O ataque pós-moderno à individualidade

O fenômeno do pós-modernismo quer acabar com a verdadeira individualidade – objetiva, real, não ilusória – do ser concreto, com suas características intrínsecas, determinadas pelas leis da natureza, registradas por Aristóteles em seus tratados sob o nome de Metafísica, em que figuram as leis da identidade e da causalidade. “O que é, é”, já dizia Parmênides.

Surge uma nova onda de pós-modernistas, niilistas ainda mais destrutivos que seus antecessores, que rejeitam verdades absolutas como "eu sou eu" e "devo ser responsável pelo meu bem-estar" – coisas óbvias, sim – substituindo-as pela ideologia do vitimismo infinito que deseja transferir as insatisfações pessoais, que podem acometer qualquer um de tempos em tempos, para a sociedade, ou seja, para os outros.

Eles não querem apenas se transformar fisicamente no que não são: não estão apenas atrás do ideal de poder vir a ser – algo legítimo do ponto de vista individual – mas buscam algo mais.

Não, eles não querem apenas se transformar para si e a sociedade, mas querem transformar, mesmo que tenham que recorrer à coerção da lei, a consciência dos outros perante a realidade, perante suas transformações.

Eles querem transmutar o individualismo, alvo de seu desdém ou hipocrisia, em algo fake, uma construção subjetiva a ser imposta aos demais indivíduos, através da tirania das minorias que, armadas com o politicamente correto, mesmerizam a mídia ou pelos demagogos populistas que se valem do vitimismo patológico que assola essa geração perdida para prevalecer politicamente.

Eles querem destruir a civilização minando a filosofia a partir da metafísica, ramo fundamental de qualquer escola do pensamento, base para a edificação do conhecimento, do desenvolvimento científico, ético e político de uma sociedade.

Eles dizem: "sou o que eu quero ser, independentemente de eu ser outra coisa". Chegam ao absurdo de desejar – mesmo seres individuais, particulares – tratamento no plural, imposto, arbitrária e unilateralmente, ao interlocutor que, se não atender à exigência surreal, pode ser declarado um abusador ofensivo, sujeito a uma pena pecuniária ou (pasmem!) até mesmo à prisão, entre outras sanções.

Como diz Jordan Peterson, que ganhou notoriedade ao se posicionar corajosamente contra essa ditadura asquerosa e irracional, que visa suprimir a liberdade de expressão: “se você deseja impor uma imagem idealizada sua aos outros, se você deseja que os outros se dirijam a você, não pelo que você é, mas pelo que você acredita ser – para não se sentir ofendido ou abusado – então o contexto social não é o lugar mais apropriado para você estar.”

Eu acrescentaria, sem medo: “se você se acha uma aberração existencial com a qual você é o primeiro a não conseguir conviver normalmente; se você está desconfortável da maneira como você foi concebido, busque em você mesmo, psíquica ou fisicamente, aproveitando-se do progresso das ciências, em especial, da medicina, o que o fará tornar-se aquilo que você acha que deveria ser. Não há nenhum problema nisso, pelo contrário. Cada um de nós cria seus próprios propósitos para a sua vida, com o objetivo de buscar e alcançar a felicidade que todos desejam.

Mas isso não significa a aceitação compulsória dos demais quanto aos seus desejos e ações. As pessoas devem ser livres para pensar e expressar o que pensam com o objetivo de crítica – a única forma que o homem tem para atingir a verdade e seu aprimoramento.

A liberdade não cria segurança para ninguém. Pelo contrário: o propósito da liberdade é o de desafiar aquilo que nos parece equivocado ou insuficiente. É a liberdade que nos permite buscar as verdades que melhorarão nossas vidas.

Se você quer segurança e, para tal, quer impedir os outros de pensar e se expressar sobre aquilo que veem, ouvem, sentem e pensam, aí vai uma recomendação: quer segurança, quer encontrar o seu verdadeiro eu, seja esse aí que a natureza lhe deu, ou aquele no qual você pretende vir a ser, conforme o seu desejo? Procure um bom terapeuta ou um bom cirurgião.

Sinta-se livre para encontrar o seu “eu”, viva o seu individualismo, mas deixe a sociedade em paz. Cada um de nós também quer ter liberdade para viver o seu “eu”.

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Revisado por Matheus Pacini.

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