Quem serão os Novos Intelectuais?

Qualquer indivíduo que estiver disposto a pensar. Todos aqueles que sabem que a vida do homem deve ser guiada pela razão e que valorizam a sua própria vida; todos aqueles que não estão dispostos a entregá-la ao culto do desespero na selva moderna de impotência cínica, ou de entregar o mundo à Idade das Trevas e ao domínio dos brutos.

A necessidade de liderança intelectual nunca foi tão grande como agora. Precisamos, hoje, erigir uma estrutura filosófica correspondente, sem a qual a prosperidade material não pode sobreviver. Já há muito abandonada, a região selvagem a ser ocupada é a filosofia, a qual se vê, hoje, tomada por ervas daninhas de doutrinas pré-históricas que se erguem mais uma vez para engolir suas ruínas. Para se sustentar uma cultura é imprescindível uma nova base filosófica. O presente estado do mundo não é a prova da impotência da filosofia – mas a prova do seu poder. Foi a filosofia quem levou os homens a esse estado – apenas a filosofia poderá tirá-los daí.

A maior necessidade hoje é de homens que enfrentem a realidade, que não temam o pensamento. Os Novos Intelectuais serão aqueles que assumirão a iniciativa e a responsabilidade de pensar, verificarão suas próprias premissas filosóficas e suas convicções, integrarão suas ideias com coerência e consistência, oferecendo, então, à nação uma visão da existência para a qual os sábios e honestos poderão se voltar.

O novo intelectual será o homem que vive à altura do sentido exato do seu título: um homem guiado pelo seu intelecto – não um zumbi guiado por sentimentos, instintos, impulsos, desejos, caprichos ou revelações.

Ele será um homem integrado, isto é: um pensador que é um homem de ação. Ele saberá que ideias divorciadas da ação efetiva são fraudulentas, e que a ação divorciada de ideias é suicida. Ele saberá que o nível conceitual de consciência – o nível da razão, do pensamento, do livre-arbítrio – é a necessidade básica da sobrevivência do homem, e sua maior virtude moral. Ele saberá que os homens precisam de filosofia para poder viver na Terra.

O Novo Intelectual será a reunião dos gêmeos que nunca deveriam ter sido separados: o intelectual e o empresário. Ele será a fusão dos melhores – os mais racionais – homens que ainda podem existir em ambos os campos. A reunião produzirá dois novos tipos: o pensador prático e o empreendedor filosófico.

Os melhores dentre os intelectuais atuais devem considerar o grande poder que está em suas mãos; mas, que nunca utilizaram ou compreenderam plenamente. Se algum deles sente-se o filho adotivo desamparado e incapacitado de uma cultura “materialista” que não lhe concede riqueza nem reconhecimento, que se recorde, então, do significado do seu título: a origem do seu poder é o seu intelecto, não os seus sentimentos, emoções ou intuições. Não foram os empresários que roubaram sua eficácia; seus colegas filósofos é que rebaixaram sua profissão ao nível de adivinhos, leitores de cartas e oráculos da selva. Que ele [o novo intelectual] se afaste dos neomísticos; que ele perceba que ideias não são uma fuga da realidade, nem um hobby de neuróticos “desconectados” que habitam torres de marfim – mas o poder mais importante e prático da existência humana. Que ele se torne um líder intelectual que assume total responsabilidade pelas consequências práticas de suas teorias.

Os melhores entre os empresários devem considerar a função da riqueza, e perceber que o poder por trás do mal inconcebível lançado hoje contra eles parte deles próprios. A riqueza, como tal, é apenas uma ferramenta; ao renunciar o intelecto, o empresário colocou sua riqueza a serviço dos seus próprios destruidores. Esses não ambicionam nacionalizar sua propriedade: eles já nacionalizaram sua mente há muito tempo. Que ele agora perceba que ação prática sem base teórica consegue o oposto dos seus objetivos, e que irresponsabilidade intelectual não é uma forma de escapar de seus inimigos. Só assim ele descobrirá a função da filosofia.

