Quando (ajudar os outros) não ajuda: a caridade destrutiva

O que aconteceria se você doasse US$ 100 mil dólares a um mendigo saudável de longa data? Isso o ajudaria a dar a volta por cima? De repente, ele se tornaria um cidadão normal e produtivo? Bem, alguém testou essa ideia na vida real, detalhando-a no seguinte vídeo.

Como explicado no vídeo, Ted Rodrique recebeu US$ 100 mil, podendo fazer o que quisesse com o dinheiro. E não só isso: tinha a sua disposição um conselheiro financeiro. Dentro de um ano, todavia, Ted já estava falido e vivendo na rua novamente, só que, agora, com uma dívida que não tinha antes. Em resumo, a situação de Ted estava pior agora que antes dos US$ 100 mil dólares.

Então, qual foi o problema? Por que Ted não tirou proveito dessa situação? Pois ele, simplesmente, não valorizava as coisas requeridas para manter a pequena fortuna que lhe havia sido dada. Ele não valorizava trabalho duro, planejamento e disciplina, mas sim, viver o dia, guiado pelos caprichos do momento.

Tal fato nos remete a uma verdade importante sobre a natureza humana: nosso bem-estar pessoal não depende unicamente de recursos materiais, mas de um conjunto de valores espirituais – por exemplo, objetivos claros em nossa mente. Esses valores não são determinados por nossa circunstância material – por quanto dinheiro temos – mas por nossas escolhas e a forma como pensamos. Para se tornar uma pessoa independente e feliz, é preciso escolher ser o tipo de pessoa que obtém riqueza e persegue valores por si mesma. Se você não escolhe os valores adequados que lhe permitem ser independente, resta-lhe ser dependente dos outros para qualquer “riqueza” que você venha a ter ou bens que venha a consumir.

Agora, uma pergunta: se uma pessoa está com “dificuldades financeiras”, em que contexto a caridade pode lhe ser benéfica no longo prazo? Não se ela tiver valores ruins, porque apenas torrará a sua doação, voltando à estaca zero, talvez, mais endividada que antes. Pessoas com valores ruins – que não são produtivas, que não se responsabilizam por sua vida ou que desejam viver por seus caprichos – estão ocupadas cavando um buraco aonde se enterrar. Doar dinheiro a elas é como jogar um pouco de terra de volta no buraco. Mas não se preocupe: elas cavarão ainda mais fundo. Você pode doar o quanto quiser, pois elas continuarão cavando.

Doar dinheiro a tal pessoa não a ajudará, porque isso não muda os seus valores. É só um sacrifício sem sentido de sua parte. Você só está, temporariamente, insulando a pessoa das consequências fatais de suas escolhas, dando-lhe a ilusão de que pode fazer escolhas ruins impunemente. A ilusão de que outrem sempre estará aí para salvá-la de suas más escolhas reduzirá sua motivação de ser a melhor si própria.

Novamente, enfatizo que esse tipo de caridade é destrutiva. Não se trata, apenas, de um desperdício de sua vida, mas de um prejuízo à vida dela. Seria muito melhor para ela se você jogasse seu dinheiro no vaso e puxasse a descarga. (Para entender o porquê de esse tipo de caridade ser moralmente errada, recomendo a leitura do livro A Virtude do Egoísmo de Ayn Rand).

Agora, um tipo bem diferente de caridade é quando você escolhe doar a uma pessoa com valores corretos, cujos problemas financeiros advêm de circunstâncias imprevisíveis ou inevitáveis. Digamos, se ela foi assaltada ou perdeu a casa num incêndio. Nesse tipo de situação, a caridade pode, de fato, ajudá-la. Essa pessoa está comprometida com a criação de valor e a aquisição de riqueza no longo prazo, voltando a se virar sozinha. Essa pessoa usa os recursos à sua disposição para construir, não funcionando como um buraco sem fundo para os recursos criados pelos outros.

