A cegueira ideológica impede a construção da riqueza

Recursos financeiros são finitos. O dinheiro é apenas a representação de um meio de troca que facilita o funcionamento da economia. Logo, não há como desenvolver um mercado interno através da impressão desenfreada de moeda, pois isso fará apenas com que a moeda em si – como qualquer outra mercadoria sujeita à lei da oferta e demanda -, perca seu valor. Por mais que professores heterodoxos digam que a inflação é um reflexo normal de períodos de crescimento econômico, Mises já desmarcarou tal falácia ao definir com perfeição as causas da inflação: ela é a impressão de moeda por parte do governo.

Como o dinheiro é finito, como é possível desenvolver um país pobre e pouco produtivo? Como fazer com que um país que, hoje, tem pouca participação no mercado internacional saia dessa situação de pobreza? Simples: através da atração de capital internacional de centros já desenvolvidos. E isso nada tem a ver com “submeter-se ao imperialismo”, afinal, é uma via de mão dupla: por um lado, o capital internacional migra algumas de suas atividades para centros mais atrativos, enquanto, por outro, o país subdesenvolvido precisa de capital para realizar os investimentos tão necessários para o seu desenvolvimento.

Enquanto o Brasil optou pelo desenvolvimentismo cepalino do Estado grande, protecionismo à indústria nacional e privilégios ao mercado interno, países que na década de 1950 tinham renda per capita similares às nossas optaram por outras alternativas. A Coréia do Sul, por exemplo, buscou os mercados internacionais, através de sua abertura comercial, fazendo com que o capital – principalmente, americano e japonês -, migrasse para lá, fomentando um processo de desenvolvimento baseado, primeiro, em processos de produção mais simples, partindo, posteriormente, para indústrias mais sofisticadas.

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E por que esse capital migrou para a Coréia do Sul? Porque, além do maior respeito à propriedade privada, os seus fatores de produção permitiam retornos maiores para os capitalistas; ao mesmo tempo, a população sul-coreana que antes morria de fome no campo teve a chance de um emprego estável e de pagamentos contínuos. Não foram as barreiras alfandegárias, as leis confusas e o mercado protegido que incentivaram a migração de capital, mas as oportunidades de alta rentabilidade para o capital investido. Graças a elas, a Coréia do Sul se desenvolveu junto com esses empreendimentos.

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De fato, a abertura ao capital estrangeiro é uma opção importante para a captação de recursos quando esses não podem ser obtidos no mercado interno (e, não, imprimir moeda  NÃO é uma delas): a) Investimento Estrangeiro Direto, através da compra de participações e realização de aportes em empresas consolidadas no país; b) captação via empréstimos internacionais nos maiores centros financeiros do globo. Apesar de ambas aparentemente levarem a uma mesma consequência, que é o aumento da capacidade interna de investimento, existe uma diferença substancial entre elas.

Enquanto nos Investimentos Diretos quem está à mercê de problemas cambiais são os investidores internacionais, que teriam sua rentabilidade em dólar reduzida em caso de uma valorização do real, no caso dos empréstimos, quem arca com esse alto custo de oportunidade são as empresas locais. Como exemplo, imaginemos uma empresa que tenha captado 100 milhões de dólares em 2011 a um câmbio de R$ 1,80 por dólar, ou seja, falamos de um capital total de R$ 180 milhões. Hoje, esse mesmo empréstimo totalizaria R$ 380 milhões para a empresa, visto que esta teria sido com a variação cambial a qual o empréstimo está submetido. Na tabela abaixo podemos ver a modificação do cenário e como este impede em muito o bom resultado para as companhias.Nesse caso, conforme exposto acima, podemos verificar que uma empresa que realizasse um investimento de R$1.800.000,00 na contratação do empréstimo, a partir da variação cambial agora deveria realizar pagamentos (entre amortização e juros) de quase R$650.000,00, ou seja, quase 36% ao ano do valor inicialmente captado. Esse é o efeito do nacionalismo populista no balanço das companhias: como vivemos em um país instável, com uma moeda fraca, os empresários muitas vezes sucumbem às modificações nesses cenários macroeconômicos, comprometendo o resultado dos seus empreendimentos.

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A fim de simplificar o nosso exemplo, desconsideramos aqui custos e ganhos com a realização de hedge cambial. Entretanto, mesmo que o hedge fosse bem-sucedido, esse gera dispêndios para a empresa. Não seria muito mais fácil facilitar e simplificar a entrada de grupos internacionais e do investimento estrangeiro para aumentar a capacidade de investimentos da economia local, já que temos uma baixa taxa de poupança interna? O Brasil tem uma taxa de investimentos próxima a 20% do produto interno, baixíssima para um país que tem grandes problemas de infraestrutura e que está na busca pelo desenvolvimento.

Os setores que mais sofrem com esse tipo de situação são os que contam com prazos maiores para maturação dos projetos (inclusive, de retorno), ou seja, os de infraestrutura e os da indústria. Como esses necessitam de um investimento inicial muito alto, isto é, envolvem alto risco antes de sua operacionalização, esse viés nacionalista ideológico quanto à entrada de investimentos contribui para que o país tenha dificuldades em atrair capital para superar os gargalos infraestruturais aos quais está submetido. Não por coincidência, mas por causa e efeito, este é um dos grandes pontos que atrapalham o investimento nesses segmentos. Quem tomaria um empréstimo internacional com prazo de pagamento de vinte anos para a construção de uma rodovia se este estará à mercê da variação cambial que, como exposto acima, pode dificultar a obtenção de bons resultados e até mesmo minar o sucesso do empreendimento?

Além do que, a entrada de investimento impõe também maior disciplina na gestão das companhias aqui sediadas, justamente porque se aumenta o nível dos parâmetros de resultado, o que auxilia na formação de um mercado de capitais mais sadio e que gera maior progresso econômico através de bons investimentos.

Como o Brasil tem uma baixa taxa de poupança interna, ele deve complementá-la com a atração de investimentos de fora. Se há algo que contribui para que o nosso país tenha uma taxa de investimento tão baixa, é, justamente essa aversão ao capital internacional, visto que a nossa capacidade de atrair recursos é amplamente bloqueada pela legislação, que impedia até pouco tempo que empresas aéreas nacionais fossem controladas por estrangeiros.

Se o capital é finito e necessitamos de recursos externos para aumentar a nossa capacidade produtiva e, consequentemente, suprir a demanda por produtos e incrementar a renda das famílias, atrair capitais externos é uma política a ser amplamente incentivada. Ficar preso a chavões ideológicos e a um nacionalismo que só contribui para a nosso estado “permanente” de país em desenvolvimentoé de uma tolice sem tamanho. Enquanto os “intelectuais” vem em tudo uma conspiração internacional para “roubar” nossas riquezas, famílias carecem de emprego e de estrutura para progredirem economicamente. O que o Brasil precisa é de mais abertura econômica e progresso, e de menos ideologias que fazem apologia ao atraso.

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Revisado por Matheus Pacini.

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