Os empresários precisam descobrir o intelecto; os intelectuais precisam descobrir a realidade. Que os intelectuais entendam a natureza e a função do livre mercado a fim de oferecer aos empresários, assim como ao público em geral, um quadro teórico inteligível referente a como lidar com os homens, a sociedade, a política, a economia. Que os empresários aprendam as questões básicas e os princípios da filosofia a fim de saber como julgar ideias, assumindo a responsabilidade pelo tipo de ideologias que escolham financiar e apoiar.

Que ambos descubram a natureza, a teoria e a história real do capitalismo; ambos os grupos são igualmente ignorantes quanto a isso. Nenhum outro assunto está encoberto por tantas distorções, equívocos, imprecisões e falsificações. Deixe-os estudar os fatos históricos e descobrir que todos os males popularmente atribuídos ao capitalismo foram causados, necessitados e tornados possíveis pelos controles do governo impostos à economia. Sempre que escutarem o capitalismo ser atacado, que eles chequem os fatos e descubram qual dos dois princípios políticos opostos – livre comércio ou controles do governo – foi responsável pelas alegadas iniquidades. Quando eles ouvirem ser dito que o capitalismo teve sua chance e falhou, que eles se lembrem de que no final o que falhou foi uma economia “mista”, que os controles foram a causa da falha, e que a maneira de salvar um país não é fazê-lo engolir um copo cheio do “puro” veneno que o está matando.

Os Novos Intelectuais devem lembrar ao mundo que a premissa básica na economia do capitalismo é o direito do homem à sua própria vida, à sua própria liberdade e à busca da sua própria felicidade – o que significa: o direito do homem de existir para o seu próprio bem, nem se sacrificando pelos outros, nem sacrificando os outros para si mesmo; e que a concretização política desse direito é uma sociedade em que os homens lidam uns com os outros como comerciantes, através de trocas voluntárias para benefício mútuo.

As premissas morais implícitas na filosofia política e na economia do capitalismo devem agora ser reconhecidas e aceitas na forma de uma filosofia moral explícita. Aquilo que está apenas implícito não está no controle consciente dos homens; pode se perder por meio de outras implicações, sem que se saiba o que se está perdendo, ou quando ou por quê. Foi a moralidade do altruísmo que corroeu as bases do capitalismo e agora o está destruindo. Capitalismo e altruísmo são incompatíveis; eles são opostos filosóficos; eles não podem coexistir no mesmo homem ou na mesma sociedade. Hoje, o conflito atingiu seu clímax final; a escolha é clara: ou uma nova moralidade de autointeresse racional, com as suas consequências sendo a liberdade, a justiça, o progresso e a felicidade do homem sobre a terra – ou a moralidade primeva do altruísmo, com as suas consequências sendo a escravidão, a força bruta, o terror estagnante e as fornalhas sacrificiais.

A crise mundial de hoje é uma crise moral – e nada menos do que uma revolução moral poderá resolvê-la. Os Novos Intelectuais devem lutar pelo capitalismo, não como uma questão “prática”, não como uma questão econômica, mas, com todo orgulho, como uma questão moral. Isso é o que o capitalismo merece, e nada menos o salvará.

Os Novos Intelectuais devem assumir a tarefa de construir uma nova cultura sob uma nova fundação moral – a cultura do produtor. Eles terão que ser radicais no sentido literal e respeitável da palavra: “radical” significa “fundamental”. Os representantes da ortodoxia intelectual, da convenção e do status quo são os coletivistas.

Aqueles que se preocupam com o futuro, que estão dispostos a uma cruzada por uma sociedade perfeita, devem se dar conta de que os novos radicais são os que lutam pelo capitalismo. Essa não é uma tarefa fácil e ela não pode ser realizada da noite para o dia. Mas os Novos Intelectuais têm uma vantagem inestimável: eles têm a realidade do seu lado.

[AYN RAND, 1961, extraído e adaptado do ensaio “For The New Intellectual”]

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Tradução de Breno Barreto.

Revisão de Matheus Pacini.

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