Que fique claro: não considero nenhum tipo de caridade um dever moral, seja ela benéfica ou não. Se as circunstâncias particulares de um indivíduo o proíbem de doar, ou se ele tem destinações específicas para o dinheiro, então, abster-se de doar não se constitui um ataque ao seu caráter. Qualquer doação deve ser feita com base e em proporção à importância positiva do recipiente para a vida do doador.

Ajuda internacional

Essa diferença profunda entre sacrifício prejudicial e caridade benevolente pode ser vista não só em nível pessoal, mas também em nível internacional. Alguns países africanos – como Somália, Sudão e Uganda -, bem como do Caribe e América Central – como Haiti e Nicarágua -, receberam muita ajuda internacional e caridade ao longo de muitos anos e, ainda assim, continuam pobres, com “crises humanitárias” frequentes. Por quê? Porque ali se desenvolveu o equivalente social a valores ruins – altas taxas de misticismo, tribalismo e atitudes autossacrificiais.

Tal postura, obviamente, leva as pessoas a não se considerarem responsáveis por sua própria vida, desencorajadas a perseguir seu próprio bem-estar como indivíduos. E não é só isso: leva a instituições políticas ruins que as sufocam com regulação excessiva, burocracia e corrupção governamental. Em sua maioria, essas pessoas são incapazes de sair da pobreza, e qualquer coisa que têm atribuem a Deus ou ao governo. Elas são presas fáceis de guerras tribais que matam pessoas, destroem produtividade e atrasam o progresso econômico em décadas.

Assim, esses lugares permanecem “depósitos de lixo” – servindo como buracos sem fundo onde os países ricos despejam toda a sua “compaixão”. Tudo o que a ajuda internacional faz por esses países no longo prazo é enriquecer oficiais do governo, enquanto mantém o cidadão comum cada vez mais dependente do assistencialismo para sobreviver. Ela ajuda os oficiais do governo a manter o poder e a continuar oprimindo seus cidadãos, desencorajando-os a desenvolver a mentalidade que os tiraria da pobreza: a saber, que devem ser livres para começar novos negócios, criar riqueza e melhorar sua própria vida. (Para mais detalhes sobre os efeitos prejudiciais da ajuda internacional em países ideologicamente corruptos, veja o documentário Poverty Inc, produzido pelo Acton Institute.

O oposto dessa caridade destrutiva em nível internacional se dá quando indivíduos e ONGs ajudam a aliviar o sofrimento oriundo de desastres imprevisíveis em países com instituições e valores bons. Esse tipo de ajuda foi dado, por exemplo, no terremoto e tsunami de TohoKu no Japão em 2011.

Conclusão

Seja em interações pessoais ou em questões internacionais, o sacrifício de pessoas produtivas em prol dos improdutivos por escolha não cumpre o objetivo proposto de salvar os improdutivos. Tudo o que faz é oprimir os produtivos e desencorajar os improdutivos a mudar para melhor. Pode, até mesmo, piorar a situação dos “beneficiados”. (Essa é parte da razão por que o assistencialismo é tão destrutivo: porque ele não discrimina entre aqueles com valores bons e ruins).

Se você deseja ajudar aqueles cujas escolhas e valores os levaram à pobreza e ao sofrimento, a coisa a fazer não é doar dinheiro ou bens materiais, mas sim mostrar um bom exemplo do tipo de pessoa (ou sociedade) que alcança a prosperidade e o bem-estar. E, se eles quiserem ouvi-lo, aconselhe-os a como conquistar o que você (ou sua sociedade) conquistou: desenvolver bons valores, incluindo racionalidade, planejamento de longo prazo, trabalho duro, honestidade e responsabilidade por sua própria vida. Defenda a liberdade política e a propriedade privada na sociedade.

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Traduzido por Matheus Pacini.

Publicado originalmente em Objectivism in Depth.

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