busca de status que foca na morte, não na vida.

O parasita assume uma forma mais dramática em Ellsworth Toohey, um obcecado pelo poder, o mal em pessoa e antítese de Roark. Consciente de sua incompetência para prosperar, compensa sua fraqueza com seu carisma e linguagem manipuladora. Para atingir seu objetivo, usa seu conhecimento de coletivismo para controlar as massas “para pensar – juntas. Unir, concordar, obedecer… servir, sacrificar” (636). Instrui as pessoas a viverem pelos outros e renunciar aos seus valores e desejos. Promove a humildade, igualando excelência com arrogância e felicidade com culpa (636). Consequentemente, Toohey pode enaltecer a mediocridade, consagrar os de “menor-valor”, elevando-os acima de parasitas semelhantes a Keating.

Aparentemente, Toohey pode parecer uma figura poderosa que exerce grande influência sobre homens. De fato, ele esvazia a alma das pessoas com tanta eficácia que elas se tornam impotentes e dependentes dele. Mesmo depois que Toohey revela seus motivos malignos e tudo o que ele tem feito a Keating, este implora a ele: “Não vá, Ellsworth” (640). Ao apelo, Toohey friamente responde: “Você não pode me deixar e nunca poderá me deixar” (640). O controle mental, no entanto, não pode mudar a realidade. Um personagem do outro romance de Rand, A revolta de Atlas, compreende esse ponto: “Existência existe; a realidade não pode ser eliminada: ela eliminará o eliminador”. Isso explica por que Toohey exerce um impacto apenas superficial em indivíduos verdadeiramente talentosos como Roark. Apesar dos intrincados esquemas de Toohey, em nenhum momento a vida de Roark é fundamentalmente afetada. Toohey pode tirar os clientes de Roark, mas não pode destruir sua grandeza, pois Roark não precisa de clientes para viver de acordo com seu mais alto potencial. Nem mesmo o fracasso de Toohey importa para Roark, pois Toohey não existe na mente de Roark.

Não importa o resultado das manobras de Toohey, Roark “já venceu” (668). Em contrapartida, o bem-estar de Toohey depende inteiramente de Roark. Quando Roark vence o caso Cortlandt, as ilusões que Toohey dedicou a sua vida transmitindo são desmontadas instantaneamente. Deixado de lado, ele se esforça para se reerguer, mas sabe que não tem chance de vencer num mundo que reconhece a justiça. O mal é impotente porque mentiras e ciúme não podem derrotar a natureza e a razão.

Embora Rand tenha escrito A nascente após testemunhar o regime bolchevique, suas ideias pertencem a todos os que vivem na sociedade moderna. O livro deixa claro que o coletivismo existe não apenas em um futuro distópico ou sociedade socialista, mas também no mundo moderno, em que o igualitarismo é um conceito popular. Roark é um herói da vida real – não um super-herói que se sacrifica pelos outros – que simplesmente vive a vida que todos os humanos têm naturalmente. As pessoas, tentando “prosperar”, muitas vezes negligenciam o que sacrificam, mas ao criar um modelo personificado de seus ideais, Rand desperta o leitor para o verdadeiro sentido da vida.

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Publicado originalmente em Ayn Rand Institute.

Traduzido por Hellen Rose.

Revisado por Matheus Pacini.

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